A nossa enfermeira campeã

11-06-2014 | Paula Mesquita

Filomena Costa (2ª fila, à direita), finalista da licenciatura em Enfermagem (2009), entre os colegas, no cortejo académico

Filomena Costa, aquando da sua participação no campeonato nacional universitário em 2011 (Lisboa)

A atleta, entre colegas e os responsáveis pelos Serviços de Ação Social da UMinho, nas Universíadas em Shenzen (2011)

Filomena Costa junto ao Centro Médico do campus de Gualtar, em Braga

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Filomena Costa

Tem 29 anos e nasceu em Adaúfe, Braga. É enfermeira no Centro Médico da UMinho, em Gualtar e pratica atletismo desde 1995. 


Tem 29 anos e nasceu em Adaúfe, Braga. É enfermeira no Centro Médico da UMinho, em Gualtar e pratica atletismo desde 1995. Diz que é a família, que adora, que a ajuda a conciliar o papel de mãe com a profissão e o desporto e torna possível todo o sucesso que tem alcançado.
 
Começou o seu percurso na UMinho na licenciatura em Enfermagem. 
Ingressei através do contingente especial “atleta de alta competição” em 2005. Adorei o primeiro ano. Tenho boas recordações, não só pela forma como fui integrada no curso e na universidade pelos colegas, funcionários e professores, mas também pelo que aprendi durante as aulas e no estágio clínico. Foram quatro anos intensos, mas nunca baixei os braços. Sabia que não tinha muito tempo para além do horário escolar e, por isso, era assídua nas aulas. No final do curso, lembro-me de ter pensado: é Enfermagem que quero, é esta a minha vocação! Gosto muito de cuidar dos outros.
 
O que é que lhe permitiu terminar o curso com a sensação de missão cumprida?
Estou grata a todos os que me permitiram conciliar o curso com o atletismo, que já praticava há vários anos. Fico feliz sempre que me lembro da família, amigos, colegas de turma, professores, funcionários e profissionais com quem contactei nos diversos campos de estágio. Durante o curso, participei nos campeonatos universitários: nos nacionais, nos mundiais e nas Universíadas. Foram participações exigentes, mas especiais pela experiência que me trouxeram e porque levei o nome da UMinho ao mais alto nível, ao conseguir ótimos resultados desportivos. A existência do programa TUTORUM (Programa de apoio aos estudantes Atletas de Alta Competição da UMinho), que ajuda os estudantes a conciliar a atividade académica com a exigente prática desportiva, também ajudou na concretização do meu objetivo. 
 
Começou a trabalhar logo após o final do curso? 
Não. Depois de terminar o curso, dediquei-me só ao atletismo. Queria resultados melhores e como nunca tinha tido a oportunidade de me dedicar a 100%, achei que esse era o momento ideal. Mas o tempo foi passando e os resultados mantiveram-se. Ao fim de um ano decidi exercer enfermagem e conciliar a profissão com o atletismo. Também tinha consciência de que, quanto mais tempo passasse, mais difícil seria trabalhar na minha área.
 
É nessa altura que inicia funções no Centro Médico da UMinho.
Recebi um convite do eng. Carlos Silva para integrar a equipa do Apoio Clínico dos SASUM e iniciei funções em outubro de 2010. Ainda hoje me lembro do telefonema do professor Parente, responsável pelo Departamento de Desporto e Cultura, dizendo-me que brevemente abriria um centro médico na universidade e que gostariam de contar com a minha colaboração. Fiquei mesmo feliz! Estou agradecida pelo convite, porque me permitiu conciliar o trabalho com o atletismo. 
 
O que lhe dá mais prazer na sua profissão? 
Adoro o que faço! O maior prazer vem das relações de empatia e confiança que estabeleço com as pessoas. Ponho em prática todos os conhecimentos que adquiri ao longo do curso, seja nas consultas de enfermagem, seja no apoio às consultas médicas, de psicologia e de medicina do trabalho. Aprendi e evoluí muito. E sinto-me uma privilegiada por poder conciliar duas coisas que adoro, o que era quase impossível se trabalhasse num hospital ou num centro de saúde. Trabalhar na UMinho é uma espécie de continuação: continuo a conviver com alunos, docentes e não docentes.
 
A Filomena é uma atleta reconhecida internacionalmente. Como nasceu essa paixão? 
Foi em setembro de 1995, durante o 5º ano. Como mudei para a mesma escola onde andava a minha irmã mais velha, comecei a acompanhá-la aos treinos, no Estádio 1º de Maio. Ela tinha sido convidada, meses antes, pela Sameiro Araújo (hoje minha treinadora), para o atletismo do SC Braga. Gostava muito do que a minha irmã fazia e eu também queria fazer. Lembro-me como se fosse hoje: no primeiro dia que acompanhei a minha irmã, a treinadora disse-me para eu dar cinco voltas à pista. E lá fui eu, com um enorme sorriso! Foi aí que nasceu a minha paixão pelo atletismo. Nesse mesmo ano fiz provas pelo Desporto Escolar da Escola de Palmeira, o que fortaleceu ainda mais a minha vontade.
 
Já lá vão quase 20 anos de corridas. Como tem sido o seu percurso desportista? 
Tem sido um percurso ascendente e muito satisfatório. Fui campeã, vice-campeã e medalha de bronze nacional nos escalões mais jovens, assim como no escalão sénior, em diferentes provas: 1500m, 3000m, 3000m obstáculos e 5000m. Fiz parte da seleção nacional ainda em júnior, no Europeu de corta-mato, depois fiz dois Europeus de corta-mato como sub-23 e, em 2011, como sénior, participei no mundial de corta-mato e na Taça da Europa de 10.000m. Ainda em 2011, fiz a primeira maratona em Praga: fui 4ª e consegui o resultado de 2h33m34 - eram mínimos B para os Jogos Olímpicos, mas como já havia três atletas com mínimos A, não pude ir. Em 2012, senti-me um pouco desmotivada e com vontade de ser mãe. Decidi fazer uma paragem e realizar o meu desejo. Foi a melhor decisão que tomei até hoje! Penso até que a devia ter tomado um pouco mais cedo. Durante a gravidez, parei de treinar; fazia caminhada e, de vez em quando, leves corridas, para que, ao regressar, sentisse mais vontade de correr. Voltei em setembro de 2013. Queria fazer uma maratona na primavera, ao contrário da expectativa da minha treinadora, que previa apenas para outono! Antes mesmo de a minha filha completar um ano, a 4 de maio, fiz a minha terceira maratona, em Hamburgo, desta vez, com um objetivo maior. Consegui o maior prémio até hoje: alcancei a 6ª posição, com o recorde pessoal de 2h31m08 e mínimos para o Europeu de Zurique que se realiza em agosto próximo.
 
Ser formada em Enfermagem ajuda-a na performance desportiva? 
É uma mais valia ser formada na área de enfermagem. Esses conhecimentos específicos ajudam-me não só durante a preparação, mas também na recuperação, o que faz com que atinja melhores resultados.
 
Precisa de autodisciplina para conciliar o trabalho com o desporto e ainda a recente “função” de mãe. 
Sim, é necessário ter autodisciplina para conseguir conciliar tudo, muita concentração e estabelecer prioridades. Exige-me muita organização. O meu dia começa às 6h50: dou o leitinho à minha menina e vou treinar para começar a trabalhar às 9h00. Como o trabalho termina às 14h00, almoço e volto a treinar à tarde. Tenho que conjugar tudo isto com as tarefas domésticas e a minha filha. Vale-me muito a minha família, que me ajuda em tudo e torna possível todo o sucesso que tenho conseguido atingir.
 
Como descreveria, numa palavra, cada uma destas dimensões da sua vida: a profissional, a de mãe e a de desportista?
Pela mesma ordem: responsável, felicidade e paixão!
 

Outras paixões de Filomena Costa
 
Um livro. Adoro os livros de Nicholas Sparks e Augusto Cury.
Um filme. “Em busca de um milagre”, de F. Darabont.
Uma música. “The Story”, de B. Carlile. Foi ao som desta música que fui pedida em casamento!
Uma figura. A minha família. É o que mais adoro neste mundo e faço tudo para estar entre ela.
Um passatempo. Adoro passear e viajar e conviver com a família e os amigos.
Uma viagem. Maldivas. Estive lá com o meu marido e é um destino que quero repetir.
Um clube. SC Braga. É o clube onde estive 17 anos. Apesar da falta de apoios às modalidades, é um clube que aprecio muito.
Um desportista. Rafael Nadal.
Um momento. O dia do nascimento da minha filha.
Um vício. O atletismo.
Um prato. Arroz de pato.
Um sonho. Jogos Olímpicos. O meu maior sonho!
Um lema. Tudo é possível.
A UMinho. A melhor academia. É um prazer fazer parte desta família.