Gaudeamus Igitur

31-05-2017

Raul Fangueiro

Participar em atividades académicas não compromete, por si só, o sucesso escolar e as soft skills daí obtidas são um complemento fundamental ao conhecimento técnico proporcionado pelo curso.



“Seja a saudade bendita e o encanto que ela encerra.
Cante-a quem por cá fica, chore-a quem de cá desterra!”

 
Este foi o hino com que, enquanto estudante da UMinho, em 1990, tive a honra de fazer parte do grupo de fundadores da Tuna Universitária do Minho. Desde então, temos andado “de taberna em taberna, a cantar de bar em bar, somos a Tuna do Minho, nada fica por contar”, assumindo que “são a nossa inspiração, as raparigas, que nos enchem de paixão, o coração”. Numa academia com uma população estudantil muito mais reduzida do que a atual, onde todos se consideravam parte de uma grande família, foram anos de grandes vivências e realizações académicas,  que culminaram com a afirmação e fundação de muitos outros grupos culturais, como o Grupo de Música Popular e a Grupo Folclórico, que, mais tarde, deram origem à ARCUM – Associação Recretiva e Cultural Universitária do Minho, que se afirma como o principal polo dinamizador das atividades culturais da nossa academia.
 
A digressão “Aí vamos nós Europa 90”, com espetáculo marcado em S. Petersburgo, na Rússia, mas com passagem por mais de 15 países, de autocarro, ao longo de quase um mês, foi, sem dúvida, um dos momentos marcantes, pela audácia e pelo arrojo da iniciativa, que, para além de musical, também se afirmava científico-cultural. Convém lembrar que não se usava a internet, que não havia telemóveis e que não existia a moeda euro! O Programa Erasmus estava a dar os primeiros passos... Para além das caraterísticas empreendedoras de todos aqueles que iniciaram esta caminhada, juntou-nos, sobretudo, uma enorme amizade e cumplicidade que se mantêm e consolida ao longo dos anos. Para muitos, como no meu caso, foi também neste seio que encontraram as bases para a construção daquilo que são hoje, familiar e profissionalmente.
 
Passados que estão mais de 25 anos, é com muita satisfação que vejo uma academia pujante ao nível cultural, com inúmeros grupos ativos e com realizações que, sem romper com as bases lançadas no passado, apontam o futuro com a irreverência que lhes é peculiar, incorporando novas valências criadas na UMinho, principalmente ligadas ao ensino da música. É pois com enorme orgulho que vejo uma ARCUM completamente implementada na academia e com um nível de crescimento acelerado, integrando cada vez mais grupos culturais. Mas é sobretudo com grande alegria que vejo que os princípios fundadores que lhe deram origem continuam a presidir à sua ação, assumindo-se como veículo de integração, não só entre os atuais alunos, mas também entre estes e os antigos alunos, desempenhando um papel fundamental na transmissão das vivências académicas apreendidas e na sua passagem às gerações seguintes.
 
Agora, com outro papel na Universidade do Minho e com o devido distanciamento que a passagem dos anos proporciona, reconheço que as lições aprendidas com a envolvência nessas atividades académicas assume um papel preponderante na realização das minhas ações enquanto professor e investigador. O estabelecimento de redes de cooperação internacionais, como é o caso da Plataforma Fibrenamics, a organização de eventos científicos à escala global, como é o caso da International Conference on Natural Fibers ou a participação ativa em consórcios de investigação e desenvolvimento internacionais são apenas exemplos disso mesmo. Também ao nível do ensino torna-se possível demonstrar aos alunos, através da minha experiência, que a participação em atividades académicas não compromete, por si só, o sucesso escolar, e que, por outro lado, as soft skills obtidas com essa participação são um complemento fundamental ao conhecimento técnico proporcionado pelo curso que frequentam.
 
“As nossas capas, são negras como andorinhas.
São negras, negras, mas estão rotas e velhinhas.
Soltas ao vento, as nossas capas pretinhas.
Voando leves, mais leves do que andorinhas.”


 
Professor da Escola de Engenharia da UMinho e coordenador da Plataforma Internacional Fibrenamics