Miniaturização e integração são fator-chave para novas soluções tecnológicas

20-12-2019 | Pedro Costa | Fotos: Nuno Gonçalves

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Entrevista a Paulo Mateus Mendes, diretor do Centro de Investigação em Sistemas Microeletromecânicos, inserida no ciclo de conversas com responsáveis dos centros de I&D da UMinho.





Criado em 2013 no campus de Azurém, em Guimarães, o CMEMS acolhe uma equipa multidisciplinar, que vai desde a engenharia, à física ou à medicina, e dos campos académico e industrial. É um centro direcionado para projeto, modelagem, simulação, integração e fabricação e testes de microssistemas para dispositivos biomédicos. O seu foco está, por isso, na modelagem computacional, desenvolvimento e micro/nanofabricação de dispositivos e componentes para dois domínios principais: aplicações industriais (automotive, aeroespacial e marítima) e aplicações biomédicas (neuroengenharia, microendoscopia, cirurgia e reabilitação).

A equipa inclui investigadores seniores, prestigiados colaboradores nacionais e internacionais, pós-doutorados, alunos de doutoramento e mestrado, bem como parceiros industriais. A organização é apoiada por cinco laboratórios, o que reflete a intensidade científica de alto nível. Desde 2013, foram estabelecidas parcerias com universidades europeias, americanas e brasileiras no campo da micro/nanofabricação e aplicações biomédicas. Também merecem relevo as fortes parcerias com o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), um importante 
player internacional neste campo, a Bosch Car Multimedia, inserida na parceria com a UMinho, e a Fundação Champalimaud. Conversámos com Paulo Mendes, diretor do CMEMS e professor associado do Departamento de Eletrónica Industrial da Escola de Engenharia da UMinho (EEUM).


O CMEMS surgiu com que motivações?
O CMEMS, como o próprio nome indica, é uma unidade de investigação cuja temática principal decorre no âmbito do desenvolvimento de tecnologia de base eletrónica e mecânica numa escala microscópica, quer porque os seus dispositivos têm dimensões microscópicas, quer porque interagem com estruturas que requerem uma precisão microscópica. Este centro surgiu pela perceção de que a miniaturização e integração de sistemas será um promotor-chave de novas soluções tecnológicas inovadoras. Contribuiu também a perceção de que o desenvolvimento de novas tecnologias beneficiará fortemente da existência de um ecossistema multidisciplinar. Neste caso, usando por base a mecânica e a eletrónica, e alavancando as colaborações então existentes na área dos materiais, da física, da biologia e das ciências de saúde, surgiu o CMEMS, com o objetivo de atuar, de uma forma holística, no campo do desenvolvimento de novas soluções tecnológicas na área da biomédica.

Como se articula com as entidades parceiras?
Como subunidade orgânica da EEUM, articula-se através dos mecanismos previstos para o efeito e de acordo com a especificidade dos colaboradores. Há três grandes grupos de parceiros: os estratégicos para desenvolvimento ou teste de soluções, as outras entidades de investigação com valências suplementares e as empresas no âmbito da nossa atuação. A articulação ocorre por via de projetos em consórcio ou de protocolos em vigor com a UMinho, como o Centro Clínico Académico de Braga, ou através de unidades de transferência de tecnologia, como a TecMinho.
 
Como descreveria o espaço e as infraestruturas do CMEMS, para quem ainda não o conhece?
Como estrutura multidisciplinar, tem os seus espaços laboratoriais distribuídos pelos campi da UMinho, em particular usa espaços nos departamentos de Engenharia Mecânica e de Eletrónica Industrial e no IB-S - Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade. Usa ainda o suporte de outros laboratórios em diversos projetos de investigação. Esta configuração tem a vantagem de permitir uma interação mais distribuída com os nossos parceiros, criando uma cultura de colaboração, necessária em projetos multidisciplinares.

Tem os recursos que deseja?
Os recursos humanos ou materiais, na ótica dos responsáveis por projetos, nunca são suficientes. Ao nível dos investigadores, são recrutados à medida que vão sendo executados os projetos, nem sempre estando disponíveis no mercado os necessários. A maior carência atual é ao nível de recursos permanentes, tanto técnicos de auxílio ao funcionamento dos laboratórios como de apoio administrativo. Quanto aos recursos materiais, a maior dificuldade passa pelas regras muito rígidas para aquisição de equipamento científico.
 
Que equipas e unidades de investigação alberga?
Sendo um centro com uma identidade multidisciplinar, é seu desejo atuar como um todo, em vez de se focar em identificar equipas específicas, e que se organiza em função dos objetivos de cada projeto que se propõe executar. Não obstante, integra investigadores com competências em projeto, em microfabrico, em (bio)sensores, em (bio)instrumentação, imagem médica, inteligência artificial, micromanipulação, microssistemas, microeletrónica, materiais, mecânica, simulação e caracterização de sistemas microeletromecânicos. Estas competências têm permitido ao CMEMS desenvolver dispositivos e sistemas que interagem com uma única célula, até dispositivos e sistemas que interagem com um paciente no âmbito da sua reabilitação clínica, passando por próteses e dispositivos que interagem diretamente com o cérebro.
 
Que balanço faz do percurso deste centro até ao momento?
Manifestamente positivo, uma vez que, contando com 29 investigadores integrados, consegue ter os seus investigadores a liderar mais de 30 projetos de I&D. Esses projetos incluem colaborações com a indústria, destacando-se a contribuição no âmbito da parceria Bosch-UMinho, que contou na sua génese com um investigador do CMEMS; colaborações com entidades de referência do sistema científico nacional, como o INL ou a Fundação Champalimaud; ou colaborações com a comunidade hospitalar, como o Hospital de Braga.
 


Segredos? Multidisciplinaridade, dedicação e os projetos e parceiros certos

Qual é o principal fator da sua afirmação? 
O CMEMS tem-se afirmado na sua área de intervenção pela adoção da multidisciplinaridade na implementação dos projetos, bem como pela seleção criteriosa dos projetos em que se envolve, pelo empenho e resiliência dos seus investigadores e colaboradores, pela procura de parceiros na indústria para alavancar projetos em áreas emergentes e pela procura por trabalhar em parceria com o mercado alvo, em grande medida junto da comunidade médica.
 
Que eventos destaca?
O workshop final do projeto BrainLighting (envolveu empresas parceiras e a Fundação Champalimaud), a organização do workshop "Biomatdevices", no âmbito do projeto Hamabico, e o workshop "III NextSea", integrado no Fórum do Mar - Business2Sea 2019.
 
Como avalia a recetividade dos públicos ao vosso trabalho?
Consideramos que a escolha por mais de 60 alunos para aqui fazerem o seu doutoramento, a captação de estudantes e investigadores estrangeiros para aqui fazerem investigação, a publicação de contribuições científicas com diversos investigadores nacionais e internacionais, a colaboração em projetos - como líderes ou parceiros - com instituições de renome nacional e internacional, a colaboração com diversos parceiros industriais e a colocação de protótipos desenvolvidos no CMEMS a funcionar nos seus parceiros é uma satisfação para todos nós e só possível devido à aceitação do CMEMS pela comunidade envolvente.
 
Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
Em primeiro lugar, executar os mais de 30 projetos a decorrer, sendo que todos são importantes, uns pelo seu montante, outros pela resolução imediata de problemas em pacientes, outros pela gestão de jovens investigadores, e outros pelas equipas envolvidas - empresas, médicos ou colaboradores de prestígio. Além disso, é nosso objetivo aumentar a participação do CMEMS nos projetos europeus e no novo programa quadro europeu Horizon Europe, bem como explorar as nossas competências da biomédica noutras áreas emergentes.
 
Em que medida projetos como o CMEMS contribuem para a missão da Universidade?
A UMinho inclui nos seus estatutos “gerar, difundir e aplicar conhecimento (...) promover a educação superior e contribuindo para (...) um modelo de sociedade baseada em princípios humanistas, que tenha o saber, a criatividade e a inovação como fatores de crescimento, desenvolvimento sustentável, bem-estar e solidariedade”. Neste contexto, o CMEMS tem contribuído para essa missão, na criação e aplicação de conhecimento ao nível dos projetos de investigação e dos projetos de ensino, utilizando a criatividade das suas equipas multidisciplinares para criar novas soluções que melhorem a vida dos pacientes, tornando o ecossistema da saúde mais sustentável e com maior capacidade de promover o bem-estar.
 
Quer deixar alguma mensagem/sugestão final?
Expressar a gratidão do CMEMS aos colegas Luís Rocha e Pimenta Claro, falecidos recentemente, pelo empenho e a contribuição que deram para o sucesso do centro. Agradeço também a todos os que têm contribuído para o sucesso do CMEMS. Bom Natal a todos e um novo ano cheio de sucessos e projetos!