“Víamos a internet como uma coisa do outro mundo!”

31-05-2019 | Pedro Costa | Fotos: Nuno Gonçalves

Está há 25 anos na UMinho, sendo assistente técnica do Departamento de Informática, no campus de Gualtar, em Braga

Com a equipa da última edição das XVI JOIN - Jornadas de Informática da UMinho, em junho de 2018

Com o professor Pedro Rangel Henriques, na SEI - Semana de Engenharia Informática da UMinho, em fevereiro de 2019

Ao lado de Alexandra Silva (ao centro), a alumna da UMinho vencedora do Prémio IBM, em outubro de 2011

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Helena Dias

Nasceu filha de emigrantes em França há 53 anos. Aí cresceu junto das vastas comunidades portuguesas de Lyon e começou por estudar em Letras. A família voltaria a Portugal em 1986 e teve que adaptar-se a uma realidade muito diferente. Outra mudança foi a sua chegada ao mundo da informática, primeiro em algumas empresas, até ingressar em 1993 no Departamento de Informática da UMinho.


Como foi a sua infância?
Tive uma infância muito feliz! Sou a irmã do meio, entre a mana mais velha e o mano mais novo. Tínhamos um jardim enorme, com baloiços, carros com pedais, piscinas improvisadas, sempre a correr de um lado para o outro! Na altura brincava-se ao ar livre. Os meus pais eram emigrantes e aos fins de semana os amigos e a família juntavam-se à volta de um almoço, ou de um churrasco ao final de tarde. Lembro-me de termos sempre a casa cheia. A minha mãe fazia bons petiscos.
 
Qual foi o seu percurso profissional antes da UMinho?
Estudei em Lyon até ao segundo ano da faculdade, em Letras e Civilizações Modernas na Universidade de Lyon II. Os meus pais sempre quiseram voltar para Portugal. Voltar para as raízes que cá tinham deixado. Eu e os meus irmãos sempre tivemos também a vontade de vir viver para cá. Os meus pais conseguiram transmitir-nos o amor que eles tinham pela sua pequena aldeia. O falecimento do meu pai em 1980 acabou por precipitar essa vinda e, em 1986, decidimos vir definitivamente para cá. Encontrei logo trabalho numa empresa de publicidade, a Norguia, que editava e publicava guias publicitários, do género páginas amarelas, mas limitados aos distritos do Norte de Portugal. Eu trabalhava em edição eletrónica, com o famoso PageMaker. Sempre gostei de tecnologias e de informática. Compunha o guia completo, páginas compostas por imagens e anúncios, que depois seguiam para a gráfica para impressão. Alguma coisa me iria conduzir ao Departamento de Informática (DI).
 
Como se deu a sua entrada nesta universidade?
Concorri em 1992 a uma vaga para 3º oficial administrativo no DI. Era por um ano. Fui a uma entrevista ainda nas instalações da UMinho na rua D. Pedro V. Na altura, quem me entrevistou foram os professores José Manuel Valença e Pedro Rangel Henriques. Fiz uma prova numa máquina completamente estranha para mim - um Macintosh retangular ao alto com um ecrã minúsculo. Como os computadores nunca me assustaram, lá fiz a prova. E fui contratada. O concurso demorou tanto tempo que quando finalmente me chamaram estava grávida da minha primeira filha. Mesmo assim apresentei-me no dia 4 de janeiro de 1993 nas novas instalações, já em Gualtar.
 
O que retém sobre os primeiros tempos na UMinho?
Entrei para um edifício completamente novo. O DI era junto do Departamento de Matemática, por cima do então Centro de Informática. Gostei logo de vir trabalhar para o DI. Tenho muito boas memórias. Fui muito bem recebida. O ambiente sempre foi bom. Na altura, o DI só tinha uma funcionária, a Paula Anjo, que hoje já não está na UMinho, mas recordo-a sempre com muita saudade. Aprendi muito com ela. O DI já era grande nessa altura, com muitos docentes, era uma confusão entre doutores de Ciências da Computação e engenheiros de Engenharia de Sistemas e Informática.

 
"Sou contactada quase diariamente pelas empresas à procura de alunos"

Que funções foi desempenhando?
Fiz um pouco de tudo, desde documentos de despesas - ainda com máquina de escrever e com papel químico! -, deslocações em serviço dos docentes, atendimento ao público, pois não havia a organização que há hoje e fazíamos o que era preciso no dia a dia. Mais tarde, a secretaria do DI foi reorganizada com mais pessoas e o serviço foi dividido. Felizmente, fiquei com a parte pedagógica e de apoio às direções de curso. Acompanhei as várias reestruturações dos cursos, impostos pelo Processo de Bolonha, a passagem das "famosas" LESI (licenciatura em Engenharia de Sistemas e Informática) e LMCC (licenciatura em Matemática e Ciências da Computação) para a LEI (hoje MiEI) e LCC.

E atualmente?
Sou responsável pela gestão pedagógica de todos os projetos de ensino ligados ao Departamento. Trato de todos os processos que envolvem as direções de curso das licenciaturas, mestrados e mestrados integrados e doutoramentos do DI. Sou o elo de ligação entre as direções de curso, os docentes, os alunos e os vários órgãos de gestão da UMinho. Sou também responsável pela gestão do Serviço Letivo do Departamento, em apoio à direção do DI, com todo o trabalho e planeamento que isso implica. Este trabalho de gestão dos projetos de ensino leva-nos também a projetar os nossos cursos dentro e fora da Universidade. Neste âmbito, sou também responsável pela ligação entre o DI e as empresas a nível nacional e internacional. Embora estejamos numa área em que a empregabilidade não seja um problema do lado dos nossos finalistas, o mesmo não se passa do lado das empresas. De facto, o crescimento da informática faz com que as empresas tenham uma enorme necessidade de contactar o mais cedo possível com os nossos formandos. É um mercado muito ativo e competitivo. Sou contactada quase diariamente pelas empresas à procura de alunos. Organizamos anualmente as Jornadas de Informática (JOIN) e este ano já estamos a recusar empresas por falta de espaço na agenda!
 
O que gosta mais no seu trabalho?
O que mais gosto na minha vida profissional e no meu dia a dia é o contacto com as pessoas! Trabalho num dos maiores departamentos da Escola de Engenharia e da própria UMinho, com mais de 50 docentes e num universo de mais de 900 alunos. Todos os dias tenho gente no gabinete! Alunos que precisam de ajuda, de orientação, que vêm entregar documentos, tratar de diversos assuntos. Docentes que precisam de tratar de variadas questões relacionadas com os cursos. Conheço muitos deles há mais de 25 anos e alguns já são amigos. Empresas que me contactam diariamente à procura de alunos e que procuram parcerias com a UMinho.
 
Que pessoas mais a marcaram na UMinho?
Não posso dizer nomes, seriam muitos com certeza, e não quero esquecer ninguém. Desde as que me acolheram e me apresentaram as instalações, passando por todos os meus diretores de Departamento - foram vários -, todos os diretores de Curso com quem trabalhei nestes anos e com quem muito aprendi, tanto a nível profissional como pessoal. Os meus colegas com quem trabalho todos os dias, as meninas da secretaria - seremos sempre meninas! [risos] - e os técnicos que "moram" um piso abaixo. Incluo os colegas que por aqui passaram e que já não estão no DI, mas que deixaram sem dúvida uma marca no Departamento e em mim. Todos têm um lugar especial, todos foram importantes e cresci muito com cada um deles. Não esqueço também todos os alunos que por aqui passaram e com quem ainda hoje mantenho contacto. Aprendi e continuo a aprender muito com eles todos os dias.
 
Que estórias curiosas guarda?
Lembro-me perfeitamente do dia em que um docente entrou de rompante na secretaria todo entusiasmado para nos mostrar a primeira página de internet disponível online numa máquina NEXT que tínhamos na secretaria - a única que tinha ligação à internet. Parecia uma descoberta do outro mundo! E era! Na altura nem sabíamos o quanto isso iria mudar a nossa vida.
 
O que ainda falta acontecer no seu percurso profissional?
Acho que falta acontecer muita coisa ainda. O mundo evoluiu tanto nestes últimos 25 anos, as tecnologias que uso hoje diariamente nada têm a ver com o dia em que entrei na Universidade. Ainda há muito por fazer. Acho que vai ser muito mais rápido a partir de agora. A vida é um desafio! Espero estar à altura e acompanhar essa fantástica evolução.
 


   Algumas notas pessoais

   Na minha gaveta guardo de tudo um pouco (é difícil deitar “coisas” fora…), como por exemplo disquetes com
    backups antigos, postais de Natal, cabos de rede (nunca se sabe quando vão fazer falta).
   Mal entro no carro ligo o rádio e abro os vidros, mas em casa prefiro o quentinho do meu sofá.
   Considero-me uma pessoa leal e penso que os outros me acham responsável.
   Num jantar, não dispenso uma boa sobremesa.
   Ao fim de semana, passo o meu tempo com o meu marido, as minhas filhas, tomo sempre um café com a minha
   mãe e com a minha irmã.
   Nada me fará esquecer o momento em que nasceram as minhas duas filhas.
   Gostava muito que amanhã o tempo começasse a andar mais devagar.
   O meu dia não acaba sem saber se as minhas filhas estão bem.
   A UMinho é a minha segunda casa! E com muito orgulho!