Engenharia Aerospacial: a “odisseia no espaço” para os finalistas da UMinho

30-11-2024 | Daniel Vieira da Silva | Fotos: Nuno Gonçalves e AeorUM

Estudantes participaram na "missão" da UMinho em colocar um satélite em órbita

Bárbara Carmelo é finalista da licenciatura em Engenharia Aeroespacial na UMinho

Pedro Andrade é finalista do mestrado em Engenharia Aeroespacial na UMinho

Estudantes na 1ª edição das Jornadas de Engenharia Aeroespacial da UMinho

O programa juntou duas dezenas de oradores e terminou com saldo muito positivo

A comissão organizadora das Jornadas de Engenharia Aeroespacial da UMinho

Os estudantes do curso já tiveram o seu batismo de voo, na fronteira com a Espanha

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Orgulhosos, os primeiros finalistas da licenciatura e do mestrado na área já perspetivam um futuro risonho.

Falamos com dois estudantes da "primeira fornada" de Engenharia Aerospacial na Universidade do Minho, que vão terminar os seus ciclos de estudo este ano letivo, conscientes que a entrada para o mundo do trabalho se aproxima.


“Tenho uma sensação de grande orgulho, responsabilidade e sentimento de pertença face à primeira geração da licenciatura em Engenharia Aeroespacial da UMinho”, começa por nos dizer a estudante finalista Bárbara Carmelo, na Escola de Engenharia da UMinho, em Guimarães. O seu interesse pelo espaço “surgiu muito cedo”, fomentado pelos avós. “A minha avó, que foi hospedeira de bordo em Moçambique, costumava contar-me histórias caricatas que viveu a bordo de grandes aeronaves e pequenos jatos privados. Já o meu avô era um homem de negócios com um gosto especial pela aviação, guardava bilhetes de avião, ainda escritos à mão, e sabia identificar todos os tipos de aeronaves. A felicidade com que eles reviviam estas memórias despertou em mim um gosto pelo setor da aviação e do espaço”, dá conta ao NÓS.

Pedro Andrade, finalista do mestrado em Engenharia Aerospacial, salienta o seu "fascínio antigo" pelo Espaço, "o lugar de descoberta" que este assume e "a vontade de arriscar" na área. Destaca as muitas oportunidades que teve ao longo do percurso académico para poder participar em alguns projetos, nomeadamente a criação do Núcleo de Estudantes de Engenharia Aeroespacial da UMinho (AeroUM), do qual foi presidente. Pedro Andrade reconhece que esta área “é bastante exigente tanto a nível de conteúdos, dado as diversas engenharias que engloba, como a nível de aplicação, dado o rigor associado, por exemplo, à construção/manutenção aeronáutica”. Esta é a razão para os melhores alunos do secundário procurarem este tipo de desafios, considera o estudante, que fala por isso com orgulho da escolha pelo seu mestrado, ainda que assuma incerteza quanto ao seu futuro, mantendo a confiança de que "algo de bom estará para acontecer" em breve.


Olhar o céu, mas com pés no chão: assim se pensa no futuro

Pedro Andrade está a terminar a dissertação em Sistemas Espaciais, com foco na Eletrónica, e gostaria de trabalhar nessa área de especialização, "principalmente em satélites”. “Felizmente, o setor está a crescer bastante, assim como as oportunidades”, lembra, embora admita que possa optar por uma carreira no estrangeiro. “Dado o histórico salarial do nosso país, talvez emigre, pois alguns dos players principais estão lá fora”, salienta. “Certamente não estranharia continuar a investigação e até acredito que tivesse jeito para ensinar. No entanto, estou mais inclinado em procurar trabalho no setor privado e não seguir para já esse caminho”, declara.

Natural de Braga e ainda com 20 anos de idade, Bárbara Carmelo não tem dúvidas em afirmar que escolheu a licenciatura certa. “Está a ser um percurso desafiante, mas muito enriquecedor. Desde a base em ciências fundamentais até às disciplinas mais específicas, sinto que o curso está bem estruturado para nos preparar para os desafios da área”, sublinha. A estudante revela uma confiança inabalável quanto ao seu futuro, salientando que o setor é muito apetecível no futuro nacional. “Cada vez vemos mais potencial na evolução das tecnologias espaciais e nas oportunidades que a exploração espacial e a aviação oferecem aos jovens recém-graduados. Contudo, penso que essa liderança também reflete a exigência do curso, que não se limita à entrada, mas continua durante toda a licenciatura”, acrescenta.

A finalista prefere, por isso, encarar “um leque de possibilidades” de trabalho. “Inicialmente, pretendo especializar-me, provavelmente na área da aeronáutica ou de propulsão. Depois disso, gostaria de trabalhar em projetos desafiantes na área da engenharia, seja em Portugal ou no estrangeiro, contribuindo para a acessibilidade às tecnologias do ar e do espaço”, reitera. Filha de um professor universitário, assume ter grande “respeito e admiração pelo ensino, principal motor do avanço científico”. Porém, prefere para já enveredar por uma carreira na indústria, de forma a “ganhar experiência prática”. “Caso opte mais tarde por ensinar, terei um conhecimento sólido tanto teórico quanto empírico para partilhar”, realça.

 

Área em crescimento acelerado
 
Pedro Andrade perspetiva de forma positiva o que pode acontecer em breve nesta área na UMinho. “Acredito que crescerá em ritmo acelerado, certamente haverá mais alunos, inclusive de outros cursos, como já sucede na Minho Aerospace Student Team (MAST) do AeorUM, que competirá nos programas Cubesat Portugal e European Rocketry Challenge, ambas organizados pela Agência Espacial Portuguesa. Além disso, está a ser feita uma grande aposta infraestutural, nomeadamente com o Guimarães Space Center, na antiga Fábrica do Arquinho. Isto fomentará capacidades e conhecimentos dos alunos de uma forma única”.

No que respeita à evolução do setor no país, Pedro Andrade crê que “o futuro vai vingar nas áreas do Espaço e Defesa, por exemplo, com a Constelação do Atlântico que está a ser desenvolvida e terá que ser operada por alguns anos, preferencialmente por massa crítica nacional”. Para Bárbara Carmelo, o futuro da Engenharia Aerospacial em Portugal é “claramente promissor”: "Existe um crescente investimento e interesse no setor espacial e aeronáutico, evidente em projetos como o MH1 e o LUS 222”. Sobre a expansão da área na UMinho, frisa que “o curso tem potencial para continuar a afirmar-se como referência no ensino superior”.
 


"O PROMETHEUS-1 foi a experiência mais marcante que tive como estudante"

Já é público: a UMinho irá lançar para órbita um satélite em janeiro de 2025 [ver destaque]. Neste projeto estão envolvidos muitos protagonistas e os estudantes da licenciatura e do mestrado em Engenharia Aeroespacial não ficaram de fora. “Tive a oportunidade de poder trabalhar no PROMETHEUS-1 desde o primeiro ano do mestrado, como investigador bolseiro e, juntamente com o professor Alexandre Ferreira da Silva, e com o apoio das respetivas equipas do Instituto Superior Técnico e da Universidade de Carnegie Mellon, criámos uma pipeline detalhada e open-source de satélites, segundo uma plataforma de PocketQubes (PyCubed-Mini)", resume Pedro Andrade.

Aquela plataforma "descreve todas as fases de uma missão espacial: desenvolvimento, produção, validação, certificação, lançamento e operação”, prossegue. Este projeto permite que réplicas idênticas do satélite em causa, fruto do minúsculo tamanho e simplicidade de interação, servirão como objeto de aprendizagem em sala de aula ou como plataforma de desenvolvimento para satélites sucessores”, sublinha Pedro Andrade. “O projeto ajudará num ensino mais hands-on, por sua vez mais didático e interativo, mas também marca o desenvolvimento do terceiro satélite licenciado em Portugal”, vinca.

“A nível geral, é um ótimo exemplo das mais-valias das parcerias académicas entre Portugal e os EUA. A nível pessoal foi, sem dúvida, a experiência mais marcante que tive na universidade, tanto pela aprendizagem inacreditável durante todo o processo, como pela possibilidade de ter contribuído para este importante marco”, refere o finalista. Bárbara Carmelo partilha a opinião e acrescenta que os seus colegas de licenciatura estão “bastante entusiasmados" com este projeto. “Apesar de o nosso envolvimento ser mais indireto, temos muito orgulho em todos os responsáveis e colaboradores, bem como na nossa academia, este lançamento valida o potencial da UMinho em contribuir para um futuro português no espaço!”, atesta.

 

Núcleo de Estudantes ajuda a desenvolver competências
 
Pedro Andrade foi impulsionador do AeorUM e agora é Bárbara Carmelo a assumir a presidência. Este núcleo tem como foco criar uma comunidade onde todos os estudantes de Engenharia Aeroespacial e da UMinho interessados no setor possam interagir e desenvolver soft skills e hard skills. Essas competências estão a ser desenvolvidas através de projetos práticos, como a equipa do CubeSat e do EuRoC, ambas pertencentes à secção MAST do AeorUM.

“Mais do que mostrar o potencial deste ramo em Portugal, queremos aproximar os estudantes do mercado de trabalho”, garante Bárbara Carmelo. Em maio, o campus de Azurém recebeu a 1ª edição das Jornadas de Engenharia Aeroespacial, com oradores convidados de várias entidades e dois dias de muita aprendizagem para os jovens estudantes. Também “pelos ares” já estiveram cerca de 100 estudantes da licenciatura e mestrado em Engenharia Aerospacial, fruto de uma iniciativa anual no aeródromo do Alto Minho (Cerval), em Vila Nova de Cerveira/Valença. Além do batismo de voo, o dia incluiu workshops de mecânica, planos de voo e meteorologia. O AeorUM tem ainda promovido workshops e formações.