"Na Escola de Ciências afirmamo-nos pela qualidade"

17-02-2017 | Nuno Passos

Margarida Casal é professora catedrática do Departamento de Biologia da ECUM e investigadora do Centro de Biologia Molecular e Ambiental

O reitor António M. Cunha a saudar Margarida Casal e os respetivos vice-presidentes Nuno Peres e Maurício Fonseca, aquando da tomada de posse, em junho de 2016, no anfiteatro da ECUM, em Braga

O edifício da Escola de Ciências da UMinho no campus de Gualtar, em Braga

Fachada do edifício da Escola de Ciências da UMinho no campus de Azurém, em Guimarães

1 / 4

Entrevista à presidente da ECUM, Margarida Casal, no âmbito do ciclo de conversas com responsáveis de Escolas e Institutos da UMinho e, ainda, do 42º aniversário da ECUM.




A Escola de Ciências da UMinho (ECUM) celebra 42 anos na próxima terça-feira. Quais são as principais marcas deste percurso?
Ao longo deste percurso, a nossa Escola construiu-se, e continua essa construção, baseada nos seus saberes: o saber aprender, o saber fazer e o saber comunicar. Somos uma Escola aberta à Sociedade e que se afirma pela qualidade dos seus projetos de ensino, de investigação e de extensão. Os pilares dessa construção são as pessoas que todos os dias fazem a Escola de Ciências, os seus estudantes, os seus trabalhadores docentes e não docentes, os seus investigadores e os seus colaboradores.
 
Porque decidiu abraçar o desafio de presidir a esta Escola, uma das maiores da UMinho?
Presidir a uma Escola é muito absorvente e, no passado, estive envolvida noutros projetos incompatíveis com o exercício deste cargo. Senti que este era o momento certo para avançar e contribuir com as minhas ideias para a Escola.
 
Quais são os principais objetivos e projetos que quer implementar neste mandato?
O objetivo é afirmarmo-nos pela qualidade. Temos que garantir que oferecemos aos nossos estudantes excelentes condições de ensino graduado e pós-graduado, num quadro de referência internacional. Temos que nos capacitar para fazer Ciência de alto nível, reconhecida internacionalmente pelos pares. Temos que estabelecer parcerias com entidades externas, empresas, autarquias, e outras instituições públicas e privadas, e colocar esse conhecimento ao serviço da Sociedade em geral. Todos estes objetivos passam por termos um corpo de docentes e de investigadores de elevada competência nas áreas em que nos posicionamos: a Química, a Fisica, a Matemática, a Geologia e a Biologia.
 
A equipa docente e discente e a oferta formativa para os vários Ciclos estão adaptadas às exigências da sociedade? Prevê-se novidades em termos de cursos?
Esse é um trabalho em permanente evolução. Ao nível do 1º ciclo (licenciaturas), a Escola está bastante consolidada e entendemos que o caminho a percorrer não irá divergir do que foi feito ao longo dos últimos anos. Oferecemos um leque de cursos muito diferenciado e damos particular atenção à sua permanente atualização. É neste contexto que vamos continuar a trabalhar para atrair mais jovens para o ensino universitário e para encontrar novos públicos. Todavia, no que respeita à pós-graduação (mestrado e doutoramento) temos outros desafios, pois as dinâmicas internas e os enquadramentos externos são de natureza distinta. A oferta dos cursos de pós-graduação assenta fundamentalmente nos recursos existentes nos Centros de Investigação da Escola. Encontrar esse casamento entre as exigências da sociedade e o conhecimento gerado pelos nossos docentes e investigadores é um enorme desafio. O número de estudantes de pós-graduação tem vindo a crescer, verificando-se uma procura muito significativa por formações de natureza mais técnica, vocacionadas para as aplicações. Temos que saber responder a essa procura, adaptando-nos a essa realidade, oferecendo mais formações com perfil profissionalizante.
 
Os centros de investigação afetos à ECUM têm obtido resultados de relevo nesta área. A que se deve esta performance num contexto tão competitivo? Que projetos/linhas de investigação e parcerias destaca?
Neste momento destaco duas novas estruturas de investigação: o IB-S (Instituto de Ciência e Inovação para a Biosustentabilidade) e o QuantaLab. O IB-S tem o Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) como um dos seus principais promotores. O QuantaLab tem como principais parceiros o INL e o Centro de Fisica. Trata-se de facto de uma excelente oportunidade para desenvolver projetos multidisciplinares com o envolvimento de todas as áreas do conhecimento em que a Escola se posiciona. Estamos seguros de que vamos continuar a conseguir atrair os melhores investigadores e, naturalmente, os nossos estudantes serão os primeiros a beneficiar dessa nova cultura científica que se está a instalar entre nós.
 
Como é que a ECUM pode auxiliar os antigos alunos na progressão da carreira?
A formação ao longo da vida é, digamos assim, um grande cliché. Penso que não será essa a única estratégia de o fazer. Hoje existe uma forma completamente diferente de assumir essa questão, pois os nossos antigos estudantes são os nossos melhores embaixadores! Já não são apenas eles que beneficiam de nós, é a nossa Universidade que beneficia do seu sucesso, levando bem longe o nome da Universidade do Minho. Teremos que repensar melhor essa questão. É esse o desafio.
 
De que forma esta Escola se pode afirmar no contexto de crescente internacionalização?
A internacionalização da Escola é talvez o tema que merece a nossa maior atenção. Do ponto de vista de captação de estudantes internacionais estamos ainda muito longe das nossas ambições e capacidades. Por outro lado, a captação de financiamento competitivo para a investigação passa pela diferenciação. Só assim nos tornaremos parceiros atrativos para integrar consórcios internacionais que suportem com sucesso candidaturas ganhadoras aos concursos altamente competitivos em que queremos cada vez mais estar presentes. Neste contexto, penso que, tanto o IB-S como o QuantaLab, são alavancas efetivas para consolidarmos a nossa internacionalização.
 
Como espera que seja a ECUM em 2020, em termos da sua evolução e desenvolvimento?
Para evoluirmos e para nos desenvolvermos, teremos que nos profissionalizarmos e que nos organizarmos melhor internamente. Uma cultura de excelência só é possível com bem-estar de todos, dando oportunidade à criatividade e ao espirito crítico diferenciador. Para criar essas condições de trabalho “ideais” é preciso fazer algumas apostas estratégicas e correr alguns riscos. É nesse sentido que estamos a trabalhar neste momento.

Quais são, para si, os principais desafios do ensino superior a nível nacional e internacional?
Há uma grande tendência para estabelecer uma rede de ensino superior distinguindo Universidades de Ensino e Universidades de Investigação. Para garantir que a Escola se posiciona na linha da frente, a nível nacional e internacional, temos que fazer um maior investimento no ensino pós-graduado e na investigação, atraindo os melhores estudantes e os melhores docentes e investigadores. Tal como referi, os pilares dessa construção são as pessoas que todos os dias fazem a Escola de Ciências.



Nota biográfica

Margarida Casal é professora catedrática e presidente da ECUM. É licenciada em Biologia pela Universidade de Lisboa e doutorada em Biologia pela UMinho. Exerceu diversos cargos de gestão, nomeadamente diretora da licenciatura em Biologia Aplicada, presidente do Conselho de Cursos de Ciências, diretora do Departamento de Biologia, membro do Conselho Geral da UMinho e diretora do CBMA (avaliado em 2013 com Excelente). Os seus interesses científicos focam-se no estudo da estrutura-função de proteínas e na compreensão dos mecanismos moleculares da sua ação nas células. Coordena o programa de doutoramento FCT em Microbiologia Aplicada e Ambiental e já supervisionou 16 investigadores de pós-doutoramento, 23 estudantes de doutoramento, 23 de mestrado e 42 bolseiros de projetos. É também autora de nove patentes, oito capítulos de livros e 111 publicações ISI (com um índice h de 27). É ainda avaliadora de Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) na área de Bioquímica e Biologia, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Genética e membro do conselho fiscal da Sociedade Portuguesa de Bioquímica.