José António Teixeira vence o Prémio de Mérito Científico 2015

17-02-2015 | Pedro Costa

A UMinho distingue hoje o diretor do Centro de Engenharia Biológica, 'expert' na tecnologia alimentar e com 30 anos de carreira.




José António Couto Teixeira nasceu em Valadares, Vila Nova de Gaia há 57 anos, onde cresceu e estudou as primeiras linhas nos cadernos. Desde os 10 anos que a cidade do Porto o viu evoluir até um sólido percurso académico (VÍDEO), que haveria de chegar à UMinho numa aposta muito pessoal. Hoje é um cientista reputado da biotecnologia, nomeadamente na tecnologia alimentar, a sua área de investigação preferencial.
 
Onde estudou e cresceu?
Depois da escola primária em Valadares, onde nasci, fiz o ensino secundário todo no Alexandre Herculano, no Porto. Depois fui para a FEUP, formei-me e no dia a seguir tive logo um contrato de assistente estagiário.
 
Esta área de trabalho esteve sempre no seu horizonte?
A biotecnologia como tal, não. Nem existia o conceito. Mas gostava muito das ciências da vida, de ter animais em casa e o gosto veio daí.
 
Continua a residir no Porto. É agarrado às suas origens?
Não necessariamente. A família agarra-me. E se ela está no Porto eu estou lá. Tenho dois filhos, agora na idade de sair de casa, mas é mais a família que me tem mantido ligado à minha terra.
 
Como se sente de cada vez que se ausenta e viaja?
Eu diria que viajar é fundamental na nossa profissão e uma atividade muito aliciante. Para mim faz parte e não traz incómodo, bem pelo contrário. Abre horizontes. Em cada regresso trago mais possibilidades de fazer coisas novas e venho mais rico. Numas mais do que outras, mas mais rico.
 
Que pais mais o marcou?
Já visitei quase todo o mundo. Há países que me identifico mais por questões culturais, como o Brasil. Mas, por exemplo, a Índia marcou-me pela positiva e pela negativa, pois tem coisas fantásticas, mas também tem pormenores com os quais um ocidental e português se sente desconfortável. O mundo para mim é o campo de trabalho, mas não se esgota aí. Há anos em que passo férias em Portugal e há outros em que vamos explorar um país estrangeiro.

A família adaptou-se à sua vida de viagens?
Sim, adaptou-se bem, tanto a minha esposa como os filhos. Quando comecei esta carreira também não previa viajar tanto, mas faz parte.
 
Uma referência da biotecnologia
 
Investigador reconhecido, José Teixeira é diretor do Centro de Engenharia Biológica e professor catedrático da Escola de Engenharia da UMinho. Hoje é considerado uma referência na tecnologia da fermentação e na tecnologia alimentar. A coordenação de projetos é um passo fundamental na sua carreira, pois coordenou 25 projetos de investigação - cinco deles europeus -, é coautor de cerca de 400 artigos e pertence ao conselho editorial de várias revistas internacionais. Preside ainda à Sociedade Portuguesa de Biotecnologia e é membro do Institute of Food Technologists. A certificar o seu capital de conhecimento estão prémios como o Estímulo à Excelência FCT e Prémio Seed of Science, distinções que aceita com modéstia.

Como se consegue o sucesso que atingiu na sua área de investigação?
Essencialmente com muito trabalho e tendo também competência. Quando comecei a trabalhar a biotecnologia não havia condições para o fazer e foi um enorme desafio. Eu doutorei-me no Porto em 1988 e só a partir da década de 90 as condições melhoraram imenso em Portugal para se investigar nesta área.
 
Foi aí que a evolução foi notória.
Sim. Felizmente as condições permitiram captar recursos humanos e materiais para um trabalho mais sistemático em biotecnologia nas diferentes vertentes. Eu tenho particular interesse na biotecnologia industrial e biotecnologia alimentar, mas efetivamente os meus resultados provêm também de uma grande melhoria das condições de trabalho.
 
E a UMinho…?
Foi um grande desafio, pois eu tinha uma situação confortável na Universidade do Porto. Mas foi um desafio que aceitei e, felizmente, hoje posso afirmar que tenho muito prazer em fazer parte do projeto e do crescimento da biotecnologia da Universidade do Minho, onde tenho todas as condições para trabalhar.

Continua a haver uma grande margem de crescimento?
Sem dúvida. Há uns anos que percebemos que teríamos que seguir a investigação numa relação clara com a indústria, com o setor produtivo, em particular no setor alimentar. Ora, a biotecnologia tem ainda muitos desafios para resolver e há, por um lado, a investigação, no sentido de aprofundar mais o conhecimento, mas, por outro lado, há muitas componentes de aplicação, num interface muito forte com as empresas do setor.
 
E os prémios?
Eu não sou muito eufórico, mas fico satisfeito. É sempre bom ter o nosso trabalho reconhecido.
 

José, o cidadão
 
Como ocupa o tempo livre?
Gosto de ler – recentemente li uma obra do Saramago – sem um autor preferencial, gosto de caminhar, viajar, ver futebol. Gosto de um leque alargado de coisas normais.
 
Pratica algum desporto?
O único que pratico é o de subir e descer escadas aqui no edifício (risos). Não pratico sistematicamente desporto, limito-me a andar a pé.
 
Aprecia uma boa conversa a jantar?
Sim. E gosto imenso da comida portuguesa, mas também gosto de experimentar outras. Mas, sem dúvida, nós temos uma excelente gastronomia.
 
Como se informa mais, media tradicionais ou internet?
As notícias que mais me atualizam são na internet e, muito de vez em quando, no jornal.
 
Portugal: O que lhe agrada mais e menos?
Nós temos um país excelente, as pessoas são excelentes, temos bom clima, temos segurança. Temos de facto um excelente país. Há coisas menos boas, como a miséria, a desordem, o protestar, por protestar, mas globalmente Portugal é um país ótimo para viver.