Um Centro de Excelência no horizonte
As ciências da visão são um campo de trabalho complexo. Como se motiva um jovem para elas?
Eu diria que não é muito complicado. A investigação que temos feito é bastante aplicada e está muito relacionada com a indústria e com equipas internacionais e isso estimula-os muito. Agora estamos a tentar evoluir na investigação com aplicações para facetas mais fundamentais, para a entrada no campo das neurociências, da perceção visual e dos mecanismos fundamentais da visão, mas sempre em contextos de aplicações concretas. Esses sim, são campos de investigação complexos, mas muito aliciantes, se aliados a uma aplicação futura.
Onde vê os grandes desafios atuais da ciência nesta especialidade?
Em termos científicos puros precisamos perceber os mecanismos fundamentais da visão ao nível neurológico, desde a retina até ao sistema nervoso central, para perceber como esses mecanismos podem explicar alguns aspetos muito práticos. Por exemplo, porque algumas pessoas se adaptam muito bem e outras nem tanto na presbiopia (correção da vista cansada), com lentes de contacto ou intraoculares, ditas multifocais, para poder ver a diferentes distâncias. Nós conhecemos e medimos as consequências práticas, mas desconhecemos muitos dos mecanismos fundamentais. Outro desafio para os próximos anos é perceber o mecanismo que permite que um olho possa controlar o seu crescimento, tornar-se maior ou mais pequeno, utilizando apenas um determinado dispositivo ótico. Portanto, os mecanismos fundamentais por detrás de alguns aspetos empíricos que nós observamos ainda estão por descobrir.
Também aqui a ciência é multidisciplinar?
Sem dúvida. É aí onde pretendemos dar mais contributo. Há equipas que se debruçaram muito na aplicação clínica, outras que se centraram muito nos mecanismos fundamentais em laboratório e nós queremos fazer a ligação, naquilo que é o aspeto prático, tendo ao mesmo tempo os procedimentos e tecnologias que nos permitam avaliar, de um ponto de vista mais fundamental, como é que o órgão da visão está a reagir e porquê. Tentamos ligar a investigação fundamental e a investigação aplicada, no mesmo local, porque entendemos que é a melhor forma desta ciência evoluir. Fazêmo-lo com equipas onde já estão optometristas, oftalmologistas, físicos, engenheiros biomédicos, matemáticos... - acreditamos vão proporcionar algumas das respostas às nossas grandes dúvidas.
Sendo ainda jovem, que patamares pretende alcançar? Onde se vê daqui a dez anos?
A minha grande ambição é contribuir para consolidar na UMinho um centro de excelência em ciências da visão. As ciências da visão abarcam um conceito muito alargado que vai além da optometria, envolvendo assim a perceção visual, a instrumentação e outros domínios que abordamos no Centro de Física. Gostaria muito de ter no futuro tudo isto consolidado num centro de referência, afirmado a nível internacional nas ciências da visão e da optometria.
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