Moisés, o cidadão...
Também viaja por lazer, para além da profissão?
Penso que tenho viajado demasiado, por razões profissionais. Em termos familiares, tenho viajado muito pouco. E numa leitura retrospetiva, entristece-me um tanto que assim tenha sido.
Há espaço nas viagens de trabalho para ficar com marcas dessas terras?
Sim, por exemplo uma terra ignota, no México, chamada Cholula, perto de Puebla. Gostei de ver as pirâmides funerárias dos povos pré-colombianos, no caso, os astecas. Ficou-me também na memória a aridez de Cabo Verde, no caso de São Miguel, o que me levou a supor que apenas razões estratégicas poderão ter estado no povoamento daquelas terras. E tenho muito presente, ainda, uma viagem recente ao Oriente, onde pude conhecer uma Índia que me era desconhecida. Essa Índia também desconhece por completo o papel que Portugal aí desempenhou séculos atrás. Falo de Hyderabad, uma cidade, metade hindu, metade muçulmana, que me surpreendeu pelo facto de misturar, de um modo obsceno, o cosmopolitismo e a alta tecnologia com a extrema pobreza de franjas alargadas da população, gente de olhar vazio, que nada espera da vida.
Gosta de uma boa conversa à mesa?
Sim. Não tenho nada a cultura do social, mas quem me conhece sabe que gosto muito de privar e conversar em família e com os amigos chegados. À mesa, aprecio pratos tradicionais portugueses, acompanhados com vinho verde, de preferência da minha terra, a Lixa.
Como se informa mais, na imprensa, TV, ou internet?
Apenas ao fim de semana é que leio imprensa escrita - vários semanários e revistas. No dia a dia, leio jornais online, nacionais ou internacionais. Até no desporto. Raramente vejo noticiários na TV. Prefiro ver séries policiais. Ou então epopeias, do género Game of Thrones, que acho uma narrativa estupenda sobre as tonalidades, trágica, fragmentária, labiríntica e enigmática da condição humana. Mas ouço os noticiários da Antena 1, enquanto conduzo, pela manhã, no caminho para a Universidade, e ao fim do dia, quando regresso a casa. Informo-me politicamente, sobre os assuntos da semana, através da comédia e da sátira política, em que consiste o Governo Sombra. E vejo ainda a Quadratura de Círculo, gravado, para ouvir apenas as intervenções do Pacheco Pereira.
E desporto, ainda pratica?
Deixei de jogar futebol, quando tive uma entorse complicada. E parei com o ténis há quatro anos, quando parti um braço. Agora, de vez em quando, faço caminhadas e hidroterapias. É verdade que sonho em fazer umas boas passeatas a pé, mas reconheço que a minha vida ultimamente é demasiado sedentária.
O que lhe agrada mais e o que agrada menos em Portugal?
Não me agrada nada que o meu país seja de brandos costumes. O que eu gostaria é que no meu país houvesse uma sociedade civil muito mais exigente, sobretudo com a classe política e com os media. Desconsola-me que, de uma maneira geral, os media tenham passado para a órbitra do poder e que a classe política tenha descolado do país, tal uma casta, um outro mundo, que perdeu o sentido da comunidade nacional. Mas não trocaria Portugal por país nenhum. Agrada-me viver num país acolhedor, num país livre e de primaveras prolongadas. E então, se a tudo isso juntarmos a convivialidade portuguesa, acho que todas as comparações com outros países deixam de fazer sentido para mim.
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