"O número dos nossos estudantes estrangeiros duplicou"

17-02-2016 | Nuno Passos

A Escola de Economia e Gestão da UMinho situa-se no campus de Gualtar, em Braga

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Entrevista ao presidente da Escola de Economia e Gestão (EEG), Manuel Rocha Armada. Início do ciclo de entrevistas aos responsáveis das 11 Escolas e Institutos da UMinho.




A EEG faz 34 anos a 10 de março. Quais são as principais marcas deste percurso?
É amplamente reconhecido que esta Escola tem vindo a ganhar grande projeção, quer nacional, quer internacionalmente, e por várias razões, das quais refiro, a título de exemplo, as seguintes: os seus docentes têm vindo a obter prémios nacionais e internacionais; organizado, e até presidido, conferências de prestígio mundial; obtido financiamentos, muitos deles em projetos internacionais. Todos os docentes de carreira (87) são doutorados e, grande parte deles, pelas melhores universidades internacionais. Alguns foram convidados para altos cargos da governação e direção de entidades nacionais e internacionais. Os centros de investigação da EEG, com avaliação pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, também estão no top nacional das áreas respetivas. Temos ainda projetos pioneiros ou com características que os distinguem, claramente, de outros, tais como: a Escola de Formação de Executivos - UMinho Exec, o plano de competências transversais EEGenerating Skills (pioneiro a nível nacional) e até formação gratuita em Inglês aos nossos estudantes. Por outro lado, o número de alunos estrangeiros duplicou nos últimos anos, o que é extraordinário. Estes são apenas alguns exemplos.
 
Que balanço faz de cinco anos na presidência? Que impacto teve, em particular, a reorganização nas áreas do ensino, investigação e interação com o meio?
A Presidência da EEG, logo após ter tomado posse, decidiu começar por elaborar um estudo, muito aprofundado, sobre a realidade da Escola, interna e externamente, muito em particular nestas três grandes vertentes. Por exemplo, no ensino racionalizámos a oferta, eliminando e otimizando vários cursos, com base nos recursos ao dispor e nas necessidades da procura. Promovemos a reorganização dos núcleos de investigação e temos um projeto de internacionalização do nosso ensino. Lançámos e implementámos também a UMinho Exec, que se encontra na sua fase de alargamento e consolidação. Até agora, os resultados têm sido muito bons.
 
Considera a internacionalização obrigatória no ensino superior? De que forma a EEG se pode afirmar no exterior e, nomeadamente, atrair mais alunos estrangeiros?
Incluímos unidades curriculares em Inglês, algumas de caráter obrigatório, sobretudo a nível do doutoramento. Temos cursos de doutoramento e de mestrado inteiramente oferecidos em inglês. Temos uma combinação de fatores que propicia este tipo de ensino. Sendo expectável uma tendência para se manter o nível da procura interna, é na procura externa que a Escola pode e, acredito, deverá crescer. E isto, antes de mais, só será viável através de uma oferta formativa em inglês, em particular na pós-graduação, onde estão cerca de 42% dos alunos da EEG, sendo aproximadamente 800 a nível de mestrado e de 200 de doutoramento.

Nos cursos colaboram com outros departamentos?
Sim, com departamentos de outras unidades orgânicas de ensino e investigação da UMinho e com outras universidades, quer nacionais quer internacionais e, no âmbito destas últimas, a nível do programa Erasmus (transversal a todos os ciclos de estudo), nas suas vertentes Erasmus+ e redes Erasmus Mundus. No âmbito deste último, com seis redes: Peace I e II, Electra, Swap & Transfer, Areas, Marhaba. Mas também noutros "formatos"; por exemplo, os designados "alunos internacionais" (não Erasmus), co-tutelas, estágios científicos avançados e pós-doutoramentos. O mesmo sucede a nível científico. Temos redes e parcerias em vários continentes. Como a maioria dos investigadores da EEG estudou e viveu, vários anos, em universidades estrangeiras de prestígio, também por esta razão faz todo o sentido. Já a interação com a sociedade está cada vez mais intensa, desde projetos de consultoria a empresas e Ministérios, a outros de âmbito externo. Em alguns doutoramentos nossos já temos uma larga maioria de estudantes internacionais. Recebemos também muitos doutorandos de outras universidades que nos procuram para complementar a sua formação.
 

Apoiar a carreira dos alunos

Tem particular afinidade pela UMinho Exec e pelo EEGenerating Skills. É para consolidar?
São projetos relativamente recentes e com impacto muito positivo. A UMinho Exec, o projecto de formação de executivos da UMinho, e sedeado na EEG, foi apresentado publicamente a 6 de junho de 2014 e envolveu já cerca de 120 alunos e mais de 750 horas de formação no seu ano de arranque, o primeiro ciclo completo de formação. O futuro imediato passa pela consolidação e alargamento significativo da formação, através de mais cursos e áreas de formação, com novas e várias tipologias, nomeadamente de longa duração. Esta estratégia é subsidiária da lógica de parcerias nos domínios da formação (como a ANJE, EY, Ordem dos Engenheiros) ou no desenvolvimento em áreas consideradas de interesse comum no âmbito das suas atribuições (como a AIMinho e ACIG). Internacionalmente, já fizemos acordos com Cabo Verde e, esperamos em breve, com Angola. Já o EEGenerating Skills é um programa que complementa a formação académica através de competências transversais, dando resposta aos requisitos das empresas. Inclui atividades muito diversas, desde cursos e workshops de natureza variada, até visitas a empresas (Field Days) e palestras com CEO's e empresários que vêm partilhar as suas experiências com os estudantes. O número de atividades tem aumentado de ano para ano, bem como o número de alunos envolvidos. No ano passado, por exemplo, organizámos 130 atividades, em que participaram mais de 1600 alunos dos três ciclos de estudos.
 
Como é que a Escola pode auxiliar atuais e antigos alunos na progressão da carreira?
Criámos também um Gabinete de Carreiras em que, em geral semanalmente, explicamos como deve ser construído um curriculum, como agir durante uma entrevista e onde divulgamos oportunidades de estágio e emprego. Este Gabinete de Carreiras serve também como um Observatório de Acompanhamento dos nossos alunos, uma espécie de Alumni EEG, muito centrado na empregabilidade.
 
Que grandes projetos a Escola quer desenvolver nos próximos tempos?
O futuro passa necessariamente por sedimentar as três grandes vertentes. No ensino, tencionamos crescer significativamente a nível internacional. Nesta vertente, estamos a dar os primeiros passos para conseguir a tripla certificação internacional, que é um trabalho contínuo e difícil. Na ligação à sociedade, vamos aprofundar a UMinho Exec, o EEGenerating Skills e dar continuidade à generalidade dos projetos, em articulação com a Universidade e o meio envolvente, com o olhar permanente na valorização do conhecimento que produzimos. Há sempre espaço para melhorar, há sempre desafios novos.

Defende que, particularmente em tempo de crise, deve reforçar-se o investimento no ensino superior. Como é possível face às contingências do ensino superior público?
É, sem qualquer dúvida, pelo conhecimento que a sociedade avança e se fortalece. Defendo claramente que se deve continuar a investir em ciência básica e fundamental. O ensino superior público está sob ameaça, o que é trágico. O Estado deveria garantir a maioria do financiamento e não colocar as instituições sob pressão. Se a restrição financeira se prolongar no tempo, então deve haver coragem para concentrar os principais recursos do Estado nas melhores instituições. Do nosso lado, prosseguiremos com a estratégia de multiplicação das fontes de financiamento para depender cada vez menos do financiamento público. 



Nota biográfica
 
Manuel José Rocha Armada é licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), mestre em Management Science pela Universidade de Kent (Reino Unido) e doutor em Business Administration pela Manchester Business School (Reino Unido). O professor catedrático faz parte do Núcleo de Investigação em Politicas Económicas (NIPE) da UMinho, da Academia Mexicana de Ciências Administrativas (como membro internacional com direito a voto) e do conselho editorial de revistas internacionais, como "European Journal of Finance", "Frontiers in Finance and Economics", "The International Journal of Business" e "Finance India".

Já foi presidente (chairman eleito) da primeira Conferência Internacional da Portuguese Finance Network (2000), da European Financial Management Association Conference (2011) e da 13ª Annual Conference on Real Options: Theory Meets Practice (2009). Além disso, integrou (também por eleição) a direção da Multinacional Finance Society (MFS) e o comité executivo da European Finance Association (EFA), bem como da Global Finance Conference (GFC). Foi ainda
visiting scholar na London Business School (Reino Unido), na Manchester Business School (Reino Unido) e na Wharton School (EUA).