“Ser trabalhadora-estudante é um prazer, mas muito exigente”

16-10-2017 | Nuno Passos

Trabalha no edifício da Reitoria, nas áreas de assiduidade, ADSE, prestações familiares, férias e registo de horários de trabalho

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Lídia Vieira

Nasceu na França em 1971, veio para Portugal aos 10 anos e vive na Póvoa de Lanhoso. É assistente técnica na Direção de Recursos Humanos há 12 anos e está no 2º ano da licenciatura em Administração Pública. Considera que esta academia tem crescido muito e que lhe abriu os horizontes.


Que percurso fez até chegar à UMinho?
Nasci em Paris em 1971, mas estou muito ligada à Póvoa de Lanhoso, mais precisamente Lanhoso, embora viva em Rendufinho. Tirei o curso técnico-profissional de Secretariado, na Escola Profissional de Braga – fiz parte dessa primeira turma, nos anos 90. Depois, trabalhei numa empresa ligada ao turismo, regressei à Póvoa de Lanhoso para secretariar a rádio Nove3cinco, estive numa empresa têxtil e noutra de publicidade e tive um minimercado em Vieira do Minho durante ano e meio. Eram empregos sem perspetivas de evolução, por isso procurava uma oportunidade melhor. Aos fins-de-semana comprava o jornal para ver os classificados. Concorri várias vezes a empregos na UMinho, prestando provas em Braga e Guimarães, até que apareceu uma vaga para contrato a termo na Direção de Recursos Humanos  [DRH]. Vim fazer a entrevista ao Largo do Paço, em Braga, e aceitaram-me.
 
Lembra-se do primeiro dia de trabalho?
Sim, foi a 28 de novembro de 2005 e no local onde me mantenho em funções [sorriso]. Havia muita gente e achei estranho, porque eu estava habituada a trabalhar sozinha ou com outra pessoa. Mas, ao mesmo tempo, fui muito bem recebida, inclusive pela Glória Alves, com quem criei logo empatia, que se mantém até hoje e é com quem trabalho no Núcleo de Abonos, Assiduidade e Segurança Social. Lembro-me ainda que, mais tarde, em março de 2007, um colega veio até mim com as folhas das renovações e eu só li a parte que referia “término do contrato” – pensei logo que iam dispensar-me e já nem o ouvi a indicar-me que, na segunda folha, eu iria passar a contrato por tempo indeterminado! [risos] Pois é… em 12 anos na UMinho, trabalhei sempre neste setor.
 
Que funções tem desempenhado?
É sobretudo na área da assiduidade, da ADSE, das prestações familiares, das férias e no registo dos horários de trabalho e respetiva parametrização. Relativamente a “picar” o ponto, no início eu esquecia-me de o fazer. Mas depois é um hábito que se cria e, até na curta pausa para o café, há a sensação de também o termos que fazer. Enfim, a regularização desses processos passa pela DRH.
 
É uma função de bastidores que serve toda a comunidade académica.
Sim, desde todo o pessoal docente e não docente. Costumo dizer que o nosso setor é o “coador”. Temos que ser minuciosos, cuidadosos e rigorosos a avaliar todas as situações. Às vezes não somos bem interpretados, mas apenas estamos a cumprir a lei.
 
O que mais gosta de fazer?
De tudo um pouco, mas o que mais gozo dá é tratar de todo o processo que envolve o envio das despesas de saúde para a ADSE, desde a sua conferência à sua classificação.
 
Nota uma redução do papel e a desmaterialização?
A nível de recibos temos que manter os documentos originais. Mas na assiduidade nota-se bastante e seguimos os processos através de dois monitores, os nossos olhos “saltam” de um lado para o outro.
 
Porque decidiu avançar para a licenciatura?
Não houve um motivo específico. Foi numa fase de mudança da minha vida pessoal, em que algumas colegas me desafiaram a fazê-lo, uma vez que teria mais disponibilidade, apesar do trabalho e de ter duas filhas [Mariana e Marta], sendo que uma delas acaba de entrar no ensino superior [sorriso longo e pausa]. Como “arriscar não custa”, decidi fazer o curso de preparação para os maiores de 23 anos, à noite. Voltar a (saber) estar numa sala de aula não foi fácil, parecia que tudo me distraía e tive que reaprender a concentrar-me. Foi uma boa experiência e uma boa forma de conhecer pessoas. Concorri então ao ensino superior, mas consciente e sem grande expectativa. Digo-o sinceramente, achei que seria complicado e nem vi depois as listas de colocação. Foi uma colega a dar-me a notícia de que entrei no curso de Administração Pública na UMinho. Foi a minha primeira opção. Pensei: “Ok, perfeito, vamos lá a isso!”. [sorriso]
 
Estávamos em setembro de 2015.
Exatamente. Falei com as minhas filhas, nomeadamente a mais nova, que estava no 8º ano, e a partir daí começou a tornar-se mais autónoma. É curioso que, lá em casa, era uma a estudar no quarto, outra na sala, outra no escritório… [risos] Incentivávamo-nos muito. Nos primeiros tempos da licenciatura foi engraçado, porque os meus colegas eram da idade dela. Uma tratou-me por “Dona Lídia” e eu respondi: “Não, sou como vocês, é só ‘Lídia’”. Outra colega pediu-me um objeto emprestado e a dizer-me: “A minha mãe tem”. Ou seja, que eu o deveria ter na carteira, por também ser mãe.
 
Como foi acolhida?
Na turma há quatro trabalhadoras-estudantes e fomos muito bem acolhidas pelos mais novos. Estão sempre prontos a ajudar. Passam por nós antes dos testes: “Se precisarem, temos os apontamentos e fotocópias”. É um grupo impecável. Há outras estórias divertidas dos inícios como estudante universitária. Desconhecia termos como o “17A" [centro de cópias]. Também senti necessidade de ter uma conta no facebook, para criar laços, tirar dúvidas, seguir o que acontece dentro e fora do campus. E é engraçado cruzar-me em Gualtar com nomes de pessoas que, a certo momento, me passaram pelas mãos na DRH.
 
Houve algum(a) professor(a) que a tenha marcado?
Cada um deixa a sua marca. Se falar ao nível das unidades curriculares, talvez o de Métodos Quantitativos, porque, embora eu não tenha tido Matemática, conseguiu fazer com que eu acompanhasse a matéria, ainda que com muito esforço da minha parte e com a ajuda da minha filha mais velha.
 
Participa em atividades académicas?
Não pertenço a nenhum núcleo ou grupo cultural. Para já, a única noitada foi o jantar de curso no final do último ano letivo.
 
Como está a correr o 2º ano?
O grupo mantém-se, salvo alguns colegas que mudaram de curso. Fiz as cadeiras todas do 1º ano e estou pronta para enfrentar o que aí vem.
 
Portanto, é possível compatibilizar trabalho, aulas e estudo?
É. Com muito esforço. Dei por mim muitas vezes a dormir literalmente em cima dos livros. Acordava toda marcada na pele pelos livros! Ao fim de semana tento não retirar tanto tempo para estudar, porque tenho as filhas e querem dar uma voltinha. É preciso saber conciliar o tempo. Os meus pais têm sido um apoio fundamental. E na DRH também têm sido impecáveis, permitindo-me conjugar um horário para poder ir às aulas, o que nem sempre se consegue.
 
O que mais valoriza na UMinho?
Venho de um meio pequeno e, sem dúvida, a UMinho permitiu-me abrir os horizontes ao nível pessoal, profissional e académico. Esta universidade cresceu imenso em todos os aspetos. Há cada vez mais pessoas, um bom sinal porque a instituição está a crescer, mas também faz com que nos conheçamos menos uns aos outros e verifica-se que cada vez mais é cada um por si.

Que mensagem deixa a quem trabalha e está a pensar tirar um curso, mas ainda não o fez?
Que avance, porque se consegue. Não se pode desistir. A determinada altura pensei que não seria capaz e colocava várias reticências, mas de facto à minha volta tive muitos apoios. Diziam: “Se outros conseguem, tu também vais conseguir“. E é verdade.
 
 

Curiosidades
 
Um livro. Estou prestes a acabar “A padeira de Aljubarrota”, de Maria Lopo de Carvalho. Adoro ler. Sempre tentei incutir este prazer às minhas filhas. Nas férias costumo requisitar livros na biblioteca para elas, mas acho que não as consigo convencer.
Um filme. Um bom policial.
Uma música. Gosto de ouvir música baixinho quando estou a estudar, mas não tenho artistas ou canções preferidos.
Uma personalidade. Os meus pais [Maria do Céu e Joaquim Vieira].
Um passatempo. Ler e caminhar.
Um clube. Não tenho. Que ganhe o que merece.
Uma viagem. Gostava de voltar a Paris para rever os meus amigos.
Um prato. Qualquer um que a minha mãe faça. [sorriso] Enfim, dos meus pratos geralmente também não reclamam, mas, vá lá, faço-o porque tem que ser.
Um momento. O nascimento das minhas filhas.
Um vício. Chocolate.
Um defeito. Gostava de ultrapassar a minha timidez.
Um sonho. Conseguir ultrapassar todos os obstáculos que a minha vida me apresenta.
Uma frase. “Não faças planos para a vida porque podes estragar os planos que a vida tem para ti.” É isso: um dia de cada vez. Não gosto de fazer muitos planos.
Um lema. Nunca desistir.
A UMinho. A escola da vida.