“A Casa Museu de Monção tem um público fiel e interessado”

19-02-2018 | Catarina Dias

A Casa Museu de Monção, criada em 2002, está sob a coordenação de José Viriato Capela, professor catedrático do Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais da UMinho

Maria Teresa Salgueiro doou parte da sua fortuna à UMinho. Depois de viver parcialmente a sua vida em Lisboa, faleceu em Monção em 2001

Mais de metade dos visitantes da Casa Museu de Monção vem da vizinha Espanha

Inauguração de uma exposição com o então reitor António M. Cunha, José Viriato Capela, Rámon Villares, presidente do Consello da Cultura Galega, e o artista Pintomeira, em março de 2016

Professores de artes da Escola Superior Gallaecia expõem as suas obras na CMM

A CMM participou na homenagem aos portugueses mortos pelo franquismo na Galiza durante a guerra civil espanhola, com o descerramento de uma placa no Parque da Lodeira, em maio de 2012

José Viriato Capela (à direita) no colóquio "Expressões de Cidadania no Feminino", em Monção, em setembro de 2015

A CMM comporta um espólio "muito diversificado", que inclui desde mobiliário francês a tapeçarias, porcelanas e cristais

O recheio do 1º piso retrata a forma de viver de uma família da alta burguesia do século XX

José Viriato Capela na cerimónia de atribuição do doutoramento honoris causa a Rámon Villares, de quem foi padrinho, em junho de 2015

Jardim da Casa Museu de Monção durante a primavera

Vista aérea da Casa Museu de Monção

A sala de exposições temporárias acolhe trabalhos artísticos todos os meses. Neste momento pode ser apreciada a mostra "El Realismo", do galego Angel Torres

Exposição "Momentos Rurais", de Rui Pires, uma parceria da CMM com o mestrado em Comunicação, Arte e Cultura da UMinho

Exposição "Cores da Vida", de Aurora Fernandes, na Casa Monção de Monção

Mostra "Por terras da Deu-La-Deu" é uma homenagem do pintor João Guedes à sua terra e às gentes de Monção

"Lendas e Histórias, Identidade de um povo", do monçanense Puskas, com 37 pinturas, a maioria em estreia para o público

Natural de Lisboa, Maria Teresa Salgueiro não tinha descendentes diretos

1 / 18

Início do ciclo de entrevistas aos responsáveis das seis unidades culturais da UMinho, com José Viriato Capela, diretor da Casa Museu de Monção.




A Casa Museu de Monção (CMM) surgiu em 2002 depois de uma doação de Maria Teresa Salgueiro à UMinho. Com que objetivo?
A dona Maria Teresa Salgueiro não tinha descendentes diretos e, tendo ficado viúva, entendeu em testamento, realizado em 1991, uma década antes da sua morte, instituir dois herdeiros: a Santa Casa da Misericórdia de Monção, em homenagem ao seu pai, de origem monçanense, e a Santa Casa da Misericórdia do Sardoal, terra de origem do seu marido. Deixou também um legado a favor da UMinho, sendo que na sua residência de Monção deveria ser constituída uma unidade cultural denominada Casa Museu de Monção. À UMinho caberia criar condições para divulgar e valorizar o imóvel e o seu recheio. A Universidade comprometeu-se a destacar o património nas suas vertentes etnográficas e sociológicas, constituindo seu objetivo cultural principal a criação de condições para sublinhar, expor e divulgar, no imóvel legado, as características mais impressivas do modo de viver na primeira metade do século XX no Alto Minho. Circunscrevendo mais regionalmente a sua intervenção, ficou também determinado que a CMM-UMinho teria de dar especial atenção ao meio e às instituições da região, apoiando e integrando-se nas suas manifestações culturais e incentivando o interesse pelas atividades artísticas e educacionais que tenham ligação ou permitam despertar a curiosidade das pessoas pelo espaço.
 
Como descreveria o espaço para quem ainda não o visitou? O que comporta o seu espólio?
Trata-se de um edifício do século XVIII, que mantém o primeiro piso tal como existia quando este era habitação familiar. Através dele consegue-se retratar a forma de viver de uma família da alta burguesia no início do século XX. O espólio é muito diversificado, constituído por materiais que existiam na casa de Monção e outros que vieram das casas de Lisboa. Destacam-se mobiliário francês e português em pau preto, tapeçarias, pratas, porcelanas, cristais, para além de todos os bens pessoais da senhora Teresa Salgueiro. Não se trata de um simples museu, mas sim de uma Casa Museu. Uma casa que foi vivenciada e que transporta a alma da testadora e da sua família.
 
É uma paragem obrigatória para quem vive ou visita essa região pela primeira vez?
Certamente! A CMM assumiu desde muito cedo um papel importante na dinamização cultural da região. Nos primeiros anos, foi assinado um protocolo de cooperação com o Município de Monção em que a Casa ficou responsável pela dinamização do Dia do Concelho. Mas a sua atuação não se limita apenas a esta iniciativa. São também organizados, com bastante regularidade, colóquios, conferências e seminários internacionais. De destacar, ainda, o extenso plano de edição de obras importantes para a região do Alto Minho e da Galiza e a nossa sala de exposições temporárias, que acolhe todos os meses mostras de pintura, escultura e fotografia.
 
Como avalia a recetividade do público?
A sala de exposições temporárias tem imensas visitas. Às vezes até ficamos surpreendidos com o número elevado de visitantes, principalmente galegos. Este espaço tem duas portas enormes voltadas para a rua, o que convida o público a entrar. A adesão das pessoas depende muito do tipo de atividade. Algumas são muito requisitadas, outras nem tanto. O problema da atração dos públicos coloca-se em qualquer parte do mundo e sendo Monção uma vila pequena é natural que este seja, por vezes, um entrave à realização de determinadas atividades. A CMM, ao ser um espaço da UMinho, tem o seu selo de qualidade e, como tal, o público que nos frequenta é fiel e interessado. 
 
Das seis unidades culturais da academia, esta é a que está mais longe. A sua localização tem privilegiado o aprofundamento das relações culturais com a Galiza. De que forma?
A CMM é, pela sua natureza geográfica, uma unidade cultural aberta à interação com a sociedade local e galega e, como tal, está sempre disponível para colaborar com os projetos que surgem para a dinamização desta zona alto-minhota. Ao mesmo tempo, constitui-se como suporte de abertura e conhecimento dos projetos da Universidade no Alto Minho. A interação com a Galiza é uma base de trabalho sólida para nós. O Consello da Cultura Galega é um parceiro de excelência, com quem colaboramos regularmente na organização de inúmeros eventos culturais, como as Conversas da Raia, e na elaboração de publicações conjuntas. Mais de metade dos nossos visitantes é da vizinha Espanha e isso é comum nestas terras de fronteira. Os espanhóis têm hábitos culturais mais profundos do que muitos portugueses.
 
Em que medida projetos como o da CMM contribuem para a missão da Universidade?
Naturalmente que a CMM contribui intensamente para a missão da UMinho. Para além da sua presença no Minho e no Alto Minho, serve de ponte para as relações com instituições galegas. Existe também uma forte articulação com as Escolas/Institutos e outras estruturas da Universidade, que promove frequentemente congressos em Monção, bem como reuniões da equipa reitoral e do Conselho Geral. Pela sua posição estratégica, por exemplo, a Fundação CEER - Centro de Estudos Euro-Regionais Galiza-Norte de Portugal reúne regularmente em Monção.



Livro comemorativo para breve
 
A UMinho foi a instituição escolhida para Teresa Salgueiro valorizar e divulgar parte do seu espólio. Porquê? 
A dona Teresa Salgueiro fez imensa pesquisa antes de tomar essa decisão, mas certamente que um dos fatores que mais a influenciou foi o facto de a UMinho se destacar por ter em si um órgão como o Conselho Cultural, que já detinha o Arquivo Distrital de Braga, a Biblioteca Pública de Braga e o Museu Nogueira da Silva (que também resultou de um legado à instituição). Uma realidade que permitia à Universidade ter uma experiência acumulada e um saber fazer para assumir mais este legado.
 
Chegou a conhecê-la?
Não a conheci pessoalmente. Mas há muitos testemunhos positivos do seu caráter e da sua personalidade. Algumas das suas funcionárias, que a conheceram profundamente, também são funcionárias da Casa. Estamos a ultimar, neste momento, um livro evocativo do centenário do seu nascimento e dos 15 anos de atividades da Casa Museu.