Haverá medicina preventiva no horizonte?
Desengane-se quem pensa que a transferência do conhecimento para a sociedade se faz da noite para o dia. Assim, o PersonalizedNOS também vai transferindo para a fase de ensaios clínicos um conjunto de intervenções e práticas, para mais tarde serem incorporadas na prática clínica.
Num outro ponto de vista, pode considerar-se que a transversalidade é por si complexa. No entanto, o investigador considera que a prática dos cuidados de saúde mudou e o paradigma do individuo que é visto por um único médico deixou de existir. A prática dos cuidados de saúde é hoje desempenhada por equipas e grupos de trabalho, o que “sendo uma nova praxis na área da medicina e da saúde, também tem vindo a ser introduzida há muitos anos na investigação científica, envolvendo diversos saberes científicos”.
O financiamento atribuído de quase quatro milhões de euros, com comparticipação de 85% da União Europeia, tem um timing definido e objetivos e outputs previstos, que “felizmente, parece que se vai atingir e muito provavelmente ultrapassar”, revela Nuno Sousa. O projeto envolve dezenas de cientistas dos diferentes domínios do ICVS, embora em termos práticos a rede seja mais distribuída. “Os investigadores oferecem, através do seu trabalho específico, inputs das suas próprias redes de trabalho que exponenciam esta equipa, com um grande grupo de colaborações indiretas e informais”, esclarece.
Todavia, enfatiza que, “do ponto de vista do conceito e da ciência que está a ser produzida, o projeto não se esgota no tempo”, pois haverá trabalho a prosseguir, eventualmente com outros projetos financiados e outras investigações, pois “esta é uma linha de pensamento que se concretiza em múltiplas dimensões”.
De resto, o conceito da medicina preventiva, sendo global, trabalhado em simultâneo em diferentes ritmos e em diferentes pontos do globo. Por outro lado, é de realçar a importância da multidisciplinaridade da investigação científica que também se aplica na medicina. “Há aqui médicos, mas também biólogos, bioquímicos, matemáticos, psicólogos, físicos e até engenheiros informáticos – a trabalhar quantidades gigantescas de dados e métodos –, que adicionam muitíssimo valor, porque têm uma abordagem distinta às mesmas questões e enriquecem o trabalho”, declara o médico investigador, convencido de que “a abordagem clássica de áreas específicas e isoladas do saber está tipicamente ultrapassada”.
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