A terceira era espacial

30-11-2024

Bruno Reynaud de Sousa

Nos próximos cinco anos, espera-se que os custos de acesso ao espaço reduzam, levando a um maior número de satélites ativos. A comercialização das atividades espaciais será uma bênção ou maldição?


A comercialização das atividades espaciais determinou a entrada na “terceira era espacial”: as empresas privadas dominam a construção, lançamento e operação de satélites. Nos últimos quinze anos, a dinâmica de comercialização contribuiu para o que o espaço esteja mais congestionado, sendo um domínio contestado onde os Estados competem já não apenas entre si, mas também a par de um crescente número de empresas privadas. A órbita terrestre baixa (OTB) concentra atualmente mais de 4.550 satélites ativos e empresas privadas como a SpaceX, a Blue Origin e a Rocket Lab superam a maioria das economias do G7 em número de lançamentos.
 
Dados compilados pela Bryce Tech (2024) revelam que entre 2019 e 2023 foram lançados mais de 8700 satélites de pequenas dimensões. De entre estes, a maioria é operada por apenas seis empresas, com a SpaceX à cabeça. Contudo, é de registar um magnífico desenvolvimento: a nível mundial são já 17 as instituições de ensino superior (IES) que lançaram mais de cinco satélites de pequenas dimensões. Em 2025, a Universidade do Minho irá juntar-se às mais de 200 IES operadoras de satélite a nível mundial que desde 2014 têm vindo a lançar com sucesso satélites totalmente construídos em contexto académico.
 
Em 2024 ainda não se vislumbra plenamente o nível de inovação que irá caracterizar o setor do espaço. Nos próximos cinco anos, espera-se que os custos de acesso ao espaço latu sensu diminuam, levando a um maior número de satélites ativos. Se bem que as previsões relativas às atividades espaciais possam ser afetadas por outros fatores com impacto para a vida operacional dos satélites na OTB – como sejam as variações na meteorologia espacial –, há pelo menos dois fatores que vão concorrer para moldar a trajetória da terceira era espacial.

Um primeiro fator respeita à entrada no mercado de novos sistemas de lançamento que vão incrementar a capacidade efetiva de lançamento global face às soluções existentes atualmente no mercado. Em particular, a entrada em operação de novos sistemas de lançamento como o Starship da empresa SpaceX, o New Glenn da Blue Origin e o Ariane 6 do ArianeGroup terá influência decisiva no modo como a comercialização do espaço poderá evoluir. Um segundo fator respeita à colocação em órbita das constelações de grandes dimensões, orientadas a um modelo de negócio que assenta num serviço que, embora não seja novo, é hoje consideravelmente diferente do que era no passado: o acesso à internet via satélite.
 
Será a comercialização das atividades espaciais uma bênção ou uma maldição? Bem alerta o estimado colega Professor Doutor Gustavo Dias, sendo imperioso dedicar mais esforços à resolução de um problema com mais de duas décadas: a gestão do tráfego espacial. Na Universidade do Minho, partilho do otimismo, dinamismo e esforços orientados ao desenvolvimento do setor espacial Português, sempre de uma perspetiva multidisciplinar e alavancando o singular potencial da Universidade a nível nacional.
 
Ad astra!


Professor da Escola de Direito da UMinho e investigador do JusGov - Centro de Investigação em Justiça e Governação