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Estudo das mãos indica futuro do desenvolvimento de produtos

31-03-2015 | Pedro Costa

Dados antropométricos dos portugueses já existem, mas ainda não estava desenvolvida a análise de dados específicos da mão

Surgiu com relevância a necessidade de conhecer as áreas de contacto com dispositivos 'touch screen' e 'displays' interativos

A UMinho criou um sistema de registo em tempo real dos dados relevantes do contacto dos dedos com superfícies interativas

As zonas de alcance do polegar no manuseamento dos smartphones com uma mão é dos dados mais importantes na pesquisa

Pedro Arezes é investigador do Centro Algoritmi e professor catedrático do Departamento de Produção e Sistemas da UMinho

Mahrus Khoirul Umami é investigador no Centro Algoritmi e doutorando na Universidade de Trunojoyo Madura, Indonésia

A oferta de 'displays touch screen' evoluiu muito nos últimos anos, há uma série de dispositivos diferentes muito disseminados

O estudo concentra-se nos diversos tipos de 'display', desde os verticais como monitores, mas também os telemóveis, 'tablets' ou 'dashboards' dos automóveis

Tecnologias recentes estão a explorar ao máximo a relação física produto/utilizador, tentando recriar uma relação física virtual

Tipificar a forma como o indivíduo interage com os 'displays' e superfícies de contacto é de uma clara atualidade científica

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Linha de investigação no Centro Algoritmi, coordenada por Pedro Arezes, dedica-se à antropometria dos portugueses.




Um trabalho no Centro Algoritmi da Escola de Engenharia da UMinho, alavancado num doutoramento do investigador indonésio Mahrus Umami, está a aprofundar o estudo da antropometria das mãos dos portugueses, para além de investigar a sua relação com os dispositivos táteis contemporâneos. Pedro Arezes, docente e investigador do Departamento de Produção e Sistemas da UMinho, também responsável pelo projeto em causa, revela que a evolução sentida na tecnologia tátil confere uma grande pertinência à linha de investigação que se está a desenvolver.
 
Mahrus Umami é um investigador bolseiro da Universidade Trunojoyo Madura, da Indonésia, e propõe-se aprofundar uma área de estudo que já ultrapassa os limites da sua tese de doutoramento. No entanto, a produção de conhecimento gerado disponibilizará uma grande quantidade de dados, que, no futuro, constituirão uma importante ferramenta de desenvolvimento de produto e produção de conhecimento novo.
 
Pedro Arezes explica que o trabalho deste grupo (VÍDEO) enfoca “uma preocupação com a interação do ser humano com sistemas tecnológicos – a chamada engenharia humana –, seja no contexto de trabalho, seja no contexto de produto”, pelo que a ergonomia neste estudo assume particular relevância. O investigador realça que esta investigação, “para além de estudar a relação da mão com o produto – no caso, tecnologias táteis –, percebeu-se que havia falta de informação acerca das dimensões da mão, na população portuguesa”. Os dados antropométricos dos portugueses já existem, com a UMinho a assumir um papel pioneiro nos dados de corpo inteiro, mas ainda não foi desenvolvido trabalho de análise de dados antropométricos específicos, como a mão, o pé, o crânio, entre outros.

Nas pisadas de Leonardo da Vinci

“A base do projeto acabou por ser essa pertinência de conhecermos as dimensões da mão”, afirma, enquanto, por analogia, recupera os estudos e referências científicas históricas, como são exemplo a preocupação de Leonardo da Vinci, que com os seus desenhos representava o estudo da dimensão da mão e da proporcionalidade das dimensões do ser humano. "O objetivo de base seria a criação de uma base de dados com dimensões antropométricas da mão dos portugueses, mas “rapidamente percebemos que um outro objetivo que surgia com relevância era o de conhecermos as áreas de contacto dos dedos com os dispositivos de touch screen e displays interativos”, desvenda o responsável.
 
No primeiro caso, a caracterização da mão é de natureza genérica e permite apoiar o desenvolvimento de produto, desde a área do vestuário, sendo a mais natural, mas também acrescenta que "conhecer os dados antropométricos da mão, do ponto de vista biomecânico, influencia o desenho de um determinado equipamento em desenvolvimento, como são os exemplos mais simples das maçanetas ou pegas, até aos equipamentos de manuseamento mais complexo”.
 
Esta base de dados será estratificada na sua amostra, de acordo com os fatores determinantes de influência, nomeadamente por escalão etário, zona geográfica, profissão, bem como o cruzamento com os dados antropométricos genéricos, fazendo a correlação das dimensões da mão com outras dimensões do corpo.
  
Quanto à questão que se relaciona com a investigação da interação com interfaces tecnológicos, é consensualmente considerada muito pertinente pela proliferação desses interfaces, nomeadamente porque “é importante otimizar essa interação, tanto no sentido do conforto, como no sentido de minimizar a imprecisão e o erro no manuseamento”, revela Pedro Arezes.

O feedback dos táteis no horizonte do futuro
 
O desafio da estratificação desta vertente do estudo está na maior cobertura possível no tipo de interação. Para o investigador responsável, "devemos concentrar-nos nos tipos de display, desde os verticais como monitores, mas também os telemóveis, tablets, ou dashboards dos automóveis, com tipos de utilização distintos”, acrescentando a importância de tipificar a “forma como se interage com esses displays e superfícies de contacto”.

"Estes dados ganharam grande importância desde que concebemos o projeto inicial”, sustenta o especialista em ergonomia, para sublinhar "O nosso objetivo inicial mudou um pouco, pois os dispositivos nestes dois anos evoluíram muito e de uma oferta limitada de displays touch screen da altura, temos hoje uma série de dispositivos diferentes, absolutamente difundidos”.
 
O desenvolvimento das tecnologias mais recentes confere uma relevância ainda maior a este estudo da interação, já que “privilegiam uma exploração máxima de uma relação física produto/utilizador, criando mesmo uma relação física virtual”. O desenvolvimento destes produtos está a levar a tendência para um tipo de utilização que começa a abordar o campo de sensação física. Pedro Azeres prevê que num futuro muito breve “os ecrãs lisos e rígidos podem dar lugar a ecrãs que permitam ter, por exemplo, feedback tátil, em que a interação nos simula o contacto físico real com botões e sistemas físicos”. Estas linhas de desenvolvimento conferem ao estudo da interação com superfícies táteis uma renovada pertinência e uma clara atualidade científica.
 
Importante será agora agregar uma grande quantidade de dados, numa amostra idealmente alargada de pelo menos mil indivíduos, “que poderá ser menor em alguns casos específicos, embora o tamanho da amostra deva ser o mais alargada possível”. No entanto, a consistência do estudo "é fundamental para suportar a decisão de produtores e programadores dos interfaces no futuro”.
 
Para além deste trabalho de doutoramento, “que se prevê terminar no próximo ano, com a produção de conhecimento fundamental”, deverá haver pelo menos mais dois anos de trabalho para que se apresente um conjunto relevante de resultados. Este é um percurso que surge por se ter aberto uma linha de investigação “suportada por novas perspetivas de trabalho, como é o exemplo do recente projeto de parceria entre a UMinho e a Bosch, onde as questões da interface homem-máquina, ergonomia e do feedback assumem particular relevância”.