Artes Visuais: perceção e cidadania

28-11-2017 | Nuno Passos

Paulo Freire de Almeida

A aposta na nova licenciatura reforça a componente cultural de qualificação estética dos espaços e das populações, decisiva para afirmar Guimarães e a sua região como referência na atividade artística e na criação.


O espaço das Artes Visuais é atualmente um cruzamento de diferentes linguagens e preocupações teóricas e concetuais, promovendo uma prática eminentemente multidisciplinar. Herdando modelos e divisões tradicionais das Belas Artes, impõe-se uma abordagem capaz de entender diversas formas de criação e produção de imagens e objetos simultaneamente, sob o cuidado de noções operativas comuns, meramente a título de exemplo tais como “movimento”, “superfície” ou “estrutura”. Essa condição plural e continuamente integradora de fatores de novidade e subversão levanta desafios no que respeita à formação de novos alunos em contexto universitário. Essa relação deve-se a uma aparente contradição entre o contexto normativo e regulamentado das instituições e uma vocação estruturalmente divergente, própria das práticas criativas e artísticas. Se a formação deve ser plural, experimental e ajustar periodicamente os seus efeitos em processos de síntese, como nas avaliações ou nas apresentações públicas, então sobre o aluno devem organizar-se discursos e práticas complementares da arte contemporânea, nomeadamente pelo fundamento do desenho, da expressão plástica e dos novos horizontes multimédia.

Oportunamente, Universidade é por excelência o lugar da multidisciplinaridade, aproximando as várias áreas fundamentais do saber, numa experiência de cruzamento e partilha de experiências na qual a Universidade do Minho tem sido um modelo exemplar. Até agora, a UMinho não dispunha de um curso em Artes Visuais. A sua criação vem assim preencher um vazio formativo, mas também orgânico, proporcionando uma nova rede de relações entre Escolas e reforçando propostas já existentes em áreas afins das Artes Visuais, como a Arquitetura, o Design e as Artes Performativas, apenas para enunciar alguns exemplos. Vem também completar um campo em falta no seio dos grandes fundamentos universitários: as Humanidades e as Ciências.

Nesse sentido, a partir da sua base fundamental do desenho pode-se questionar qual a grande especificidade das Artes Visuais, relativamente a outras disciplinas das Humanidades e Ciências? Se a filosofia e a matemática usam um tipo de pensamento sistemático, ou se a criatividade é também comum a outras atividades como a literatura ou poesia, a grande especificidade das Artes Visuais é a experiência poética em torno da perceção das formas visuais. O seu pensamento específico é organizado a partir de uma consciência aprofundada sobre o Ver e o sentido da forma. Os objetos de artes visuais são assim materializações de processos simbólicos, poéticos e expressivos acerca de perceções, sensações visuais e hápticas. Daí decorre um conhecimento especializado e ao mesmo tempo integrador acerca de como os materiais, as imagens e os espaços podem interferir e mudar a consciência percetiva e sensorial das pessoas. De como podem ver e sentir de uma maneira mais crítica, exigente e criativa. Consequentemente, na sua formação, o estudante de Artes Visuais aprende como deve usar formas, cores, espaços e volumes para revelar e partilhar experiências que, de outro modo, permaneceriam num estado latente e obscurecido.

Juntamente com as restantes formações da UMinho associadas à criatividade, como a Arquitetura, Teatro ou Design, a aposta na licenciatura em Artes Visuais é um reforço da componente cultural de qualificação estética dos espaços e das populações, decisiva para afirmar Guimarães e a sua região como uma referência no plano da atividade artística e da criação, em diálogo com outras instituições culturais que estão a ganhar forma especialmente desde 2012. Uma cidade com forte presença de Artes Visuais contribui para uma cidadania visual e sensorial, onde as imagens, objetos e espaços poderão servir o quotidiano das pessoas, bem como o seu sentido de afirmação coletiva.
 
Professor da Escola de Arquitetura da UMinho