Fez toda a diferença ao criar software de custeio para a empresa
Foi fácil encontrar trabalho depois do curso concluído?
Ingressar no mercado de trabalho era relativamente simples. Havia muita procura pelos alunos da Universidade, como hoje ainda existe na maioria dos cursos. Conhecia pessoas que trabalhavam na área do mobiliário, mas acabei por ingressar no setor têxtil, por motivos familiares e pessoais. Não era um trajeto que pensava vir a seguir. Aliás, faz-me lembrar um livro muito interessante do escritor Nassim Taleb sobre a importância do acaso nas nossas vidas. Valorizamos pouco o acaso nas nossas vidas. O que aprendi nas cadeiras de programação e engenharia de produção fez toda a diferença para o meu início de carreira. Mal cheguei à Estamparia Adalberto, construí um programa capaz de atualizar os custos hora/máquina, porque percebi que os preços praticados podiam não estar adequados aos custos da organização. Foi comprado nessa altura, em 1985, o primeiro computador da empresa, no qual programei todo o sistema de custeio. Demorei dias a fazê-lo [risos]! Passei a ter os custos atualizados ao segundo. O trabalho manual que demorava semanas a fazer começou a ser mais rápido. Naquela altura, as taxas de inflação variavam anualmente entre os 20% e os 25%. Quem não tivesse um sistema de custeio adequado às alterações do custo de produção tinha uma desvantagem competitiva enorme. O nosso software permitiu-nos saber quanto se gastava na produção e isso só foi possível graças a um ex-aluno da UMinho que se propôs automatizar cálculos de custo hora/máquina.
Conseguiu fazer logo a diferença...
Nesse âmbito sim, mas a Estamparia Adalberto já era uma referência no setor.
O grupo é um dos líderes europeus na arte de estampar tecidos e vende todos os anos cerca de 10 mil quilómetros de tecidos nos cinco continentes.
Sempre fez parte do nosso ADN criar produtos com caráter inovador. Em Portugal, fomos pioneiros no tratamento de malhas. A maior parte das empresas de tinturaria e estamparia trabalhava apenas com tecidos. Se olharmos, hoje, para as exportações nacionais, o item mais vendido no setor têxtil são as malhas. Ou seja, a Estamparia Adalberto teve a capacidade de identificar as tendências do futuro e adaptar-se àquilo que seria a evolução e a procura do mercado. Há 20 anos foi, também, a primeira na Europa a fazer impressão digital e hoje é uma das empresas líderes a nível mundial na tecnologia de impressão que utiliza. A empresa tem vindo a atualizar-se de forma a manter-se no estado da arte em termos tecnológicos, para assim conseguir responder às necessidades e à procura do mercado ao nível da inovação, diversidade e design. Orgulhamo-nos por ter conseguido manter este ADN nos últimos 50 anos. O sucesso de uma organização durante dois ou três anos é relativamente fácil, mas durante dezenas de anos é outra coisa [risos].
E com muita concorrência pelo meio...
Exatamente! No final da década 1990, a Organização Mundial do Comércio liberalizou os mercados com novos acordos. Imaginemos um campo de batalha em que as várias indústrias têm os seus mercados “entrincheirados”, ou seja, protegidos. Com aquelas medidas, as organizações ficaram “sem trincheiras” e tiveram de começar a competir em campo aberto com todo o tipo de indústria a nível mundial. Foi um período de grandes transformações. Quando a China entrou neste mercado, no final dos anos 1990, valia 2% das exportações mundiais, hoje vale 45%. Há poucas indústrias a terem sofrido alterações tão dramáticas.
Isso obrigou o setor têxtil a acompanhar a corrida de forma mais estratégica?
A indústria teve de se adaptar às novas condicionantes. A têxtil portuguesa bateu os seus recordes de exportação em 2019, algo que não acontecia desde 2001. As empresas nacionais desenvolveram um grande trabalho para se tornarem mais inovadoras, rápidas e criativas e para oferecerem serviços com elevada qualidade. Esta variedade de componentes permitiu ao setor ser um player importante na Europa. Pesamos pouco a nível mundial, mas temos uma excelente posição a nível europeu.
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