"Viver a UMinho em tantas dimensões dá-me uma visão única sobre a sua dinâmica"

31-10-2024 | Paula Mesquita | Fotos: Nuno Gonçalves

Ana Cristina Silva tem 36 anos e trabalha na Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas desde 2020

Fez a licenciatura em Línguas Estrangeiras Aplicadas em 2009 e o mestrado em Ciências da Linguagem em 2020, ambos na UMinho

Sente “orgulho e realização” por trabalhar nesta academia, pois “foi e é sempre um lugar especial”

As tarefas que mais gosta no seu dia a dia são a revisão e formatação de textos académicos, pois ligam-se à sua área de formação

Ana Cristina Silva quer continuar a trabalhar na ELACH e, idealmente, “combinar a vertente linguística com as funções atuais”

Ensaio da Literatuna há dias no auditório da ELACH, no campus de Gualtar, preparando o seu festival de tunas "II Vivências"

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Ana Cristina Silva

O gosto pelas línguas e pela escrita trouxe-a até à UMinho, onde tirou a licenciatura, mas foi “à conta” do mestrado em Ciências da Linguagem que começou a trabalhar na “Casa”, como lhe chama. A bracarense de 36 anos está no Centro de Ética, Política e Sociedade, no Centro de Estudos Humanísticos e é ainda membro da Literatuna.


É licenciada pela UMinho. O que a fez escolher Línguas Estrangeiras Aplicadas (hoje, Línguas Aplicadas)?
Desde criança, o meu sonho era ser professora ou escritora, mas, com o tempo, a paixão pelas línguas levou-me a escolher a tradução. Sempre me fascinou a forma como saber diferentes línguas nos abre os horizontes: temos acesso a muita mais informação, podemos contactar com muitas mais pessoas...
 
Como foram os seus tempos de estudante?
Foram bons tempos, mas tendo sido criada pela minha avó, digamos que não era uma jovem com muitas liberdades, por isso dedicava-me a 100% aos estudos. Não tive uma vida académica muito preenchida, digamos assim. Fiz a praxe, ia às aulas todas, estudava… Saídas à noite só mais nos últimos anos e foi mesmo no último ano que resolvi abrir mais os horizontes e entrei para um grupo cultural da UMinho: a iPUM – Associação de Percussão Universitária do Minho. Começou assim um novo hobby, a música, e comecei a desenvolver, no meio associativo, as hoje em dia tão famosas soft skills: organização de eventos, liderança e coordenação de grupos, trabalho em equipa, gestão de tempo, comunicação... Além disso, durante os anos de curso, descobri o meu gosto pela poesia, tanto como leitora quanto como escritora amadora.
 
Assim que terminou o curso, em 2009, como deu início ao seu percurso profissional?
Terminado o curso, o sonho era a tradução literária. Ainda tentei e tive algumas entrevistas, mas infelizmente o mundo da tradução literária era na altura muito fechado e difícil de entrar. Ainda fiz alguns trabalhos de tradução como freelancer (infelizmente, não tradução literária), mas depressa percebi que a curto prazo não iria conseguir "ir a lado nenhum". Muitos colegas de curso optaram por trabalhar no estrangeiro, mas essa não era uma opção viável para mim por motivos familiares. Foi aí que um dos outros sonhos de criança, o de ser professora, entrou em ação, embora numa forma ligeiramente diferente. Fiz um estágio profissional num centro de estudos e acabei por trabalhar nessa área durante vários anos.
 
Voltou aos estudos para fazer um mestrado. O que a levou a tomar essa decisão?
Enquanto trabalhava nos centros de estudos, continuava a fazer alguns trabalhos de tradução e revisão de textos, como teses de mestrado e doutoramento. O contacto constante com alunos, sobretudo os seus porquês e dúvidas em relação a determinados aspetos da língua portuguesa, alimentou ainda mais a minha paixão pelas línguas. Decidi, então, voltar a estudar e tentar reencaminhar a minha vida profissional para novos caminhos. O mestrado em Ciências da Linguagem encaixava como uma luva no que eu pretendia.
 
E foi então que se proporcionou trabalhar na Universidade do Minho.
No meu último ano de mestrado, em 2020, uma das minhas professoras, Cristina Flores, que na altura era também diretora do Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM), perguntou-me se estaria interessada em trabalhar no Centro, apoiando na gestão de projetos de investigação e na revisão técnica da revista Diacrítica. Assim, comecei a trabalhar no CEHUM, na modalidade de aquisição de serviços. As minhas primeiras funções foram na gestão administrativa e financeira de projetos de investigação, bem como no apoio à organização de eventos científicos.





"Todos os dias se aprende algo novo"

O que sentiu, tendo em conta que é “filha” da casa?
Foi um sentimento de orgulho e realização. A Universidade do Minho sempre foi um lugar especial para mim: foi aqui que fiz a licenciatura, que estava a terminar o mestrado, já fazia parte de um grupo cultural há uns 10 anos e naquela altura entrei também para a Literatuna - Tuna de Letras da Universidade do Minho, a "tuna da ELACH” [Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas]. Viver a UMinho em tantas dimensões diferentes – como estudante, membro de grupos culturais e agora como profissional – dá-me uma visão abrangente e única sobre a sua dinâmica.
 
Quais são, atualmente, as suas principais funções?
São mais abrangentes do que quando comecei. Trabalho mais diretamente para o Centro de Ética, Política e Sociedade (CEPS), embora ainda colabore com o CEHUM, que são os dois centros de investigação da ELACH. Sou responsável administrativa pelo CEPS e por projetos individuais dos investigadores da ELACH. Tudo o que dentro desses projetos envolva execução de despesas e de processos de ajudas de custo e transporte ou contratação de bolseiros e investigadores é da minha responsabilidade. Também comunico ciência: giro (ou ajudo a gerir) as redes sociais dos centros de investigação e sou responsável pelas divulgações dos eventos e publicações através de mailing lists.
 
Mas o que gosta mais é do trabalho de revisão de conteúdos.
Faço algum trabalho de revisão e formatação de textos académicos/artigos científicos. Talvez sejam estas as tarefas com que mais me sinto realizada, pois têm mais a ver com a minha área de formação. Apoio ainda na organização de eventos científicos desenvolvidos pelos investigadores e pelos centros de investigação. É sempre um desafio, mas quando o evento termina e o feedback é positivo, também acabo por me sentir, tal como os investigadores responsáveis, bastante orgulhosa do trabalho feito. O meu trabalho tem a vantagem de não fazer necessariamente o mesmo todos os dias, porque há sempre algo novo que surge para tratar… Uma coisa é certa: todos os dias se aprende algo novo!
 
Houve alguma pessoa que a tenha marcado desde que trabalha na UMinho?
Destacaria a professora Cristina Flores, porque foi quem me “trouxe” para cá, que me abriu as portas para esta fase da minha vida profissional e que sempre confiou no meu trabalho, desafiando-me a crescer. Tenho de mencionar também a minha colega mais direta, Ana Maria Pereira. Vim para cá para a ajudar e libertar um pouco do muito trabalho que tinha. Ela ensinou-me tudo o que sabia nos meus primeiros tempos e sinto que somos uma verdadeira equipa. Colaboramos constantemente e compartilhamos dúvidas, ensinamentos e soluções. Por muito que o trabalho seja difícil, desafiante e tenha alturas de sobrecarga, sabermos que temos alguém ali ao lado com quem contar faz-nos trabalhar com mais confiança.
 
Quais são as suas expectativas de futuro?
A expectativa é continuar na ELACH, continuar a aprender o máximo possível com quem me rodeia e a crescer como profissional. Tenho um grande desejo de aplicar cada vez mais a minha formação e os conhecimentos na área das línguas no meu trabalho. Isso seria o ideal – poder combinar a vertente linguística com as minhas funções atuais e futuras, ampliando o impacto do meu contributo.

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Portugal também tem poesia
Na voz e no encanto das cantigas de embalar
No céu distante e cinzento incerto da sua cor
Na curva das estradas por calcorrear
No vento que abafa gritos e ateia multidões
Na chama que ganha fôlego a cada dúvida
Na raiz que estanca a lágrima que afinal não cai
Nas injúrias impertinentes que trocamos sem fervor
No sorriso sincero de escárnio e maldizer
Na incompreendida figura de um amor distante
No sonho errante de verões por descobrir
No peito que bate sem saber bem porquê
No solo, no chão, na terra, em casa
Portugal também é poesia.

 

  Outros apontamentos sobre Ana Cristina

  Uma música. “Vivências”, da Literatuna.
  Uma figura. Fernando Pessoa.
  Um passatempo. Ler. Leio muito.
  Um prato. Sou bastante esquisita com comida, na realidade, mas pizza é sempre uma boa escolha!
  Uma viagem. O destino de sonho é a Turquia. Dos sítios onde já fui, a cidade de Londres, no Natal. É para repetir.
  Um momento. O meu primeiro concerto dos Keane.
  Um vício. Doces. "Fruta não é sobremesa!" [sorriso]
  Um defeito. Teimosia.
  Um sonho. Publicar um livro.
  Um lema. “E se corre bem?”
  A UMinho. Casa. Entre trabalho e ensaios, há dias em que passo mais tempo na UMinho do que na minha própria casa!