Crianças e jovens dormem cada vez menos

26-01-2016 | Catarina Dias

Mais de sete em dez crianças e jovens têm aparelhos multimédia no quarto, o que atrasa a hora de deitar (foto: doutissima.com.br)

Dos 502 alunos entrevistados, 12,4% confessaram ter adormecido pelo menos uma vez nas aulas (foto: blog.tricae.com.br)

Olinda Oliveira é a autora principal do estudo desenvolvido. Contou com a orientação de Zélia Anastácio, do Instituto de Educação da UMinho

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Estudo do CIEC conclui que 72% dos menores dormem de 7 a 9 horas diárias durante a semana, "o que é pouco", diz Olinda Oliveira. Foram inquiridos 502 alunos, com idades entre os 9 e 17 anos.




Um estudo da Universidade do Minho revela que 72% dos menores dormem de 7 a 9 horas diárias durante a semana, “o que nem sempre é suficiente” para assegurar o seu bem-estar físico e psicológico. Associados a noites “mal dormidas” estão sintomas como mudança de humor, desmotivação, ansiedade, falta de concentração ou ainda, em casos extremos, problemas de comportamento, obesidade e menor resistência a doenças, diz Olinda Oliveira, autora deste trabalho. A presença de aparelhos multimédia no quarto parece ser um dos fatores que mais retarda a hora de deitar.
 
A investigação incluiu uma amostra de meio milhar de alunos, com idades compreendidas entre os 9 e 17 anos. Pretendeu averiguar a quantidade e a qualidade de sono dos alunos em função do meio de residência, sexo e ano de escolaridade, identificar fatores externos com impacto na redução progressiva das horas de repouso, bem como avaliar de que forma a qualidade do sono interfere na saúde física e emocional, nos comportamentos e na aprendizagem dos envolvidos.
 
Os resultados comprovam o que se passa na generalidade dos países do Ocidente: a tendência em dormir menos de 9 horas por noite aumenta à medida que se avança nos anos de escolaridade. “Esta mudança nos hábitos e padrões do sono pode ter efeitos negativos nos processos de desenvolvimento, no progresso psicossocial e na performance académica dos jovens”, realça a investigadora, que teve a orientação de Zélia Anastácio, do Instituto de Educação.


A culpa é também dos aparelhos eletrónicos

A tese de mestrado mostra ainda que mais de metade dos estudantes admite sentir, “às vezes”, distração. E há outros sintomas que, mesmo não sendo manifestados pela maioria dos 502 inquiridos, surgem com alguma frequência, tais como mudanças de humor (198), ansiedade (195), bocejo constante (185), agitação (166), desmotivação (160), olheiras (141), irritabilidade (129), pequenos acidentes (118), muita tristeza (114) e fadiga muscular (100). Da amostra integral, 12% confessou ter adormecido pelo menos uma vez nas aulas.
 
Entre os fatores externos que mais retardam a hora de deitar está a existência de aparelhos multimédia no quarto. Mais de sete em cada dez inquiridos afirmaram ter televisão no quarto, seguindo-se do computador, aparelho de música e internet (55,8%). “A necessidade cada vez maior de privacidade por parte das crianças e dos adolescentes leva os pais a colocarem uma panóplia de aparelhos nos quartos dos filhos, propiciando hábitos de sono pouco saudáveis”, justifica Olinda Oliveira. A Fundação Nacional do Sono dos EUA vai ainda mais longe ao afirmar que os alunos com quatro ou mais itens eletrónicos nos quartos têm quase o dobro da probabilidade de adormecer na escola e/ou enquanto fazem os trabalhos de casa.

 
Meio rural favorece qualidade do sono
 
O local de residência parece igualmente influenciar a qualidade do sono dos mais jovens. Os que habitam em meios rurais tendem a ter períodos de sono mais tranquilos e deitam-se mais cedo durante a semana (21h00-22h00) e ao fim de semana (23h00-24h00). “As profissões praticadas pelos pais do meio urbano nem sempre implicam horários fixos de trabalho, o que atrasa a hora do jantar e, consequentemente, de deitar, afetando negativamente toda a unidade familiar”, esclarece.
 
Foram ainda identificadas diferenças significativas nos hábitos de sono, segundo o sexo dos inquiridos (249 do sexo feminino e 253 do sexo masculino). Durante a semana, as raparigas acordam mais cedo do que os rapazes, invertendo-se a tendência ao fim de semana. Estas discrepâncias vêm confirmar o que já é defendido noutros estudos internacionais: “Por norma, as mulheres têm ao longo da vida maior incidência de problemas de sono, como insónias e pesadelos”, sublinha a investigadora Olinda Oliveira. O seu trabalho foi também alvo de publicação pelElsevier e pela Asociación Nacional de Psicología y Educación.