Luís Rodrigues nasceu em Sesimbra há 38 anos. Ingressou na UMinho após uma paragem de três anos na sua formação académica, durante a qual trabalhou na construção civil, numa seguradora e na mercearia dos pais. Apesar da condição de trabalhador-estudante, fez parte da AAUM, foi delegado de turma e participou em várias atividades extracurriculares. Recorda estes cinco anos como os melhores da sua vida. “Fiz o pleno”, diz. Começou a trabalhar na Accenture, presente em mais de 120 países do mundo, com 26 anos, mal tinha terminado o curso.
Ingressou no curso de Informática de Gestão em 1998. Como foi o seu primeiro dia na UMinho?
Quando ingressei na UMinho, com 21 anos, ia determinado a dedicar-me exclusivamente aos estudos, sem qualquer tolerância ou desejo de aproveitar o ambiente académico e a diversão que é expectável dele advir. Tinha interrompido os estudos por três anos, durante os quais trabalhei em diversas áreas, desde o comércio aos serviços, passando pela construção civil. Tinha plena consciência do sacrifício que os meus pais estavam a fazer para suportar os custos das propinas, deslocações, etc. Portanto, via o ingresso no ensino superior de uma forma diferente da maioria dos meus colegas, com mais maturidade, creio. O meu primeiro dia na UMinho foi um dos mais surpreendentes e felizes da minha vida! Pensei genuinamente que o primeiro dia fosse como qualquer outro. Não conhecia as tradições académicas. Recordo-me de estarmos todos frente ao auditório principal quando chegaram alunos trajados “pedindo” aos “caloiros” para irem até ao exterior... Jamais esquecerei este momento, pois a minha convicção e falta de tolerância para com outra coisa que não fosse estudar e trabalhar foi substituída por uma vontade imensa de participar, ser integrado, aproveitar e tirar as conclusões disso mais tarde. Foi a melhor decisão da minha vida! O primeiro dia na UMinho marcou decididamente a atitude que tive como estudante durante os restantes cinco anos do curso. Ainda hoje sou conhecido em Azurém, Guimarães, como o “Sesimbra”.
Que recordações guarda da vida académica?
As melhores que alguma vez imaginei ter. Não só aproveitei praticamente tudo o que a vida académica me podia proporcionar, como também “fiz o pleno”. Fiz parte do Departamento Pedagógico da Associação Académica no primeiro ano, tendo sido convidado a juntar-me à lista vencedora, mesmo depois de ter concorrido pela lista adversária. Participei em todos os momentos marcantes da evolução de um estudante, desde o primeiro ao último ano. Lamento não ter participado em nenhuma tuna, só fui a alguns ensaios. O tempo não era suficiente: estudava, trabalhava, fui delegado de turma durante todo o curso e participei em várias atividades extracurriculares. O “pleno” que digo ter feito traduz-se nos amigos que fiz e dos quais ainda guardo algumas das melhores amizades, dos conhecidos que ainda me reconhecem e acarinham, dos professores aos funcionários, e da mulher que conheci, hoje esposa e mãe da nossa filha. Dificilmente poderia ter um melhor saldo do que foram os cinco melhores anos da minha vida!
Começou a trabalhar na Accenture, aos 26 anos, logo após a sua saída da UMinho. Foi fácil convencer a maior empresa de consultoria do mundo a contratá-lo?
“Fácil” não terá sido, pois o processo de recrutamento foi longo e teve várias etapas. Há muitos anos que a Accenture recruta licenciados diretamente na UMinho, fruto de uma excelente relação de parceria com a Reitoria e com os departamentos responsáveis pelos cursos alvo desse recrutamento. Fiz os testes psicotécnicos em novembro de 2002, tendo obtido resposta apenas em janeiro de 2003. Já estava a perder a esperança! Depois disso, em mês e meio desloquei-me a Lisboa duas vezes para fazer entrevistas. Em março iniciei a última etapa, uma formação remunerada de quatro semanas. O perfil de um finalista da antiga licenciatura em Informática de Gestão adequa-se muito facilmente ao que é esperado de um consultor em geral. Embora o processo atente mais no potencial do candidato do que nos conhecimentos adquiridos, sinto que a formação da UMinho ajudou-me a estar melhor preparado e a cativar a atenção da Accenture.
Assumiu desde então as funções de analista e consultor. Recentemente foi convidado a fazer parte da equipa australiana, em Melbourne (Vitória), onde é responsável pela gestão estratégica da tecnologia de informação. Em que consiste esta tarefa?
A Accenture tem uma visão de consultoria estratégica, onde enquadra a modelização do futuro dos nossos clientes, combinando um profundo conhecimento do seu negócio, em paralelo com o entendimento de como a tecnologia impacta nos diferentes modelos de negócio e indústrias. O que ambicionamos na área de Technology Strategy é maximizar o valor das Tecnologias de Informação (TI) para o hoje e para o amanhã de cada cliente. Fazêmo-lo através da execução de diferentes tipos de projetos, ora definindo uma jornada de transformação que permita ao cliente alcançar os seus objetivos, alinhando a estratégia das TI à estratégia da organização, ora olhando as áreas da organização para perceber como podem ser otimizadas, alavancando soluções e melhorias aplicáveis aos processos, às pessoas, às infraestruturas ou às aplicações de Sistemas de Informação (SI). O meu papel enquanto manager é assegurar que os clientes encontrem nos nossos projetos as melhores soluções com valor acrescentado, reconhecido e comprovado. Para tal, desempenho funções de gestão de projeto e de SI, analista de negócio, gestor de equipa, entre outras, procurando aumentar os valores de satisfação e assegurar os resultados que nos permitem crescer juntamente com os clientes.
"Informáticos portugueses têm maior capacidade de adaptação"
Há no seu trabalho algo que vem da marca UMinho?
Seguramente que sim. Os professores com quem tive o prazer de aprender a pensar e adquirir conhecimento (parafraseando as palavras do professor Henrique Santos), as oportunidades que tive em interagir com novas realidades dentro e fora do mundo académico enquanto estudante e a rede de contactos construída na UMinho, e que ainda hoje mantenho, são ferramentas preciosíssimas que fazem parte mais ou menos ativa dos diferentes momentos profissionais. Sempre achei que a UMinho era uma Universidade de categoria nacional e europeia (quiçá mundial). É uma opção de grande valor para qualquer estudante, nacional ou estrangeiro. A evidência está nos resultados recentemente reconhecidos nos diversos rankings publicitados.
Trabalhou em vários países do mundo: Reino Unido, Arábia Saudita, Finlândia, EUA, Angola, Austrália e Portugal. Como são vistos os informáticos portugueses no exterior?
Não tenho uma “visão externa” que possa responder diretamente a esta questão. No que diz respeito à Accenture, os portugueses tendem a ter mais experiência, maior flexibilidade e melhor capacidade de entrega e adaptação a diferentes ambientes e/ou situações de pressão. Associo esta postura ao facto de a formação superior ser genericamente melhor e direcionada para uma determinada área de conhecimento. O facto de o mercado português ser tão pequeno e concorrencial faz com que os profissionais de SI adquiram experiências diversificadas e lidem melhor com situações complexas.
Que conselhos daria a um recém-licenciado?
Desconfiando que dificilmente um recém-licenciado tenha tido a paciência para ler esta entrevista até ao fim, arrisco ainda assim a partilhar a minha visão, que espero vir a transmitir à minha filha um dia: “Planeia bem os próximos passos. Procura desafios sem os temer e antecipa os cenários com que te podes deparar depois deles terminarem, com ou sem sucesso. Gere bem as expetativas de todos os que te rodeiam e as tuas também. E prepara-te para começar doravante a aprender mais do que tudo o que já aprendeste. O mundo é cada vez mais global e qualquer profissão está sujeita a desafios e progressos que à data de hoje não imaginamos ou não conhecemos em detalhe. Estar consciente disso é o primeiro passo para estares melhor preparado para quando isso acontecer”. Aproveito para partilhar a visão de um saudoso professor da UMinho, Altamiro Barbosa Machado (1945-2001), com quem tive o prazer de privar e ouvi-lo dizer que era tão importante um LIG (Licenciado em Informática de Gestão) saber programar como apreciar um bom vinho ou adaptar-se a diferentes públicos, ambientes e culturas. Ele tinha uma visão global da profissão, sabia que o mercado de um LIG não era apenas nacional e muito menos regional.
Considera estar no topo da sua carreira?
Seja qual for a forma com que continue a moldar minha carreira profissional, esta está seguramente longe de estar no “topo”. Não tenho planos concretos, mas quando penso nos meus pais e tios, já com bastante idade e com limitações de saúde, gostava de um dia poder vir a participar num projeto que lhes permitisse a eles e a outros beneficiar de mais conforto e bem-estar graças à inovação tecnológica nas TI e à sua aplicação no dia-a-dia.
“Só não trabalhei na pesca e agricultura”
Um livro. “Os Bichos”, de Miguel Torga, pelo significado pessoal e pela forma como o apreciei na altura. Livro de estórias simples, mas muito belas. Atualmente sou fã dos livros escritos pelo José Rodrigues dos Santos, em particular da série com o protagonista “Tomás de Noronha”.
Um filme. “Forrest Gump”, do realizador Robert Zemeckis.
Uma música. “Eu tenho um melro”, dos “Deolinda”.
Uma curiosidade. Antes de ingressar na UMinho, fui mediador de seguros do ramo “Vida”, após ter trabalhado nos escritórios de uma pedreira e na construção civil como servente de trolha. Comecei a trabalhar com 12 anos no café e na mercearia do meu pai. Quase só não trabalhei nas áreas da pesca e da agricultura! [risos]
Um vício. Deixei de ter! Deixei de fumar no dia em que a minha primeira filha nasceu. Já lá vão mais de 22 meses.
Um clube. Sporting Clube de Portugal.
Um desporto. Futebol.
Um passatempo. Qualquer dia começo um...
Uma viagem. Portugal, continente e ilhas de lés-a-lés.
Um prato. Só um?! Impossível!
Uma personalidade. Ricardo Araújo Pereira.
Um momento. Quando a minha mulher me sorriu no altar.
Um sonho. Que a minha família seja saudável e feliz por muitos anos e que possa crescer em número e aumentar o convívio entre todos.
Uma frase. Nós fazemos da vida aquilo que a vida faz de nós.
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