“Parece que estou a fazer puzzles todos os dias”

17-02-2025 | Paula Mesquita | Fotos: Diogo Cunha

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Carlos Torres

Nasceu "no dia das mentiras de 1969”, em França, mas sente-se “português até ao tutano”. Vive em Moreira de Cónegos e trabalha no Departamento de Eletrónica Industrial da Escola de Engenharia desde 1994. É hoje um dos técnicos distinguidos com a medalha de 30 anos em funções públicas, no 51º aniversário da UMinho.


Como chegou à Universidade do Minho e onde começou a trabalhar?
Entrei em 1994, no seguimento de um concurso público a que me candidatei. Comecei a trabalhar no Departamento de Eletrónica Industrial (DEI). Pelos vistos, correu bem! [sorriso]
 
Quais foram as suas primeiras funções e o que recorda desses primeiros tempos?
Na altura, o DEI funcionava em Braga, no rés-do-chão de um edifício em frente ao Conservatório Calouste Gulbenkian. As minhas primeiras funções ligavam-se à reparação de equipamentos, controlo de stocks de componentes, prestar apoio aos docentes e tudo o que fosse necessário para ajudar no desenvolvimento dos projetos. Ao fim do primeiro ano de trabalho, o sr. Oliveira (antigo funcionário do DEI) apresentou-me o que viria a ser a minha “paixão” na área da eletrónica: a arte de desenhar e fabricar placas de circuito impresso. Estas são as famosas plaquinhas verdes, cheias de componentes e que são a base de qualquer equipamento eletrónico; pode ser um pequeno eletrodoméstico ou um carro elétrico.
 
Como foi o seu percurso profissional desde então?
Depois de ali ter trabalhado durante quatro anos, o DEI “mudou-se de armas e bagagens” para o novo campus de Azurém, em Guimarães e, obviamente, acompanhei essa mudança. Deixei de executar algumas das tarefas que desenvolvia e passei a dedicar-me quase exclusivamente ao desenho e fabrico de PCB’s (printed circuit boards).


"Gosto de ver a alegria dos alunos"

O que o marcou mais ao longo deste tempo?
Marca-me ver a alegria dos alunos, que me procuram para os ajudar a resolver algum problema no projeto que estão a desenvolver.
 
O que gosta mais de fazer no seu dia a dia?
Alem de dar apoio aos alunos do DEI e da Escola de Engenharia, seja de licenciatura, de mestrado ou de doutoramento, continuo a fazer o que mais gosto: PCB’s. Eu desenho o circuito que depois passa para a placa. Sendo testada e funcionando tudo bem, a placa está pronta para ser utilizada ou, se for caso disso, replicada. Parece que estou a fazer puzzles todos os dias.
 
Sabemos que tem outra “paixão”. Fale-nos sobre os seus gostos musicais.
[risos] Gosto muito de heavy metal e aos 19 anos fundei uma banda com o meu irmão (mais novo 5 anos). A banda chegou a ter sete elementos, eu era baterista. Em palco, chegámos a ser 17 elementos, porque era um tipo de rock sinfónico. Então, contávamos com um quarteto de cordas e uma equipa de atores que encenavam a “história” que pretendíamos contar com cada música. Começou como uma brincadeira, mas a verdade é que ao fim de 22 anos de existência demos cerca de 300 concertos, um pouco por todo o país. O primeiro concerto foi na discoteca "Século XIX", mesmo ao lado do campus de Azurém. Infelizmente, não fomos tão reconhecidos nacionalmente como gostaríamos, apesar de eu considerar que estávamos muito à frente do nosso tempo. Chegamos a ter um single a passar no Canadá! Gravámos um EP com quatro temas e, mais tarde, um álbum. Foram anos muito bons e de muita paixão pela música! Agora, com 55 anos, 10 meses e uns dias, ponho heavy metal para se ouvir por estes corredores e salas! [sorriso]
 
Que pessoas mais contribuíram para o seu percurso profissional?
A pessoa principal foi o sr. Oliveira, por me ter “apresentado” o mundo dos PCB’s! [sorriso]. Mas também agradeço a todas as pessoas com quem diariamente me cruzo, todas me dão um pouco do seu conhecimento.
 
Que significado tem para si a distinção que hoje recebe pelo trabalho na UMinho?
Será, certamente e pelo menos, uma forma de reconhecimento pelas horas que passamos cá.
 
Que planos tem para o futuro?
Continuar vivo para trabalhar no DEI até ao dia da minha reforma e, depois disso, gozar a reforma! [sorriso]
 
 

  Curiosidades

  Na gaveta da minha secretária guardo um canivete suíço, é sempre útil!
  Mal entro no carro, ligo o rádio para ouvir a TSF, mas em casa prefiro tudo o que possa estar ligado a heavy metal.
  Considero-me uma pessoa agradável e sociável, mas penso que os outros me acham, antes de me conhecerem, um
  pouco frio e distante.
  Num jantar, em família, não dispenso uma conversa bem-disposta e com muita gargalhada à mistura.
  Ao fim de semana, ligo a televisão para ver… bem, não ligo, prefiro dedicar-me à bricolage ou aos meus legos!
  Destaco o momento em que nasci, por ter a sorte de disfrutar, nem que seja por pouco tempo, do mundo deslumbrante
  (com as suas virtudes e defeitos) que piso todos os dias.
  Gostava muito que amanhã o mundo fosse mais tolerante e menos ganancioso.
  As pessoas que mais me marcaram na vida foram os meus pais e todos os que passaram pela minha vida, porque 
  fizeram de mim o que sou hoje.
  À sombra de uma árvore, leria um jornal, para estar a par do que se passa em Portugal e no mundo.
  Sonho diariamente com o bem-estar de todos os que fazem parte da minha vida.
  O meu dia não acaba sem dizer à minha esposa e às minhas filhas que as amo.
  A UMinho é um espaço de partilha de conhecimento, que me acolheu e onde me sinto bem.