Como é que começou a trabalhar na Universidade do Minho?
Comecei, em 1995, tinha 32 anos, a trabalhar em alguns projetos ligados ao ensino e formação de professores. Tinha duas irmãs cá a trabalhar que me ajudavam, indicando-me para estas necessidades pontuais da universidade. O primeiro projeto em que colaborei era coordenado pela prof. Júlia Formosinho. Seguiram-se outros e, com o tempo, fui interagindo com vários docentes que também me foram conhecendo e ao meu trabalho. Foi assim que o Prof. Cândido Varela Freitas me convidou para trabalhar no então CEFOPE – Centro de Formação de Professores e Educadores de Infância, que funcionava no Edifício dos Congregados.
Continuou ligada a projetos de ensino e formação?
Também exerci funções administrativas na presidência do CEFOPE, mas o meu trabalho prendeu-se mais com o apoio a dois projetos de ensino e formação de professores. Um, com a duração de dois anos, visava a Consolidação dos Sistemas Educativos dos PALOP, projeto esse financiado e organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian, à luz do qual se formou um conjunto de professores oriundos de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné e S. Tomé e Príncipe, para que eles próprios pudessem formar outros colegas, nos seus países. O outro era também um projeto de formação de formadores de São Tomé e Príncipe, com a duração de seis meses, em que participaram 28 professores formandos. As minhas funções eram essencialmente administrativas, nomeadamente na ligação entre a UMinho (uma das entidades formadoras) e a Fundação Calouste Gulbenkian, mas também me envolvia na integração dos professores estrangeiros que acolhíamos em Braga: desde recebê-los na Estação de caminhos-de-ferro, preparar-lhes o alojamento nas Residências Universitárias, apoiá-los nas transações bancárias, transportes, idas ao hospital, enfim, todo o apoio que precisassem ao longo da sua estada.
Com o fim desses projetos inicia um percurso profissional que reflete várias mudanças, de instalações e na orgânica da instituição.
Depois de terminarem, em 1998, e com a transformação do CEFOPE em IEC – Instituto de Estudos da Criança, fui convidada para trabalhar no Departamento de Ciências Integradas e Língua Materna. Cabia-me prestar apoio administrativo ao departamento, e, pontualmente, às candidaturas de acesso aos cursos de mestrado e especialização que faziam parte da sua oferta formativa, bem como no funcionamento administrativo dos cursos alocados ao DCILM. Ali trabalhei até 2009, altura em que se deu nova mudança nas Unidades Orgânicas de Ensino e Investigação da UMinho: da junção do IEC - Instituto de Estudos da Criança e do IEP - Instituto de Educação e Psicologia, nasceram o IE – Instituto de Educação, e a EPsi – Escola de Psicologia. Houve, naturalmente, uma redistribuição e afetação dos recursos humanos envolvidos nestas unidades. Eu fiquei afeta ao Instituto de Educação (IE). Foi uma situação bastante marcante para todos nós, docentes e funcionários não docentes, pela mudança que acarretava e o desafio em si. Mas, e apesar de complicada e delicada, com o tempo, acabou por ser superada!
Foi mais difícil do que a mudança de instalações do Edifício dos Congregados para o campus de Gualtar?
Para mim, foi mais difícil a mudança de instalações. Foi difícil! [sorriso] Acho que ainda hoje não ultrapassámos completamente essa mudança! [risos] Pela novidade, andámos contentes nos primeiros tempos. Até chegámos a comentar “Até não é tão mau assim!”, mas, quanto mais o tempo passa, mais custa. Volta a saudade! Sabe, estávamos no centro da cidade, era um local cheio de dinâmica e muito agradável, o próprio edifício era agradável e lindíssimo, o número de pessoas que fazia parte do IE era bem mais reduzido e isso permitia que fossemos mais próximos uns dos outros.
"Continuo a gostar muito do que faço"
O que é que gosta mais no que faz?
Os dois projetos em que me envolvi, quando comecei a trabalhar no CEFOPE, foi a experiência mais marcante de todo o meu percurso profissional na UMinho. Continuo a gostar muito do que faço, o sistema administrativo da UMinho obriga-nos a constantes atualizações e evolução, e isso não deixa de ser muito estimulante, mas prefiro a interação humana a estar em frente a um computador a tratar de contas e outros aspetos burocráticos e administrativos. E então, tratando-se de grupos de pessoas oriundos de outros países, nomeadamente Angola, onde nasci, ainda é mais fascinante. Também faço locução para o IE, pontualmente. Adoro! Dou a voz à
newsletter do IE, embora isso já não aconteça há algum tempo, e uma ou outra vez, na apresentação dos cursos a distância do DEILDS. É como vestir outra pele! [risos] Embora seja difícil de fazer, divirto-me muito. É preciso imaginar quem está do outro lado, fazer pausas, beber muita água e meter umas brincadeiras pelo meio, porque o tempo de fala é tão prolongado que, de vez em quando, há necessidade de cortar a concentração! [risos]
Este ano, ingressou na licenciatura em Negócios Internacionais.
É verdade! [sorriso] Comecei no mês passado.
O que a fez tomar a decisão de voltar a estudar?
A vontade de ingressar no ensino superior estava “hibernada”: no final do 11º tive que interromper os estudos para trabalhar e ajudar a minha família e em 1997, quando fiz os antigos exames
ad-hoc (para acesso ao ensino superior aos maiores de 23 anos), estava grávida da Sara. Como o nascimento aconteceu em setembro, tive que optar. Preferi ser mãe a 200%! [sorriso] Apesar de ter adiado esse objetivo, mantive a vontade de o retomar, nem que fosse aos 75 anos! E da mesma ideia partilha a minha mãe, não fosse ela também caloira da UMinho este ano! [risos] Nunca é tarde. Não é mesmo! E acho que essa foi a minha “jangada” ao longo destes 18 anos; aquilo que me fez esperar que a minha filha ganhasse asas e se tornasse mais independente de mim. [sorriso] Também tenho alguns colegas que voltaram recentemente aos estudos – a Ana Gonçalves do Instituto de Ciências Sociais, o Saúl Sendas da Escola de Ciências, que foram um exemplo para mim e alimentaram, ainda mais, a vontade que eu já tinha.
Fez o curso de preparação para os maiores de 23 anos. Como foi a experiência?
Um grande desafio! [sorriso] Lancei-o também à minha mãe, que é uma curiosa por natureza, e hoje sei que foi das melhores coisas que pude fazer por ela. Trouxe-lhe novos interesses e um brilhozinho nos olhos! Escolhemos disciplinas específicas diferentes porque tínhamos interesses diferentes: ela escolheu História, porque pretendia ingressar na mesma licenciatura, e eu Economia, pois queria entrar em Administração Pública.
Mas acabou por ingressar em Negócios Internacionais.
A ideia inicial era aprender novas ferramentas e aplicar o novo conhecimento ao meu trabalho, mas a verdade é que essa ideia foi esmorecendo e acabou por morrer! [risos] Na disciplina de Economia acabei por descobrir temas tão interessantes, discutir ideias tão ricas, sobretudo ao nível da economia e dos mercados internacionais, que mudei de opinião. O simples facto de estarmos a abordar conteúdos que não se confinavam ao território nacional serviu para me transportar para outros e novos interesses. A professora Margarita Arantes também foi responsável pela minha “paixão” por Economia e, a meio do curso, decidi que me iria candidatar a Negócios Internacionais. [sorriso]
O que procura com estes anos de estudo?
O primeiro intuito foi permitir-me progredir na carreira, pois há sempre a esperança de que as progressões na função pública “descongelem”. Talvez venha a acontecer um dia; tenho que ser positiva! [sorriso] Por outro lado, e à medida que fui mudando a minha escolha pela licenciatura em Negócios Internacionais, fui pensando que estaria a criar um novo caminho de possibilidades e novas oportunidades. Estou ao serviço desta casa e “visto a camisola”, mas estou recetiva ao que o futuro me possa trazer!
Um olhar pessoal
Um livro. “Nação Crioula”, José Eduardo Agualusa. Um marco na minha vida.
Um filme. Sem qualquer dúvida: “Uns e os Outros”, de Claude Lelouch.
Uma música. Cingindo-me unicamente à esfera musical do jazz e da música clássica, para não pecar por exagero: Bill Evans, Miles Davis, Jacques Loussier, Tigran Hamasyan, Patricia Barber, Joe Pass e Dhafer Youssef Quartet, no jazz; Rachmaninoff, Bach e Vivaldi, na música clássica.
Uma figura. General Ramalho Eanes. Uma figura à parte na nossa política, na nossa História. Um exemplo para todos. Pena não haver mais políticos com a mesma fibra!
Um passatempo. Culinária! [risos]
Uma viagem. Viena. Um sonho.
Um clube. Ferrenha pela seleção portuguesa! [risos]
Um prato. Cozinhado por mim ou não: bacalhau na brasa!
Um momento. O dia em que estive no deserto do Saara. Único, indescritível, universal.
Um vício. Tabaco. [risos]
Um defeito. Temperamental, em contenção!
Um sonho. Ir ao Grand Canyon. Já está nos planos.
Um lema. Sonhar, projetar e acreditar - para acontecer.
A UMinho. A Outra Casa.
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