UMinho era sonho e a Europa o caminho - uma alumna no Tribunal de Justiça da UE

27-11-2018 | Daniel Vieira da Silva

Foi distinguida duas vezes no Prémio Jacques Delors, nas edições de 2012 (na foto) e 2017

Com Alessandra Silveira e Joana Rita Abreu, também investigadoras do Centro de Investigação em Justiça e Governação (JusGov) da UMinho, no "Encontro Ciência'18", realizado em julho em Lisboa (foto: CEDU-UMinho)

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Sophie Perez Fernandes

Tem apenas 32 anos e já concluiu três graus de ensino na UMinho: licenciatura em Direito, mestrado em Direito da UE e doutoramento em Direito - Áreas Jurídicas Públicas. Pelo meio teve uma série de prémios e reconhecimento, que a levam agora a referendária no Tribunal de Justiça da União Europeia.


Licenciou-se em Direito na Universidade do Minho, obteve mais tarde o grau de mestre e ainda fez o doutoramento na mesma Escola. Passados 14 anos da sua chegada à UMinho, que memórias guarda dos seus tempos de estudante?
Em perspetiva, guardo ótimas memórias! Houve de tudo um pouco, bons e maus momentos, momentos caricatos, alguns inesquecíveis e outros que o tempo já levou, deturpou ou permitiu esclarecer. À imagem e semelhança da vida, a UMinho teve disso tudo em dose q.b.!

Quanso surgiu a ideia de estudar na área do Direito?
Na realidade, surgiu depois da ideia de estudar “assuntos europeus” ou “relacionados com a União Europeia”, como referia na época. Não sabia exatamente como concretizar essa ideia, até ter consultado diversos planos de estudo de diversas licenciaturas e, por razões pragmáticas, ter focalizado a minha atenção nos cursos de Direito, em especial o da UMinho. Mas fiquei rendida após a primeira aula, sobre Direito Constitucional, na qual me apercebi que estudar Direito me iria desvendar um outro lado do espelho da vida. Um tributo também à qualidade do ensino na UMinho e na EDUM, em particular – peço desculpa por, de certa forma, aqui também “dizer justiça em causa própria”…
 
Porquê a Universidade do Minho para estudar no ensino superior?
Sonho de menina… Ainda Portugal era somente o meu destino de férias (assim foi até aos meus 8 anos, após o que a família, vinda de Paris, se instalou em Viana do Castelo). Nessas férias visitava ocasionalmente Braga. A ideia de universidade e a UMinho, em particular, encantavam-me! Quando chegou o momento da candidatura ao ensino superior, a escolha já estava praticamente feita!

Sente que viveu com intensidade a academia nos seus tempos de estudante?
Com toda a honestidade, não. Ou melhor, depende do que se entende por “vida académica”! Vivi intensamente a minha versão da vida académica. Mas a vida académica estudantil, tal como é geralmente concebida, não encaixava no meu perfil…

Já antevia o seu futuro profissional naquela altura? O encaminhamento para questões de Direito na UE foi algo natural ou existiu uma razão que motivou essa tendência?
Quanto à primeira pergunta: não, de todo. Há 14 anos nada me permitia antever que estaria hoje onde estou ou que teria percorrido o que percorri para cá estar. Quanto à segunda pergunta… O encaminhamento para as questões europeias foi algo de natural. Tendo nascido em França, de pai português e mãe espanhola, penso que sempre esteve aí, em estado latente. Mas ganhou plena forma tinha eu 14 anos por ocasião de uma visita ao CIEJD (Centro de Informação Europeia Jacques Delors), em Lisboa. Já o encaminhamento para questões de Direito da UE surgiu quando iniciei a licenciatura. E assim a UMinho permitiu-me conciliar a paixão que nasceu comigo pelas questões europeias com a razão que me fez, jovem adulta, escolher a via do Direito.

Considera que esta passagem pela UMinho moldou a sua personalidade e, por conseguinte, a sua abordagem profissional?
Sem dúvida! A UMinho faz parte do meu percurso e moldou determinantemente o meu perfil profissional.

Recebeu alguns prémios e reconhecimentos. Qual foi aquele que mais significou para si? Porquê?
Sem prejuízo dos prémios da AEDUM (Associação de Estudantes de Direito da UMinho) – porque os prémios da casa têm sempre um sabor especial! –, devo responder que é o Prémio Jacques Delors 2012: por ter sido atribuído pelo CIEJD e pelas razões expostas acima, por isso muito especial.
 
E que impacto teve para si esse prémio?
Esse prémio era algo que pertencia ao mundo do inacreditável e, de repente, tornou-se realidade! Mas a Menção Honrosa que o CIEJD me atribuiu na edição 2017 do Prémio Jacques Delors também foi muito sentida por se tratar do reconhecimento da minha tese de doutoramento, ainda que só de uma parte – isto porque a tese de doutoramento é absolutamente marcante em qualquer percurso académico.
 
Desde que "saiu" da UMinho, qual foi o seu percurso profissional?
Depende do que se entende por “sair da UMinho”. Desde que terminei a licenciatura, fiquei pela UMinho – na dupla qualidade de aluna (mestrado e doutoramento) e docente. Desde há algumas semanas iniciei funções de referendária no Tribunal de Justiça da União Europeia, no gabinete do professor Nuno Piçarra. Mas não deixei totalmente a UMinho…!

Que expectativas tem para esta função?
O trabalho de referendário/a no Tribunal de Justiça consiste, no essencial, no acompanhamento dos casos pendentes nessa jurisdição, em particular os casos atribuídos às secções onde o juiz tem assento. As tarefas em concreto são variadas, incluindo a análise jurídica desses casos, a sua discussão com colegas, a colaboração na elaboração de relatórios e projetos de decisão. As expectativas são, por isso, de muito trabalho! Um desafio que encaro com entusiasmo e sentido de responsabilidade.
 
O que considera ter sido a mais-valia determinante para ser escolhida para ocupar o cargo que agora ocupa?
Quem me escolheu saberá seguramente responder melhor! Mas acredito que tenha sido um cúmulo de fatores variados, do meu percurso académico às minhas competências linguísticas, passando por um concurso de circunstâncias.

Vai continuar ligada à Escola de Direito?
No que me for possível, sim!

Quando ouve falar de UMinho, que sentimento lhe vem à cabeça?
De aprendizagem, em sentido amplo: não só de conhecimentos, mas da vida.
 
Sente-se concretizada com o que faz?
Muito!

Onde se vê daqui a dez anos?
Essa é uma pergunta difícil… Preferencialmente, aqui, no sentido de "algures na União Europeia"! Em que Estado-Membro concretamente…? Voltamos a falar dentro de dez anos, pode ser? [sorriso]
 
Deixa algum conselho para quem está ou vai chegar à UMinho?
Correndo o risco de cair no cliché, o conselho para quem está na UMinho seria de aproveitar ao máximo todas as oportunidades e potencialidades da instituição e das suas gentes; e para quem vai chegar à UMinho, o mesmo conselho, com a nota adicional de que está no bom caminho!



  Perfil

  Uma música. A postcard to Henry Purcell (Dario Marianelli).
  Um livro. Só um?... To kill a mockingbird (“Mataram a cotovia”) (Harper Lee).
  Um filme. Singing in the rain (Gene Kelly / Stanley Donen).
  Um desporto. Ténis (mas não sou praticante…).
  Um prato. Qualquer prato de massa!
  Um vício. Livros.
  Uma coleção. Moedas comemorativas de 2 euros…!
  Uma personalidade. Jean Monnet.
  Um momento. As minhas provas de doutoramento.
  Uma viagem. Já feita, mas significativa: Luxemburgo; por fazer: Canadá.
  Um lugar. Paris (as origens…).
  Um lema. “Não me sonhem, nem me outrem.” (Fernando Pessoa).
  A UMinho. (Re)Conhecimento.