Percursos dos universitários

31-03-2017

Leandro Almeida

Reconhecendo-se que Portugal assegura atualmente uma maior democraticidade no acesso ao Ensino Superior, importa agora aumentar as condições de uma maior democraticidade no sucesso.


A Reitoria da Universidade do Minho criou recentemente o ObservatoriUM, uma estrutura ligada ao Senado e que pretende recolher e tratar, de forma sistemática, dados sobre os percursos académicos dos seus estudantes. Com a expansão do ensino superior aumentou-se a diversidade de perfis de estudantes que acedem a este nível de ensino, sendo relevante inventariar como estes públicos ingressam e se adaptam ao novo contexto de formação e desenvolvimento, assim como os seus percursos e trajetórias durante o curso. Falando de transições e percursos, o ObservatoriUM centra a sua recolha e análise de dados na transição do ensino secundário para o ensino superior, e consequente processo de adaptação do estudante, e na transição da universidade para o mercado de trabalho, sendo que aqui importa analisar o impacto das trajetórias formativas e de desenvolvimento ocorridas entre estas duas transições na empregabilidade dos diplomados.

Tomando o ingresso no ensino superior, a investigação internacional e nacional aponta que alguns subgrupos de estudantes apresentam dificuldades na sua adaptação ao novo contexto de ensino, com reflexos menos positivos na sua satisfação, sucesso académico e permanência. Em Portugal, tais dificuldades podem ser maiores em virtude da menor tradição de frequência de ensino superior no seio das famílias, face aos menores recursos socioeconómicos de certos setores da sociedade e face ao impacto da política de numerus clausus, pois cerca de 50% dos estudantes não ingressam no par curso/instituição correspondente à sua primeira opção. Acresce ainda que, com as novas orientações pedagógicas decorrentes da “Declaração de Bolonha”, podem alguns estudantes apresentar níveis insuficientes de autonomia e de competência académica para assumirem um papel mais ativo nas suas aprendizagens.

Sendo mais frequentes os problemas de insucesso, inclusive o risco de abandono, em estudantes do 1º ano, importa implementar medidas de atendimento e serviços de apoio que atendam às necessidades de certos subgrupos de alunos. Nem sempre os estudantes têm informação clara acerca dos desafios que encontrarão no contexto universitário ou concretizam as suas expectativas à entrada na universidade, podendo mesmo sentir alguma frustração com a sua experiência universitária. Por outro lado, com frequência vemos que estes têm dificuldades em desenvolver a sua autonomia e superar as saudades dos pais e amigos de infância, construindo as novas redes de suporte social que necessitam. Finalmente, nem sempre as aulas são tão interessantes ou os professores tão acessíveis como gostariam, podendo daí advir uma menor frequência e participação nas aulas ou um estudo pouco eficiente por falta de orientação e capacidade de autorregulação. Reconhecendo-se que Portugal assegura hoje uma maior democraticidade no acesso ao Ensino Superior, importa agora aumentar as condições de maior democraticidade no sucesso.


Professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade do Minho