Um voo para a Google

28-11-2017 | Catarina Dias

Na sede da Google, em Mountain View, na Califórnia (EUA)

A jogar "Super Mario Bros" num evento da Google, em Dublin

Nas Falésias de Moher, na Irlanda, com a namorada Marlene Araújo, também ex-aluna da UMinho

Numa viagem a Sydney, na Austrália

Dame Lane, uma das principais zonas noturnas de Dublin

No campus de Gualtar, em Braga

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Ricardo "Giga" Silva

O bracarense de 28 anos licenciou-se em Relações Internacionais e é mestre em Marketing e Gestão Estrategica pela UMinho. Arriscou ir para Dublin, na Irlanda, trabalhando em marketing e vendas na companhia aérea Ryanair e, desde 2013, na multinacional de serviços online Google, onde é gestor de operações de produtos.


Recorda-se do primeiro dia na UMinho?
Tenho memórias muito engraçadas do primeiro dia, desde o momento da inscrição às pessoas que conheci. O tempo voa...
 
O que o levou a optar pelo curso de Relações Internacionais?
Como nunca soube muito bem qual era a minha vocação, acabei por escolher um curso mais generalista que me permitisse trabalhar várias áreas ao mesmo tempo, para depois descobrir a que me traria maior satisfação. Embora a falta de especialização numa determinada área possa ser uma desvantagem no mercado de trabalho, continuo a acreditar que foi a escolha acertada, pois permitiu-me olhar para o mundo de forma diferente e apostar no desenvolvimento de soft skills.
 
Seguiu depois para o mestrado em Marketing e Gestão Estratégica. Por algum motivo específico?
Precisamente pela falta de especialização. A dada altura do meu percurso, apercebi-me que tinha maior apetência pelas disciplinas económicas e de gestão. Escolhi um mestrado que me ajudasse a compreender melhor esse mundo da gestão de marcas. Um universo cheio de boas oportunidades profissionais. 
 
Que tipo de aluno era? Aplicado ou bon vivant
Boa pergunta! Acho que era melhor perguntar aos meus professores. Sou suspeito [risos]. Procurei viver esta experiência ao máximo, equilibrando os momentos de lazer com o estudo. Olhando em retrospetiva, o meu percurso académico teve o seu mérito, com bons resultados, ao mesmo tempo que me diverti, criei excelentes recordações e fiz amigos para a vida.
 
Entretanto já passaram dez anos desde o seu ingresso na melhor academia do país. Considera que contribuiu para o seu desenvolvimento profissional e pessoal?
Definitivamente. Por vezes é difícil ter noção do quão importante é frequentar uma Universidade com boa reputação até chegar a um patamar de maior competitividade. Conheci várias pessoas que elogiaram a qualidade do ensino da UMinho.
 
Depois de se diplomar, arranjou trabalho na Ryanair na área das vendas e marketing. Deu tempo para visitar alguns países?
Claro! Em seis meses visitei 10 países e apanhei 100 voos, o que significa uma média de quase um voo a cada dois dias. Estando integrado no Departamento de Marketing e Vendas, tive a oportunidade de participar na inauguração de novos aeroportos e no lançamento de novas rotas e campanhas de revitalização da marca em mercados com resultados menos bons. Não foi nada aborrecido, garanto [risos]! Foi uma aventura, muito intensa e cansativa, que me deu imenso prazer, pois despertou o meu espírito aventureiro e de viajante. 
 
Em 2013 decidiu “arriscar” e concorrer para a Google. Foi fácil convencê-los de que era a melhor opção? Como correu a entrevista de trabalho?
É engraçado porque a minha abordagem focou-se precisamente em mostrar-lhes o que ganhariam em ter-me como membro da equipa e o que traria de diferente ao perfil típico de quem lá trabalha. A Google recebe milhões de curricula vitae todos os anos e são poucos os que chegam à entrevista. Creio que foi a minha atitude na entrevista que me levou ao sucesso. É importante focarmo-nos no que podemos acrescentar à empresa, para que o empregador olhe para nós como um investimento e não um custo. 
 
Está a morar em Dublin (Irlanda) desde então. Como foi a adaptação?
Correu bem, embora com algumas dificuldades em termos familiares e climáticas. Nunca tinha morado sozinho. Foi a primeira vez que não pude contar com o meu suporte familiar para me ajudar a crescer. Ao nível meteorológico, a fama (merecida) da Irlanda fala por si. O tempo acaba por ser ameno durante o ano inteiro, o que é difícil para um português que precisa de sol e de praia [risos]. Tirando isso, é um país muito acolhedor, com uma cultura semelhante à portuguesa na maneira como as pessoas se relacionam. Gosto muito da filosofia de trabalho, valoriza o crescimento dos trabalhadores e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Ou seja, são mais “prós” do que “contras”. Tem sido uma experiência gratificante.
 
Como é trabalhar numa das multinacionais mais “cobiçadas” do mundo?
É importante acreditar na missão e nos valores da empresa, de forma a que acordar de manhã seja um prazer e não uma obrigação. Sou um “generalista” por definição e tento crescer um pouco mais todos os dias. Trabalhar na Google é um motivo de grande orgulho. Tenho consciência de que trabalho num ambiente privilegiado em relação a outras profissões e empresas. Regalias como ginásio, massagens ou oferta de comida fazem com que te envolvas mais e acabes até por criar uma “identidade coletiva” em que todos sentem maior motivação e gostam de “vestir a camisola”.
 
Que funções está a assumir?
Tive várias funções desde que cheguei à empresa. Comecei como especialista da plataforma Google Shopping, prestando suporte técnico aos maiores clientes da Google. Fui progredindo à medida que o meu domínio técnico foi evoluindo. Neste momento, trabalho como consultor de operações, mais concretamente supervisionando equipas subcontratadas para prestar suporte aos diferentes produtos.
 
O que faz dos seus tempos livres?
A maior parte do meu tempo livre é passada a fazer desporto ou a comer. Eu e a minha noiva Marlene Araújo adoramos experimentar pratos novos. Somos grandes fãs do brunch ao fim de semana - um hábito tão irlandês. Para queimar essas calorias, recorro ao meu segundo hobby, que é a corrida. Ajuda-me a escapar ao stress do dia a dia. Procuro fazê-lo frequentemente de forma a manter a mente sã, o que é superimportante para quem trabalha em ambientes competitivos.
 
Onde se vê daqui a 10 anos?
Espero daqui a 10 anos poder estar a dar esta entrevista a partir de Portugal! Regressar ao único país que me faz sentir em casa, com outras perspetivas profissionais e com esperança de constituir família com a minha noiva, com a ajuda do suporte familiar de ambos. É encorajador ver que Portugal está a recuperar da crise económica, mas ainda é muito cedo para sequer imaginar que conseguiria as mesmas oportunidades e condições que tenho atualmente. De fora, estou a torcer para que as coisas corram bem para que possa voltar antes desses 10 anos passarem...
 
Que conselhos daria aos alunos da UMinho?
Desfrutem ao máximo desta fase, participem em atividades extracurriculares, alimentem o vosso networking, façam novas amizades e apostem em conhecer-vos melhor. Este tipo de experiências e skills vai acompanhar-vos para toda a vida, independentemente da carreira que seguirem. O resto pode ser aprendido durante a “viagem”. 



Fã do Benfica, dos Foo Fighters e do arroz de tomate da mãe
 
Um livro. “Who Moved My Cheese?”, de Spencer Johnson. Aconselho vivamente!
Um filme. Sou mais de séries. Diria “Breaking Bad”.
Um disco.  “One by one”, dos “Foo Fighters”. O melhor concerto da minha vida foi com estes “rapazes”. 
Um clube. glorioso, claro: Benfica.
Um desporto. Futebol e basquetebol. Não consigo escolher.
Um passatempo. Comer... muito!!!
Uma viagem. Backpacking pela América do Sul durante uns mesitos
Um prato. Sardinhas com arroz de tomate e broa. Só se for feito pela minha mãe.
Um vício. Viajar, definitivamente. Tudo o que é novidade desperta a minha atenção.
Uma personalidade. Admiro muitas pessoas, mas sou contra o culto das personalidades. Abstenho-me aqui.
Um momento. Quando a minha noiva se mudou para Dublin. Uma grande decisão.
Uma frase. “If you do not conquer self, you will be conquered by self”, do escritor estadunidense Napoleon Hill.
Um sonho. Deixar um mundo mais unido e menos violento para as gerações futuras.
A UMinho. Uma grande instituição e um livro de memórias.