Está preparado para o mercado de trabalho?

16-10-2017 | Catarina Dias | Fotos/Pictures: Nuno Gonçalves

Sílvia Monteiro está a desenvolver um pós-doutoramento sobre fatores que influenciam a empregabilidade de diplomados

A investigação, que envolveu cerca de 900 finalistas e recém-licenciados da UMinho, prolonga-se até 2020 e tem apoio da FCT

Dominar ferramentas linguísticas e tecnológicas, ter iniciativa e resolver problemas são aspetos muito valorizados no mercado

“Queremos que as conclusões deste trabalho contribuam para melhorar a taxa de emprego dos graduados”, diz Sílvia Monteiro

O projeto “EEGenerating Skills”, da Escola de Economia e Gestão, foi referido como um exemplo de boas práticas

1 / 5

O domínio de línguas e ferramentas tecnológicas e a capacidade de iniciativa e de resolução de problemas são as competências mais valorizadas no mercado, revela o estudo de Sílvia Monteiro, do CIEd.





Um estudo que avaliou o percurso de cerca de 900 finalistas e recém-licenciados da UMinho defende que os graduados que encontram logo trabalho têm aptidões que os diferenciam dos restantes colegas. As mais determinantes são as competências práticas e transversais, como o domínio de línguas e ferramentas tecnológicas, a capacidade de iniciativa e a resolução de problemas. Uma das dificuldades sentidas pelos jovens adultos relaciona-se com as estratégias de procura de emprego. Sílvia Monteiro, do Centro de Investigação em Educação (CIEd), afirma que “a realidade tende a ser semelhante a nível nacional”.
 
Intitulado “Da formação académica à inserção profissional: Fatores de impacto na empregabilidade de diplomados portugueses”, este projeto de pós-doutoramento iniciou há três anos, em plena crise económica, “num contexto socioeconómico marcado por um elevado índice de competitividade e um mercado cada vez mais exigente”. Foram inquiridos alunos das áreas da Engenharia, da Economia, do Direito e das Ciências Sociais e Humanas, com o objetivo de cruzar um conjunto de fatores no momento final de formação e 18 meses depois: “Auscultou-se o percurso académico de cada um, nomeadamente as médias de ingresso, o rendimento ao longo do curso e as experiências extracurriculares, a forma como põe em prática estratégias para alcançar os seus objetivos, as suas perceções sobre o domínio de competências e a entrada no mercado de trabalho, entre outras variáveis”, contextualiza a investigadora, orientada por Leandro Almeida, coordenador do ObservatoriUM - Observatório dos Percursos Académicos dos Estudantes da UMinho, e por Adela García-Aracil, investigadora da Universidade Politécnica de Valência (Espanha).
 
O projeto revelou que seis em cada dez recém-licenciados avaliados encontraram trabalho logo a seguir ao curso. Por norma, os graduados empregados têm perceções de competências superiores aos colegas desempregados, manifestando maior capacidade em estabelecer objetivos e estratégias para os alcançar, resolver imprevistos, articulando conhecimentos de várias áreas, adaptar-se a diferentes contextos e dinâmicas profissionais, e mais autoconfiança na tomada de decisões de carreira. Embora as características pessoais sejam importantes nesta transição para o mercado laboral, Sílvia Monteiro destaca outros fatores estruturais que “mexem” com as expetativas dos jovens em relação ao seu futuro: “Sabe-se que, devido à conjuntura atual, há áreas com maior empregabilidade do que outras. Por exemplo, alunos das Ciências Sociais e Humanas tendem a partilhar perceções menos positivas do que os da Engenharia. O que parece afetá-los mais nesta avaliação não é tanto a questão da autoeficácia, mas sim o estado do mercado”, realça. “Não se pode colocar a responsabilidade apenas no graduado”, acrescenta.



Universidades apostam no reforço de soft skills
 
Os resultados mostram também que as competências de empregabilidade - capacidade de concorrer a uma função, elaborar um curriculum vitae ou estar numa entrevista - são as que suscitam maior desconforto, independentemente da área de estudo ou do perfil. “É um indicador relevante que permite refletir sobre o que deve ser feito para apoiar os estudantes na sua preparação para o mundo do trabalho”, avança a psicóloga. Em Portugal, as universidades estão a apostar cada vez mais na promoção de programas que visam uma melhor integração profissional dos seus diplomados. Por cá, destaca-se o projeto “EEGenerating Skills”, da Escola de Economia e Gestão, que tem ajudado a diferenciar os seus formandos com iniciativas orientadas para o desenvolvimento de competências transversais. 
 
O projeto de investigação prolonga-se até 2020 e é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Até lá serão ainda analisadas as perceções das entidades patronais para perceber o que procuram nos candidatos. “Queremos que estes resultados possam originar planos de ações capazes de contribuir para a melhoria das taxas de emprego dos nossos graduados e para os estudos na área a nível nacional e internacional”, conclui Sílvia Monteiro.