O sorriso que nos recebe na BLCS

03-10-2014 | Paula Mesquita | Fotos de Nuno Gonçalves

Começou a trabalhar na UMinho em 1985. Ficaria na secretaria do Largo do Paço, mas quase de imediato propuseram-lhe trabalhar na Biblioteca Geral

É funcionário da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva desde 2004, data da sua abertura

Apesar de trabalhar em bibliotecas praticamente desde que iniciou a sua vida profissional, não lê livros. Prefere os jornais e lê todos os que encontra

Foi guarda-redes de futebol de salão e, durante muitos anos, diretor e árbitro da Associação de Voleibol de Braga

Em 2008 acompanhou a equipa de voleibol da UMinho à Itália para participar nas competições da Associação Europeia de Desporto Universitário (EUSA)

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Paulo Costa

Nasceu e vive em Braga há 56 anos. Tem duas paixões: o voleibol e as pessoas. Pode encontrá-lo no atendimento da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.



Como chegou à Universidade do Minho?
Com uma “cunha”! [risos] Com a ajuda do professor João Luís Dantas Leite, que ainda hoje está no ativo. Tinha terminado o 9º ano e andava à procura de emprego porque não queria estudar mais. Ajudou-me a candidatar-me a uma vaga de auxiliar de ação educativa, que na altura chamávamos “contínuo”, para uma escola preparatória em Joane (Famalicão). E foi assim que, em 1983, iniciei a minha vida na função pública. Dois anos mais tarde, também pelo professor Dantas, candidatei-me a uma vaga de escriturário para a UMinho. Era para a secretaria, no Largo do Paço. Tinha eu 27 anos.
 
Começou a trabalhar mais tarde do que aquilo que era habitual nessa altura.
Sabe, não era um aluno dedicado [sorriso] e por isso também fui atrasando alguns anos letivos. Não gostava nada de estudar! Gostava (e gosto) imenso de desporto. Tirava muito boas notas a Educação Física e deixava toda a gente perplexa pelo facto de conseguir tão bons resultados, tendo a deficiência que tenho (na perna). Fui guarda-redes de futebol de salão e durante muitos anos fui diretor e árbitro da Associação de Voleibol de Braga.
 
Gosta particularmente de voleibol?
Definitivamente! [sorriso] Tudo começou ainda eu estudava na André Soares. Há 30 anos, muitos dos jogos oficiais de voleibol decorriam sem árbitros. Não havia árbitros federados suficientes e, nesse contexto, o funcionário do pavilhão desportivo da escola, sabendo que eu adorava desporto, desafiava-me muitas vezes para eu arbitrar alguns jogos. E foi assim, sem que eu conhecesse a modalidade em profundidade, fui-me desenrascando e desenrascando alguns jogos. Só mais tarde tirei o curso de árbitro, o que me permitiu passar pela carreira regional e alcançar a carreira mais alta ao nível nacional; muitos jogos da 1ª Divisão foram arbitrados por mim. Decidi terminar no final da época passada e está-me a custar bastante! [sorriso] Adorava arbitrar jogos de voleibol e acho que me saí muito bem! Mas achei que era altura para terminar a carreira, não porque me sinta velho, mas porque considero que isto é para os jovens e são eles que devem prosseguir caminho. [sorriso]
 
Da secretaria do Largo do Paço passou para o campus de Gualtar.
Não cheguei a exercer funções no Largo do Paço, porque quase de imediato, talvez nem uma semana depois, propuseram-me trabalhar nas mesmas funções, mas na Biblioteca Geral (BGUM). E, desde então, tenho trabalhado ligado às bibliotecas da UMinho. Como sou bem-disposto por natureza, o diretor dos Serviços de Documentação, dr. Armindo Cardoso considerou que eu tinha um perfil adequado para prestar apoio no atendimento ao público e propôs-me a mudança. Foi uma boa aposta, tanto da parte dele como da minha, porque me adaptei muito bem, relaciono-me muito bem com o utente, e a verdade é que não voltei a querer abraçar outro tipo de projeto! [sorriso] Em 2004, com a abertura da BLCS e a minha vontade de abraçar uma nova experiência, decidi pedir transferência.
 
Hoje, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS) desempenha as mesmas funções.
Acho que nasci com esse perfil. Gosto muito de lidar com pessoas e gosto de me sentir o rosto que acolhe o utente! Portanto, as minhas funções não mudaram muito: esclarecimento dos utentes sobre o regulamento interno da biblioteca, processamento das devoluções, empréstimo e renovações de empréstimos domiciliários de livros, apoio às pesquisas bibliográficas, encaminhamento dos utentes. Quando comecei a trabalhar na BLCS, fiquei também responsável pelo registo de novos utilizadores e revalidações.
 
O que espera que as pessoas sintam ou encontrem quando vão à BLCS?
Modéstia à parte [risos], eu acho que os utentes gostam de mim e acho que isso se deve muito à minha forma de ser; sou bem-disposto e ando sempre sorridente. Não quer dizer que não haja situações mais complicadas de resolver, porque as há e em maior número do que na BGUM. A BLCS é uma biblioteca aberta à sociedade, em plena zona urbana, o que torna o serviço de atendimento mais complexo e exigente, mas promovo o melhor de mim para poder receber bem, para que as pessoas se sintam satisfeitas, já que sou a primeira pessoa que os utentes encontram quando entram. Sinto que gostam de mim e a mim cabe-me retribuir da melhor forma que sei!
 
Gosta de ler?
Parece estranho, mas não leio livros! [risos] Em contrapartida, devoro os jornais todos. Leio todos os que encontro do princípio ao fim.
 
Que dificuldades encontra nas suas funções?
A BLCS tem um regulamento um pouco rígido no que diz respeito ao empréstimo de livros. Mas a verdade é que este processo assim o obriga. Temos um fundo documental que é do Depósito Legal. Recebemos da Biblioteca Nacional todas as publicações editadas em Portugal. Ora, o espólio é deveras extenso e exige um tratamento exaustivo e rigoroso quando se trata de emprestar esses livros. Temos que nos assegurar que cada livro é bem tratado e devolvido nas mesmas condições com que foi emprestado. O utente deve preservar os livros e é obrigado a devolver todas as publicações que leva emprestadas. É neste âmbito que surgem casos muito complicados, porque há pessoas que simplesmente não devolvem. Cabe-me a mim tentar resolvê-los, mas a verdade é que há muitos constrangimentos. Vamos conseguindo solucionar uma ou outra situação, mas outras há em que somos obrigados a proceder judicialmente. A BLCS tem atualmente mais de 20.000 utilizadores registados. Eu imagino que seja difícil de conceber, mas a verdade é que é uma lista muito extensa de gerir. Era bom que as pessoas tivessem consciência que muitas vezes levam para casa livros caros e preciosos e, por isso, têm um dever acrescido para com a instituição que os emprestou.
 
O que é que, no seu entender, a BLCS significa para a sociedade bracarense?
Significa muito! A abertura desta biblioteca foi, sem dúvida, uma mais-valia para Braga. Nós, funcionários, sentimos muita paixão nos nossos utilizadores. Como faço o registo da devolução dos livros, apercebo-me de utilizadores que os devoram. Cada utilizador pode fazer um empréstimo de até três livros. Alguns utentes levam e devolvem com a periodicidade de uma semana. É impressionante! E, curiosamente, noto que esta ligação com o livro é muito mais forte numa faixa etária mais madura, entre os 40 e os 60 anos.
 
O que é que ainda pode oferecer à UMinho?
Faço aquilo de que gosto e as funções que exerço identificam-se plenamente com a minha forma de ser e, por isso, dou o melhor de mim. Mas creio que, se me propusessem outras alternativas, dependendo da sua natureza, acho que seria capaz! Não me importaria de trabalhar em funções administrativas, que tivessem a ver, por exemplo, com faturação e contabilidade. Essas foram as funções que me atribuíram quando fiquei colocado na secretaria da Universidade. Estranharia, mas acho que estaria à altura! Adaptava-me. Repare: tenho 56 anos e já trabalho há muitos anos ao serviço dos utentes. Pode não dar essa impressão, porém é uma função desgastante. Os anos vão passando, mas ainda tenho muito tempo de trabalho pela frente. Há dias em que me sinto cansado; não sei se serei capaz de chegar ao fim da minha carreira nestas funções porque naturalmente, e a lei da vida assim o diz, algumas das características pessoais que encaixam nesse perfil vão-se perdendo.


As outras paixões de Paulo Costa

Um filme. “As duas órfãs”, de Adolphe d’Ennery. Vi-o muitas vezes durante a minha juventude. É uma história arrebatadora.
Uma música. Eu sei que pode impressionar: Tony Carreira! [sorriso]
Uma figura. Eusébio. Marcou um clube. Sou benfiquista, é verdade! E marcou o País.
Um passatempo. Até há bem pouco tempo, era o voleibol. Os meus fins de semana eram todos dedicados à modalidade. Agora é a família!
Um prato. Sou um bom garfo! Gosto de tudo o que é tradicional, mas de entre todos, elejo o cabrito assado.
Um momento. O dia em que conheci a minha mulher. O que sou hoje devo-o a ela! Tenho dois filhos, mas antes de nascerem, conheci-a e por isso esse foi o momento que permitiu tudo o resto!
Um vício. Além do voleibol, sou um apaixonado pelo futebol! Tenho algumas chatices em casa por causa da partilha da programação televisiva! [risos]
Um defeito. Tenho muitos, mas aquele que eu gostava de não ter é a teimosia. Penso que tenho sempre razão e na verdade não tenho! Vou corrigindo.
Um sonho. Viver daqui em diante como vivi até hoje!
A UMinho. Uma das melhores coisas que me aconteceu. Complementou totalmente a minha vida. A minha Instituição é a melhor de todas!