A cultura na base de uma carreira multifacetada

30-04-2018 | Daniel Vieira da Silva

Liliana Moreira com alguns colegas de curso

Com alguns colegas de curso, 20 anos depois

Liliana Moreira com o marido na estreia do musical que escreveu

Liliana Moreira na sua experiência Erasmus em Santiago de Compostela

Liliana Moreira no cortejo da UMinho

Com o maestro Rui Massena no Serviço Educativo de Música na Madeira

Em gravação para o Franchising Magazine

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Liliana Moreira

A alumna da UMinho passou pela TV, escreve para teatro e tem um projeto que envolve presentes personalizados. Sente-se concretizada, mas admite que há projetos na gaveta por concretizar.


Licenciada em Comunicação Social pela UMinho, Liliana Moreira tem um percurso profissional intimamente ligado à cultura. A música e as artes performativas ganharam espaço ao jornalismo televisivo numa carreira que até poderia ter sido "desviada" para a Medicina. Agora, o projeto que lançou - Caramelo - ocupa-lhe grande parte dos dias. É a oportunidade de criar e inovar a ganhar espaço.


Recorda-se do primeiro dia na Universidade do Minho?
Ao contrário da maioria dos colegas, eu já não era caloira. Tinha estado um ano na Escola Superior de Educação de Portalegre, de onde tinha sido transferida. Mas encontrei logo um pequeno grupo de alunos na mesma situação, por isso a adaptação à Universidade e a Braga foi serena. No segundo dia já passeava muito confiante pelos corredores da UMinho!
 
Que principais recordações guarda da academia?
São demasiadas para caber num resumo. Mas são memórias felizes e sem prazo de validade. Conheci professores inspiradores, competentes e atentos, e colegas que passaram a amigos, e de amigos a família. A UMinho é uma referência. Já o era então.
 
Teve nesse período alguma passagem associativa/cultural/desportiva?
Infelizmente não. Como estava a terminar o Curso Complementar de Música em simultâneo, passei grande parte do tempo a estudar piano no Conservatório Calouste Gulbenkian de Braga, que me cedeu uma sala para estudo, à noite. O tempo, portanto, era pouco!
 
Mantém algum tipo de ligação com as relações criadas na UMinho?
Quer com professores, quer com alunos, sim. Do meu grupo mais próximo de amigos fazem parte colegas de curso e continuo a acompanhar o percurso de alguns professores [do Instituto de Ciências Sociais da UMinho] que admiro e que me orientaram.
 
O que motivou a escolha do curso?
Na verdade, eu queria seguir Medicina. Ou achava que esta seria a minha escolha. Como não entrei numa primeira fase, depois resolvi concorrer para jornalismo, a segunda oção. Tinha vaga em Portalegre mas o objetivo sempre foi ir para a Universidade do Minho ou então, em alternativa, para fora do país.
 
Acha que a academia a moldou para as questões profissionais e pessoais?
Completamente. Aqueles cinco anos foram fundamentais para me certificar que tinha feito uma segunda escolha mais acertada do que seria a primeira! Não quer dizer que a concretização de uma carreira na Medicina não fizesse sentido, mas hoje já me parece uma ideia demasiado distante do que sou, ou do que me tornei. Talvez quando os meus filhos crescerem me aventure... [sorriso]
 
De uma forma sintética consegue guiar-nos pelo seu percurso profissional desde o momento em que saiu da UMinho?
Estagiei no Acontece, com a cuidada orientação do professor Luís Santos e do jornalista Carlos Pinto Coelho (que faleceu em 2010). Depois tive a oportunidade de fazer o programa 7 en Route, para o canal franco-alemão ARTE. Seguiram-se diversos programas para a NTV, RTPN, RTP e a 2:, quer como apresentadora, quer como jornalista e produtora. Pelo meio nunca deixei a música e, por isso, embarquei numa aventura solitária em Nova Iorque, onde estudei Teatro Musical e Cinema, na Universidade de Nova Iorque. Foi lá que acabei por fazer também o Magazine Contacto, para a RTP Internacional. Regressei a Portugal, fiz teatro, primeiro como atriz e depois como autora. Lecionei música e, nesse seguimento, fui para a Madeira, a convite do maestro Rui Massena, para coordenar o Serviço Educativo de Música da Orquestra Clássica da Madeira. Dois anos depois regressei a Gaia, já em 2009, e lancei o projeto Caramelo. Continuo a escrever para teatro e música e a cantar profissionalmente.
 
Trabalhou na área da televisão alguns anos. O que recorda desses tempos?
A televisão é um meio muito particular, para mim o mais desafiante e complexo. Confesso que me faz tremer, mas de uma forma estimulante. Só que me esgotei nesse caminho. Precisava de mais. Sobretudo, precisava de criar! Mas hoje tenho saudades, claro!

Como surgiram as oportunidades para escrever para teatro?
A primeira oportunidade foi ainda na Escola de Música que frequentava. Não sei quantos anos teria, mas não mais de 20, talvez. Surgiu a ideia de adaptar um espetáculo em inglês para a nossa língua. Como sempre gostei de escrever, propus-me fazê-lo. E correu bem. Desde aí, não parei.
 
Estudou canto e piano… Não estaremos por descobrir uma excelente cantora ou pianista?
Nem uma coisa nem outra. Sou uma cantora esforçada, que diz a música mais do que canta. Gosto das palavras e da música das diferentes línguas em que tenho oportunidade de cantar. Já o piano não é, de todo, o meu instrumento favorito. Estudar piano foi mais um exercício de paciência, esforço e dedicação do que de vocação.

É sócia proprietária da Caramelo. Consegue dar-nos conta de que projeto é este?
É um projeto online, uma empresa de presentes personalizados através de texto e ilustração, eventos e branding. Foi uma ideia de negócio que acabou por se concretizar e hoje ocupa uma grande parte dos meus dias.
 
Abraçou recentemente o desafio do "Teatro para Bebés”. Que expectativa tem?
Teatro para Bebés é uma marca registada, que promove espetáculos para a primeira infância. Já existe há seis anos eu acompanhei, como espectadora, quatro anos deste percurso. Numa altura de mudanças do projeto, fui convidada a criar a dramaturgia desta próxima temporada. Como mãe de duas crianças, de 1 e de 4 anos, o estímulo é grande e as ideias são muitas. Estou ansiosa por estrear-me neste desafio.

O seu percurso está sempre intimamente ligado às artes… De onde veio esta conexão?
Na minha família materna há uma ligação íntima com a música. Tios e primos (e agora primos mais novos e afilhado) tocaram sempre em bandas filarmónicas nas suas cidades. Acho que isso motivou os meus pais a possibilitarem-me ter aulas de música. Depois, tive a sorte de ser aluna, e mais tarde professora, numa escola inovadora e muito aberta a todas as artes e que ainda hoje é uma referência no ensino. A Academia de Música de Vilar do Paraíso permitiu que eu experimentasse escrever música em Festivais de Jovens Compositores e promoveu o meu interesse pelo teatro, dança, artes performativas...

Sente-se concretizada com o que faz?
Sou uma felizarda. Mesmo assim não quero ficar por aqui. Ainda tenho muitos projetos para arrancar da gaveta.

Onde se vê daqui a dez anos?
A viajar com a família, a arquitetar novos projetos de teatro, a escrever para músicos que admiro, a pensar em mais um ou outro livro infantil, a concorrer a Medicina... Terei 50, nessa altura. Ainda tenho muito para sonhar!
 
Deixa algum conselho para quem está ou vai chegar à UMinho?
Aproveitem esse delicioso caminho. Aproveitem e deem-se a conhecer. Permitam-se apaixonar pela vossa área de estudos ou até outra, quem sabe. Sempre com a janela aberta.
 
 

  Perfil

  Uma música. Duas: "Into My Arms", de Nick Cave e "Blackbird", dos The Beatles.
  Um livro. Dois autores: António Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe.
  Um filme. O incontornável "Cinema Paraíso", de Giuseppe Tornatore.
  Um desporto. Ginástica rítmica, que já pratiquei.
  Um prato. Tudo o que é cozinha portuguesa: do peixe à carne, dos enchidos aos doces.
  Um vício. Chocolate.
  Uma coleção. Livros infantis.
  Uma personalidade. Não há obras perfeitas, mas o mais próximo disso no teatro musical continua a ser escrito pelo
  brilhante Stephen Sondheim.
  Um momento. O nascimento dos meus filhos.
  Uma viagem. Os três meses em viagem pela Europa, de autocarro, com a equipa do 7 en Route.
  Um lugar. Dois: Nova Iorque e a Granja (Gaia).
  Um lema. Vamos!
  A UMinho. A minha história.