Uma fundação em nome do “eterno reitor”

30-11-2015 | Catarina Dias | Nuno Gonçalves

O presidente da FCLB foi aluno de Carlos Lloyd Braga na Universidade de Lourenço Marques, em Moçambique. Já em Portugal, teve a oportunidade de colaborar com ele em vários projetos.

Intervenção de Carlos Couto no lançamento da obra “De Todos Se Faz Um País”, da autoria do moçambicano Óscar Monteiro

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Entrevista ao presidente da Fundação Carlos Lloyd Braga, aludindo aos momentos mais marcantes desta entidade e à relação de Carlos Couto como ex-aluno e colega do patrono.




Assumiu a presidência desta estrutura em janeiro de 2013. Porque aceitou esse desafio?
É uma oportunidade de honrar a memória de Carlos Lloyd Braga, com quem privei em vários momentos do meu percurso. Foi meu professor de Física Geral na Universidade de Lourenço Marques, em Moçambique, em 1968-69 e, depois, o reitor que me acolheu quando ingressei como assistente na UMinho, em 1976. No ano seguinte, fui fazer o doutoramento na Inglaterra, na mesma instituição que o professor Carlos, a Universidade de Manchester. Depois de voltar, já ele não estava no Minho, pediu-me para o ajudar na implementação do Instituto Politécnico de Faro. Durante cinco anos colaborei na escolha dos equipamentos, na proposta de cursos, nas entrevistas aos docentes e investigadores... Na fase final, até 1986-87, trabalhei com ele como membro do conselho científico da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Faro. Portanto, aceitar este desafio foi uma maneira de colaborar com a Universidade, honrando a memória de quem admirei muito. Tive vários mentores ao longo da minha vida profissional, seguramente Carlos Lloyd Braga foi um deles.
 
Chegou a meio da elaboração do livro “História da Universidade do Minho 1973/1974-2014”, proposto pelo seu antecessor Luís Couto Gonçalves. Recuperar 40 anos de história foi uma tarefa difícil?
Foi uma tarefa fácil porque a equipa estava montada. Já conhecia bem a líder da equipa, a professora Fátima Moura Ferreira, e isso facilitou imenso. O meu contributo foi mais no sentido de modernizar a obra. Fez-se uma edição em papel, de 415 páginas, e outra eletrónica, que permitirá uma atualização constante, constituindo um repositório de toda a evolução da Universidade. Enquanto o livro físico foi o fim de uma etapa, o livro eletrónico é o princípio, uma vez que se irá transformar num arquivo dinâmico.
 
Que outras iniciativas têm marcado a FCLB?
A Fundação conta com um conjunto diversificado de iniciativas, desde a Cátedra Lloyd Braga, o Prémio Karingana Wa Karingana até à publicação de várias obras dedicadas à história e evolução da própria Universidade. A que tem maior visibilidade é, sem dúvida, a Cátedra Lloyd Braga, que já vai na sua 15ª edição. As duas últimas foram atribuídas à Escola Superior de Enfermagem (ESE) e à Escola de Arquitetura da UMinho. O objetivo é ajudar a desenvolver a base científica das escolas e dos respetivos centros de investigação, nomeadamente no apoio científico a cursos novos. A divisa da UMinho é que todos os cursos sejam suportados pela investigação. No caso da ESE, esta era uma escola de ensino médio. A atribuição da Cátedra teve essa finalidade de apoiar a estruturação da sua investigação.
 
O que está previsto para os próximos anos?
Esperamos até 2019, ano em que se celebra o 20.º aniversário da FCLB, ter uma base de autossustentabilidade financeira. Este objetivo tem por base iniciativas suportadas no novo site, que está a ser criado. Uma delas está ligada à valorização do acervo das unidades culturais da UMinho e à atividade editorial, especialmente de documentos multimédia que facilitem o autoestudo dos estudantes, com base em novas tecnologias de informação. Os downloads da documentação completa e com grande resolução ou dos módulos de autoestudo, por exemplo, serão pagos pelos interessados a um preço significativamente baixo. Não queremos competir com as outras iniciativas editorais existentes na Universidade, trata-se de um canal de divulgação suplementar. Pretende-se, também, através do site, fortalecer a cooperação com os países de língua portuguesa. Já foram assinados vários protocolos com universidades dos PALOP e não é por falta de acordos que não há cooperação. A Fundação pretende lançar um repositório onde se vai incentivar a publicação de artigos provenientes de docentes e investigadores de universidades da lusofonia. Julgamos que, desta forma, será mais fácil identificar os potenciais atores para projetos de cooperação. Temos também em vista projetos ligados às energias renováveis e ao saneamento de aldeias remotas.
 
Como define Carlos Lloyd Braga enquanto ser humano, académico e reitor?
Convivi com ele enquanto reitor da UMinho, já como homem de fazer do ensino superior. Foram momentos muito gratificantes porque conheci a sua faceta humana, a capacidade de resolver problemas e colocar instituições a funcionar. Era uma pessoa de causas, dava a cara e punha o peito para derrubar todas as barreiras necessárias de modo a conseguir atingir os objetivos definidos. Era ótimo a convencer as pessoas. Por um lado, porque acreditava no que defendia; por outro, porque era um negociador exímio com os ministérios, os empreiteiros, com um trato muito afável, tentando resolver os problemas sem ferir suscetibilidades. Ele dizia sempre: “Convence-me de que é a melhor solução, depois trato do resto” [risos]. Sem este savoir-faire e determinação, não teria sido possível concretizar tal projeto, pelo menos desta maneira. Quando vim para cá, a Universidade do Minho acabava de nascer, por isso erámos frequentemente chamados a participar na sua consolidação. Na altura, o professor Carlos pediu-nos para ajudar na escolha do Palácio de Vila Flor para instalar a UMinho, em Guimarães. Como eletrotécnico, estive a avaliar as instalações elétricas, entre outros aspetos. Depois de sair da UMinho, foi para o Algarve com outro objetivo: criar o Instituto Politécnico de Faro. Tive por lá várias reuniões de trabalho. O meu voo aterrava, normalmente, ao sábado de manhã, o professor Carlos ia buscar-me ao aeroporto, trabalhávamos intensamente, almoçávamos, ele era um exímio mestre-de-cerimónias e conhecedor da gastronomia do país. Por vezes fazíamos diretas para resolver problemas pendentes, ele ficava com a equipa até ao fim sem nunca a abandonar. Mais: ele tinha sempre o cuidado de marcar a viagem de regresso no domingo, cedinho, porque queria que chegasse a tempo para almoçar com a família. Era, de facto, um verdadeiro gentleman na forma como se relacionava com as pessoas.
 
Considera que a memória do reitor-fundador da UMinho está presente no seio da comunidade académica?
Está presente no rumo que a Universidade leva. A UMinho nasceu bem e, como tal, tem vindo a progredir bem.



"A Fundação é mais um braço da Universidade"
 
A FCLB foi criada a 13 de julho de 1998, tendo sido reconhecida a 1 de julho de 1999. Teve como presidentes os professores da UMinho Sérgio Machado dos Santos, fundador da estrutura, Luís Couto Gonçalves e, agora, Carlos Couto, que assumiu o cargo em janeiro de 2013. O objetivo desta fundação é a promoção e o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e económico da região e do país, através da realização de ações que envolvam a Universidade do Minho. Ou seja, o centro de tudo é a UMinho, a Fundação é mais um braço da Universidade. Cabe nomeadamente à FCLB fomentar a cooperação da UMinho com pessoas singulares ou coletivas, públicas, privadas ou cooperativas, promover iniciativas de índole cultural, apoiar atividades de investigação e formação avançada, difundir conhecimentos científicos e tecnológicos, bem como apoiar o funcionamento da prestação de serviços espacializados à comunidade por parte da Universidade do Minho.