"Livros com RUM" fazem 15 anos

23-12-2021 | Nuno Passos

António Ferreira (à direita) na apresentação do livro de João Rios, em dezembro de 2018, na BLCS

Numa tertúlia com Vanessa Martins e Marta Madureira, na Feira do Livro de Braga, em julho de 2016

Com o escritor Tiago Patrício, na Casa da Memória (Guimarães), a 25 de abril de 2015

Sérgio Xavier com António Ferreira, nos antigos estúdios da RUM em Santa Tecla (Braga), em dezembro de 2013 (foto: Daniel Vieira da Silva)

À conversa com o autor David Soares, em março de 2010

"Livros com RUM" passa em antena à quinta-feira (21h-22h), com reposição ao domingo (19h-20h). "Leitura em Dia" - na imagem, o seu podcast no site da RUM - passa de segunda a sexta-feira (9h45, reposição às 17h45)

A Rádio Universitária do Minho nasceu há 32 anos e está sediada desde 2019 no edifício gnration, no centro de Braga

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A RUM tem o programa nacional mais antigo de entrevistas a escritores, de cá e do mundo, e com fãs até em escolas do Perú, diz o apresentador António Ferreira.




Um livro e o percurso do seu autor são o mote semanal para uma hora de entrevista na rádio. É assim há decada e meia no "Livros com RUM" da Rádio Universitária do Minho (RUM), num formato simples e resiliente que dá voz a escritores de todo o mundo. O apresentador António Ferreira soma-lhe ainda a missão cívica e pro bono de levar a cultura a todos - antes de cada gravação, informa-se sobre o autor e o seu universo literário e social e lê "mesmo até ao fim" o livro que vai ser abordado, pois "não é possível, numa hora, conversar com alguém baseado numa contracapa". São estas as bases do "programa semanal mais antigo em Portugal" neste âmbito. Os escritores convidados são provenientes dos mais diversos lugares e géneros estilísticos e, no geral, elogiam o cuidado prestado e o generoso tempo de antena, face a um contexto mediático global por vezes alheio à literatura.

"Esta é a nossa forma de estar na causa pública, tendo a educação e a cultura como uma pedra basilar para os mais novos e a sociedade", resume António Ferreira. "Nossa forma" significa incluir Sérgio Xavier, o radialista que também o acompanha há 12 anos noutra rubrica da RUM, “Leitura em Dia”, uma curta conversa diária sobre cultura e novidades literárias. É so ouvir em 97.5FM e em podcast em RUM.pt. Aliás, esses registos chegam até a escolas de países como o Perú, sendo uma ferramenta para professores em aspetos como sociologia, história e cultura, explica António Ferreira, com base em emails que recebe das sete partidas do mundo, desde a Grécia à Nigéria.

António Ferreira junta assim o útil ao agradável: é um apaixonado por livros, quer combater a falta de espaços dedicados ao debate e criação literária e, ao mesmo tempo, vê as suas rubricas "encaixarem no espírito de uma rádio universitária”. Aliás, em 2015 passou a dinamizar entrevistas ao vivo mensais, somando já mais de 50, em espaços de Braga (e não só) como a zet gallery, a Feira do Livro e a Reitoria da UMinho, até se fixar nos anos recentes na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Como marcos do "Livros com RUM" ficam a última entrevista em vida a Torcato Sepúlveda, o poema declamado por Castro Caldas, já doente, e testemunhos de portugueses incontornáveis como Manuel Alegre, Lídia Jorge, Sérgio Godinho e Mário Cláudio. Do estrangeiro vieram a esta "casa do livro" nomes como o brasileiro Julián Fuks, o venezuelano Alberto Barrera Tyszka, a catalã Alicia Kopf, o alemão Werner Reich, o chileno Pablo Azócar, a sevilhana Marina Perezagua, o norte-americano Richard Zimler, o moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, o colombiano Juan Gabriel Vásquez, o sérvio Dejan Stankovic e o peruano Renato Cisneros. Da UMinho também participaram bastantes autores-professores, como Vítor Aguiar e Silva, Carlos Pazos, Felisbela Lopes, Carlos Mendes de Sousa e a saudosa Laura Ferreira dos Santos.

António Ferreira considera que os livros servem para “preservar a memória” e “cultivar o espírito crítico do ser humano”. Houve muitas tentativas de esbater a memória e liberdade do livro, desde a antiguidade grega ao mundo islâmico, da destruição nazi de obras judaicas à censura atual em países como a China. "O livro foi sendo por vezes olhado com suspeita, porque transmite cultura, educação, saber e conhecimento, mas a nossa forma de atuação enquanto ser consciente passa pelo livro, é o que nos salva”, defende, acrescentando que as suas rubricas radiofónicas "são para continuar e com o espírito de sempre". “A ronda da noite”, de Agustina Bessa-Luís, “Até ao fim da Terra”, de David Grossman, e “Balas de prata", de Élmer Mendoza, são algumas das suas obras preferidas.