Descobertas 34 espécies de crustáceos exclusivas das ilhas atlânticas

31-05-2019 | Nuno Passos | Fotos: CBMA

Os investigadores Pedro Soares, Pedro Vieira e Filipe Costa, no Instituto para a Bio-Sustentabilidade

As dez espécies aqui descritas com base em carateres morfológicos são afinal 44 pela análise de ADN agora realizada

Este Amphipoda é um dos exemplares recentemente descobertos pela análise de ADN

As zonas costeiras entre marés são o habitat das espécies encontradas

Estes locais são uma fonte de grande biodiversidade

Pedro Vieira em pleno trabalho, observando a vida que pulula nas saliências da costa insular ibérica

Detalhe aéreo do campus de Gualtar da UMinho, em Braga, tendo em primeiro plano a Escola de Ciências (onde está o Centro de Biologia Molecular e Ambiental) e no topo à esquerda o Instituto para a Bio-Sustentabilidade

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Cientistas do Centro de Biologia Molecular e Ambiental e do Instituto para a Bio-sustentabilidade participam em equipa internacional que encontrou inesperados padrões evolutivos nos Açores, Madeira e Canárias.


Uma equipa das universidades do Minho e Aveiro, em conjunto com investigadores do Brasil, Itália e Reino Unido, descobriu 34 prováveis novas espécies de invertebrados marinhos nos arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias (a Macaronésia), que não existem em mais nenhum local do mundo. Estes pequenos crustáceos, designados peracarídeos, destacam-se pelos padrões de diversificação e pela segregação geográfica que aparentemente perdurou por milhões de anos.
 
“É um património genético único a nível global. Estas espécies praticamente nasceram, viveram e vivem apenas ali”, diz o investigador Pedro Vieira, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade (IB-S) da UMinho. Os cientistas avaliaram sequências do ADN daqueles seres e as conclusões dos estudos saíram agora nas conhecidas revistas Molecular Ecology e Zoologica Scripta e foram destacados na revista de divulgação científica Barcode Bulletin. Na prática, dez espécies de peracarídeos descritas até agora ao nível da sua morfologia (ver na fotogaleria) são, na verdade, 44 se atentarmos à diferenciação do seu ADN. Ou seja, os peracarídeos têm mais grupos do que aquilo que se pensava. E a maioria destas espécies é restrita a uma ilha, sendo muitas vezes o único representante da sua linhagem.
 
Os pequenos crustáceos habitam a costa na zona entre marés e têm caraterísticas únicas face a outros organismos terrestres e marinhos. “O seu desenvolvimento é direto, sem fase larvar, logo a sua capacidade de dispersão é reduzida em oceano aberto”, afirma Pedro Vieira. Os padrões de distribuição geográfica não são, por isso, explicáveis pelos processos evolutivos reportados para outros invertebrados marinhos no Atlântico Nordeste, envolvendo a distância entre ilhas, a idade geológica das ilhas ou os ciclos glaciais. “Pensamos que a evolução destes invertebrados na Macaronésia se deveu a mecanismos alternativos, como a colonização antecipada do habitat e a multiplicação (efeito de prioridade) ou a vantagem competitiva pelos recursos existentes face a outras espécies ou populações (exclusão competitiva)”, refere.

A equipa do CBMA tem usado ferramentas moleculares para estudar a biodiversidade dos invertebrados marinhos naquelas ilhas, mas até aqui não tinha observado um caso tão extremo de diversificação e segregação geográfica. “Ficámos surpresos ao descobrir, pela análise do ADN, que esta segregação aconteceu num passado evolutivo muito remoto e terá perdurado vários milhões de anos, atravessando inclusive períodos glaciares e mudanças no nível do mar”, acrescenta Pedro Vieira.