UMinho cria plataformas para apoiar os mais jovens na quarentena

30-04-2020 | Nuno Passos

O dia continua a ter 24 horas, mas em período de confinamento o tempo parece multiplicar-se e exige criatividade para manter os menores bem ocupados (foto: Pexels.com)

O ioga é uma das atividades propostas pelo "Covid-19 em Sarilhos"

"Media em Casa" traz fichas semanais, sugestões de filmes, programas de TV, livros, jogos, links e outros conteúdos de qualidade para este público

"Trancadas em Casa" acolhe as vozes das crianças e o impacto do coronavírus nas suas vidas

O ebook "Adolescer em tempo covid-19” baseia-se na evidência científica mais atual e visa o desenvolvimento e o bem-estar dos adolescentes portugueses nesta fase

"For2Parents" é um serviço de intervenção psicológica para pais separados ou divorciados que tenham dificuldades na guarda e custódia dos filhos

“AjudAjudar” apoia nesta fase a denúncia de menores em risco e vítimas de maus tratos, abuso sexual ou negligência (foto: Getty Images)

A APsi tem ainda a Linha de Apoio Psicológico SOS - Covid-19 para a comunidade UMinho e dos concelhos de Braga e Guimarães, incluindo os menores de idade, numa parceria com o Centro P5

"Biodiversidade no 'quintal'" superou a centena de imagens enviadas por cidadãos de todo o país. Nesta foto de Rafa Martins, uma aranha caranguejo captura uma borboleta almirante vermelho, em Terras de Bouro

O miniguia "A biodiversidade da tua janela" desafia a encontrar, a partir da janela ou do jardim, 12 espécies comuns, como o lagarto ou a joaninha

A Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva reforçou os conteúdos infantojuvenis nas suas redes sociais fruto da quarentena

“Guerreiros da saúde contra o coronavírus” é um ebook didático grátis nos idiomas português, espanhol, inglês e francês

No videojogo online "Virus Fight Club" recolhe-se vacinas e máscaras para pessoas infetadas, tentando evitar situações de risco

Reinventamos a forma de trabalhar, de estudar e de nos relacionarmos, recorrendo mais às tecnologias

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Os Institutos de Educação e Ciências Sociais, as Escolas de Psicologia, Medicina e Ciências, a BLCS e as spin-offs Betweien e Magikbee propõem ferramentas de ensino, lazer e gestão do tempo e da saúde





Várias unidades da Universidade do Minho têm lançado plataformas para apoiar crianças e jovens durante a quarentena em casa, de forma lúdica e educativa. Agradecer aos médicos numa carta, saber fintar fake news sobre o coronavírus, aprender idiomas ou ver museus e concertos online são algumas ações sugeridas, que podem ser autónomas, com os pais ou com professores à distância.
 
Covid-19 em Sarilhos” adapta no Facebook e Instagram o projeto “Sarilhos do Amarelo”, do Centro de Investigação em Psicologia da UMinho (CIPsi), que tem utilizado as cores do arco-íris e suas personalidades para combater o insucesso escolar em várias zonas do país e do mundo. Há desafios diários sobre os temas “aprender”, “ajudar”, “lazer” e “colaborar”. “Vivemos uma hipótese única para ganhar competências, como aprender um instrumento, a cozinhar ou a viajar online para outros locais”, diz o coordenador e professor Pedro Rosário. “Estamos a auxiliar as famílias a terem um papel ativo e a não encararem esta fase como ameaça”, vinca aquele responsável do Grupo Universitário de Investigação em Auto-regulação (GUIA). Pode também fazer-se tarefas, jogos, leituras e ginástica em grupo, voluntariado através de telefonemas e cartas de agradecimento a clínicos, polícias, padeiros ou repositores, os quais permitem uma vida quase normal a muita gente.
 
Media em Casa” promove a literacia dos mais jovens para os media através de fichas semanais, sugestões de filmes, programas de TV, livros, jogos, links e outros conteúdos de qualidade para este público, que pode ainda partilhar desenhos, vídeos, podcasts e outras produções. A iniciativa é do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da UMinho, no âmbito do Observatório Sobre Media, Informação e Literacia (MILObs) e do Grupo Informal sobre Literacia Mediática. Os jovens passam mais tempo com os media, garantindo lazer e saber; porém, importa mantê-los seguros online e capacitá-los para a avalanche de (des)informação e de conteúdos, que são por vezes facilmente partilháveis ou pedem dados pessoais, indica a plataforma. Interpretar as notícias, usar a app Tik Tok ou explorar um conto pela dança estão entre as atividades, que têm apoio da RTP, da Rádio Zig Zag e do Plano Nacional de Leitura.
 

Criatividade a quanto obrigas
 
O portal “Trancadas em Casa”, criado por docentes do Instituto de Educação (IE) da UMinho, acolhe as vozes das crianças e como têm vivido e lutado contra a Covid-19. Elas partilham ideias e rotinas, ao mesmo tempo que aprendem, jogam, interagem online em horas do conto e em canções ou questionam comandantes dos bombeiros e da GNR. “Todos juntos tornaremos os dias menos solitários e mais engraçados, trocando emoções, pensamentos ou risadas e aprendendo a ser mais corajosos, confiantes e generosos”, lê-se. O site apoia ainda famílias e profissionais de educação em estratégias que valorizam os direitos das crianças e o seu desenvolvimento, frisa o presidente do IE, Leandro Almeida. Por exemplo, com dicas, áreas de dúvidas e sites úteis, como o Centro de Competência TIC, ProChild CoLab e Escola do Futuro.
 
A Associação de Psicologia da UMinho (APsi) promove a Linha de Apoio Psicológico SOS - Covid-19 para a comunidade UMinho e dos concelhos de Braga e Guimarães, incluindo os menores de idade, numa parceria com o Centro de Medicina Digital P5, que envolve ainda a Escola de Medicina (EMUM) e também a Escola Superior de Enfermagem. No âmbito da subunidade de Psicologia Clínica e da Saúde, concretamente da Consulta de Psicologia de Adolescentes (coordenada por Teresa Freire), editou o guia digital grátis de boas práticas "Adolescer em Tempo Covid-19”. Baseado na evidência científica mais atual, este guia visa o desenvolvimento e o bem-estar dos adolescentes portugueses. As ideias-chave do ebook são: “Mantém-te ativo e em contacto, mantém rotinas, atitude positiva e alimentação equilibrada, relaxa, faz exercício físico e pede ajuda se for preciso”. No final há 15 desafios e várias sugestões, como estudar online com colegas, tirar selfies cómicas, fazer algo criativo ou ligar a alguém de quem se tem saudades.

Já no âmbito da subunidade de Psicologia Social, Comunitária e das Organizações, a APsi ativou nesta fase o programa For2Parents,  coordenado por Marlene Matos, fornecendo uma linha gratuita de apoio psicológico à distância para pais separados ou divorciados com dificuldades no cumprimento e na gestão de questões relacionadas com a guarda e custódia dos filhos. O intuito é, durante três meses e através do aconselhamento parental individual ou conjunto, procurar diminuir conflitos e promover uma coparentalidade estável e funcional.

Pedro M. Teixeira, docente na EMUM, cofundou este mês a plataforma informal “AjudAjudar”, para apoiar nesta fase menores vítimas de maus tratos, abuso sexual ou negligência. O portal inclui literatura científica, recursos, eventos, campanha, manifesto (soma mais de 500 subscritores) e um apelo: “Não ignores pedidos de crianças, amigas e conhecidas, nas redes sociais. Contacta-as, diz que estás disponível para ouvi-las e ajudar. Fala com os teus pais para que eles contactem as entidades competentes”, escreve-se. Com as crianças fora da escola e as comissões de proteção em teletrabalho, restringe-se visitas domiciliárias ao urgente e nas casas de acolhimento de menores há riscos: “Urge mobilizar a sociedade, sensibilizando-a e informando-a do seu papel insubstituível, todos somos agentes de proteção”.
 

Do património natural às artes plásticas

Biodiversidade no quintal” é o desafio do Laboratório de Biologia Costeira (LBC) da UMinho, inserido na Escola de Ciências e no seu Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA). Objetivo? Partilhar a fauna e flora da nossa casa ou povoação, “aprendendo a olhar para pequenas coisas que nos rodeiam de dia e noite”. Há mais de 100 espécies registadas, através de fotos e vídeos publicados pelos participantes, do Gerês à serra de Aire ou à Caparica. Aqui é possível observar variados organismos, como a vaca loura (maior escaravelho da Europa) em passeio, o farfalhudo abelhão (muitas vezes visto com maus olhos) e até o pequeno caracol, de extrema importância para os ecossistemas. Pupas de borboleta pelas ervas, um voo da garça-real, o pica-pau a espreitar num tronco, térmitas a trabalhar, a aranha branca a trepar pelo jarro, as orquídeas silvestres que crescem também nos espaços verdes das cidades, incluindo o campus de Gualtar da UMinho… É um mundo que os participantes vão dando a conhecer e vão descobrindo, explica o professor Pedro Gomes. A equipa do LBC procura identificar as espécies registadas e divulga curiosidades ou informações complementares. O grupo tem já 97 participantes e fica o apelo para aderir.

Já o Laboratório da Paisagem, em Guimarães, uma valência municipal com apoio da UMinho e UTAD, assina o Mês da Biodiversidade e o “City Nature Challenge 2020” (a única cidade portuguesa participante), lançando passatempos e recebendo fotos dos cidadãos confinados pela aplicação móvel Biodiversity GO! e por email. Em paralelo, produziu o miniguia "A biodiversidade da tua janela”. Este ebook detalha caraterísticas e curiosidades de 12 espécies comuns, mas que são determinantes no equilíbrio do ecossistema, como o pardal, a rola-turca, o sapo ou a joaninha, e desafia a procurá-los desde a janela de casa ou do jardim, segundo a investigadora Ana Pinheiro.
 
A Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS), no centro de Braga, gerida pela UMinho em parceria com o Município de Braga, continua a sua missão, mesmo com as portas fechadas. Os livros técnicos, de literatura de ficção e infantojuvenis são dos mais requisitados na quarentena; o pedido é realizado por telefone, email e chat, sendo a entrega feita com as devidas regras de segurança. Nas floreiras exteriores do edifício oferece-se até livros a quem passa. No YouTube e  Facebook da instituição multiplicam-se as atividades culturais, gravadas ou em direto, com a colaboração intensa de autores e artistas – Pedro Seromenho, Ana Caridade, Inácia Cruz, Patrícia Ferreira, Márcia Sobral, Rita Campos, entre outros – em palestras, horas do conto, oficinas de arte, ioga e sessões para bebés. “As circunstâncias exigem um esforço adicional de todos. Estamos muito mais ativos nas redes sociais”, define a diretora da BLCS, Aida Alves.
 
A Betweien, spin-off educacional da UMinho, publicou o ebookGuerreiros da saúde contra o coronavírus”. Feita em 48 horas, a edição gratuita está em português, espanhol, inglês e francês. Explica de forma descomplicada o Covid-19, de que modo podemos combatê-lo e como as crianças podem desfrutar deste tempo em casa, Betweien, elucida o diretor da Betweien, Narciso Moreira, diplomado pela UMinho. Aborda-se regras como lavar as mãos no tempo de uma canção, tossir e espirrar para o braço, acenar em vez de beijar, evitar maçanetas ou corrimões e adiar deslocações. "Sou um vírus superstar, veloz como a chita, salto entre mãos descuidadas, ponho muita gente aflita", lê-se. No final, as crianças “guerreiras” vão unir-se para vencer o desafio: “O principal é continuar a acreditar que todos vão ficar bem”.

Enquanto isso, a spin-off Magikbee criou o videojogo online "Virus Fight Club", que procura ensinar de forma divertida algumas das boas práticas preconizadas pela Organização Mundial de Saúde. O objetivo é que o personagem recolha o maior número possível de vacinas e máscaras para entregar a pessoas infetadas. Ao longo do percurso, o jogador deve evitar situações de risco, como pessoas a espirrar, a tossir ou em grupo. A lavagem frequente das mãos protege contra as ameaças do vírus. A app está disponível gratuitamente em dez línguas nas principais lojas de aplicações móveis.