Psicologia da UMinho: excelência no ensino, investigação e interação com a sociedade

24-03-2016 | Nuno Passos

Na tomada de posse a 13 de janeiro, ladeado pelos vice-presidentes Miguel Gonçalves, Rui Abrunhosa Gonçalves e Ângela Maia

Pátio interno do edifício partilhado pela Escola de Psicologia e pelo Instituto de Educação da UMinho, campus de Gualtar, Braga

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Entrevista ao presidente da Escola de Psicologia (EPsi), Paulo Machado, no âmbito do ciclo de conversas com os responsáveis das 11 Escolas e Institutos da UMinho.




A EPsi celebra seis anos a 10 de abril. Quais são as principais marcas deste percurso?
A Escola de Psicologia da UMinho é a herdeira do Departamento de Psicologia do anterior Instituto de Educação e Psicologia (IEP). Desde o seu início, este projeto foi marcado por uma clara aposta na produção de conhecimento e no papel central que a investigação deve desempenhar no ensino superior universitário. O próximo dia 10 de abril marca o 6º aniversário da EPsi enquanto escola independente na estrutura da UMinho, embora a história da Psicologia na nossa universidade seja mais longa. Desde a sua formação, a EPsi deixou marcas nas três principais áreas da sua atividade. No ensino, os seus projetos a nível graduado e pós-graduado têm como objetivo a formação de cientistas e profissionais de base científica nas diversas áreas da Psicologia. Na investigação, o nosso Centro (CIPsi) é reconhecido, nacional e internacionalmente, pela qualidade e impacto da sua investigação básica e aplicada. Por fim, na interação com a sociedade, foram criadas colaborações com várias organizações e entidades que permitiram o desenvolvimento de projetos de intervenção e investigação do domínio aplicado.
 
Tomou posse em janeiro para um mandato de três anos. Porque decidiu abraçar este desafio?
Esta é provavelmente a pergunta mais difícil da entrevista. Em boa verdade não sei como responder. A resposta mais direta seria porque, de algum modo, chegou a minha vez de desempenhar este papel. A EPsi é uma Escola de pequena dimensão com um número reduzido de docentes que podem assumir a presidência. Todos estamos muito envolvidos em atividades de ensino, investigação e interação com a sociedade. As tarefas de gestão são algo que sentimos que temos que fazer a qualquer momento, mas não fazem parte dos nossos projetos individuais de desenvolvimento académico. No entanto, é um cargo que desempenharei com todo o gosto e empenho, dando o meu melhor contributo para o projeto da Escola e da Universidade.
 
Quais são os principais objetivos e projetos que quer implementar?
Em boa verdade, os objetivos desta presidência não são diferentes daqueles presentes aquando da fundação da Escola. Os primeiros anos foram dedicados ao desenvolvimento de toda a estrutura necessária para a nova escola; seguiram-se a implementação dos novos projetos de ensino, a consolidação do Centro de Investigação e a reorganização do Serviço de Psicologia, que acabou por dar origem à Associação de Psicologia da UMinho. Neste momento, a EPsi atingiu um estádio de desenvolvimento que nos permite focar em melhorarmos as prestações nas diversas áreas de atividade. Em resumo, trata-se de fazer mais e melhor do que temos feito até agora.
 
A equipa da Escola e a oferta formativa para os vários ciclos estão adaptadas às exigências da sociedade?
Penso que a EPsi tem uma equipa docente à altura dos desafios que nos esperam e pretendemos continuar a ter uma equipa discente que inclua os melhores estudantes que pretendem uma formação universitária no domínio da Psicologia. Sobre a adaptação às exigências da sociedade, penso que a Universidade responde a estas, fazendo aquilo que sabe fazer e sempre tem feito. O papel da Universidade é formar indivíduos capazes de pensar de um modo autónomo, criativos, com grande poder de adaptação e capacidade de produção de conhecimento. Ou seja, temos de formar indivíduos para responder aos desafios do futuro, cuja única certeza que temos é de que é incerto. A nossa história e os diversos exemplos dos trajetos profissionais dos alunos mostram-nos que o estamos a fazer de um modo adequado.
 
Prevê-se novidades em termos de cursos?
Sim, temos algumas novidades. Alguns cursos já estão preparados para a arrancar, como é o caso da licenciatura em Criminologia, em colaboração com a Escola de Direito e o Instituto de Ciências Sociais, que aguarda autorização ministerial para o início do seu funcionamento, embora tenha sido aprovado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). Temos outros projetos em preparação que serão oportunamente anunciados.
 
O CIPsi obteve de novo “Excelente” na última avaliação da FCT, estando no topo nacional desta área. A que se deve este resultado num contexto tão competitivo?
A internacionalização do Centro foi uma aposta que começou desde a sua fundação. A política do CIPsi tem sido a de estimular a produtividade dos seus investigadores, a diversidade e qualidade da investigação, e a disseminação internacional da mesma. O desafio atual é o de melhorar ainda mais, colocando a UMinho numa posição de paridade internacional em diversas áreas da investigação em Psicologia. Em 2020 o nosso objectivo é simples: manter a posição de melhor Centro nacional no domínio da Psicologia e ser avaliado com a classificação máxima.
 

"Apostamos na internacionalização desde cedo"

O que se pode esperar da Associação de Psicologia, criada recentemente?
Nasceu da necessidade de restruturação do Serviço de Psicologia, que era a nossa estrutura de interação com a sociedade. Tem como sócios fundadores a UMinho (EPsi e Serviços de Ação Social) e as Câmaras Municipais de Guimarães e de Braga. Pretende responder às necessidades de prestação de serviços da Psicologia na comunidade em que a UMinho se insere. Ou seja, ser uma associação que fornece serviços de Psicologia de elevada qualidade, baseados em evidência científica e apoiados na monitorização constante do processo e resultado das intervenções, de modo a garantir a qualidade dos mesmos. A associação pretende em primeiro lugar ser capaz de fornecer estes serviços a custos controlados aos seus associados, de modo a permitir o acesso a populações que de outro modo não poderiam usufruir deles, a par do desenvolvimento de programas de formação e lançamento de projetos de investigação na área da Psicologia.
 
Que balanço faz do trabalho realizado pelo Serviço de Psicologia?
O trabalho realizado ao longo dos anos contribui definitivamente para a afirmação da Psicologia, quer na Universidade como na comunidade. A necessidade de expandir o nosso campo de atuação e de articular projetos com as autarquias levou à constituição da Associação de Psicologia, que vai substituir o Serviço de Psicologia em termos de plataforma de interação com a comunidade.
 
Como é que a EPsi pode auxiliar atuais e antigos alunos na progressão da carreira?
Queremos estreitar as ligações com os nossos alumni e pretendemos implementar programas que facilitem a transição para o mercado de trabalho e o desenvolvimento das suas carreiras. Um exemplo é o programa Projetos, que tem como objetivo a promoção da empregabilidade futura dos alunos da EPsi, apoiando a gestão pessoal do projeto de carreira, auxiliando e formando em práticas/técnicas de procura de emprego e criando interações com potenciais empregadores na comunidade.
 
De que forma esta Escola se pode afirmar no contexto de crescente internacionalização?
A EPsi é uma Escola periférica num país caracterizado por um elevado centralismo. Este facto motivou, desde cedo, todos os elementos da EPsi a apostarem na internacionalização. Aliás, tenho bem presente na memória a reunião do Departamento de Psicologia, ainda integrado no IEP, em que se desenhou a estratégia de internacionalização do que viria a ser a EPsi. Penso que continuaremos a afirmar-nos pela qualidade e pelo impacto internacional da investigação, pelas parcerias em projetos internacionais, pela presença em corpos editoriais de revistas de referência e pela presença nas direções de organizações científicas internacionais.
 
Como perspetiva a EPsi em 2020?
Espero que continue a desenvolver-se e que permita renovar e reforçar os seus recursos humanos, continuando a contribuir, como até aqui, para o desenvolvimento da Universidade e da comunidade em que se integra. Temos vários projetos que necessitam de investimentos de alguma dimensão, como instalações para o Centro de Investigação e a Associação de Psicologia, que alavancariam de um modo definitivo o impacto dos nossos projetos.
 
Quais são, para si, os principais desafios do ensino superior a nível nacional e internacional?
Existem vários desafios, quase todos em resultado de uma alteração profunda da realidade em que as Universidades em geral passaram a operar. Por exemplo, passamos a operar a nível global, os estudantes que escolhiam as universidades em termos de proximidade geográfica passaram (também) a fazê-lo em função da qualidade da formação que poderão receber e da diferenciação que esta poderá ter em termos curriculares. Isto torna vital uma publicitação adequada e um esforço em recrutar os melhores estudantes. Por outro lado, assistimos ao crescimento dos custos de operação das Universidades, associados a um decréscimo do financiamento público, o que necessariamente vai provocar a necessidade de encontrar fontes de financiamento alternativas, para não comprometer a qualidade do ensino e da investigação realizada. É importante, no entanto, quando se trata de avaliar os custos associados ao ensino superior, ser-se capaz de distinguir entre despesas, que poderão eventualmente ser reduzidas, e investimentos, que se forem reduzidos poderão comprometer o futuro da universidade e mesmo do país. Estes investimentos na sustentabilidade do sistema universitário têm também de contemplar a necessidade de renovação do seu corpo de docentes e de investigadores.
 



Nota biográfica

Paulo Machado licenciou-se em Psicologia na Universidade do Porto e doutorou-se em Psicologia Clínica na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos da América. É professor catedrático da EPsi desde 2005, tendo sido convidado a lecionar nas Universidades de Granada, Huelva e Santiago (Espanha), Federal de Pernambuco e Católica de Pelotas (Brasil) e Simon Fraser (Canadá). É coordenador do Grupo de Investigação em Perturbações Alimentares da UMinho e do Programa de Ajuda Personalizado para Pessoas com Problemas Alimentares, além de membro do conselho editorial de diversas revistas internacionais da área.
 
Ao longo dos últimos anos, Paulo Machado assumiu os cargos de presidente na Sociedade Internacional de Investigação em Perturbações Alimentares, diretor na Academia para Perturbações Alimentares, executive officer na Sociedade para a Investigação em Psicoterapia e vice-presidente na Escola de Psicologia da UMinho. Já recebeu várias distinções, nomeadamente da Associação Americana de Psicologia, da Academia para Perturbações Alimentares e da Associação dos Psicólogos Portugueses.