Prémio de Mérito Científico da UMinho para Moisés de Lemos Martins

17-02-2016 | Pedro Costa

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"O Prémio é uma distinção para as Ciências Sociais e Humanas", afirma o professor catedrático e diretor do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.




Moisés de Lemos Martins nasceu em 1953, em Vila Cova da Lixa, Felgueiras. É professor catedrático do Departamento de Ciências da Comunicação do Instituto de Ciências Sociais da UMinho e diretor do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), que fundou em 2001. Licenciou-se em Sociologia na Universidade de Ciências Humanas de Estrasburgo, tendo concluído o doutoramento, em 1984, nesta mesma Universidade. É diretor da revista Comunicação e Sociedade e da Revista Lusófona de Estudos Culturais. Foi cofundador da Sopcom, da Lusocom e da Confibercom, associações científicas a que presidiu. É um investigador com grande expressão internacional, sobretudo nos espaços lusófono e iberoamericano. Tem publicado no âmbito da Sociologia da Cultura, Semiótica Social, Sociologia da Comunicação e Comunicação Intercultural. É autor de uma vasta obra científica, com dezenas de livros publicados ou editados, de que se destacam Lusofonia e Interculturalidade - Promessa e Travessia (2015); Crise no Castelo da Cultura - Das Estrelas para os Ecrãs (2011); L’Imaginaire des Médias (2011); A Linguagem, a Verdade e o Poder - Ensaio de Semiótica Social (2002); Para uma Inversa Navegação - O Discurso da Identidade (1996); e O Olho de Deus no Discurso Salazarista (1990). A Reitoria da UMinho distingue-o hoje com o Prémio de Mérito Científico (VÍDEO).


Como cresceu o menino Moisés?
O menino que eu fui não tinha interesses por aí além: tudo se resumia a brincadeiras de miúdos, a andar com uma fisga atrás dos pássaros, por exemplo, e à escola, para onde entrei aos seis anos, tendo pago o meu pai 60 escudos para antecipar a entrada. Mas lembro-me bem do dia em que esta vida acabou, quando entrei no seminário, em Felgueiras. Tinha dez anos. E nesse dia, à noite, pus-me a assobiar baixinho na camarata, tendo sido, então, severamente repreendido. Durante cinco anos, passei a ver os meus pais uma vez por mês, indo a casa apenas nas férias de Natal, Páscoa e Verão.
 
Uma experiência marcante…
Com certeza! Fui o sétimo filho, numa família de rapazes, todos muito mais velhos que eu. Cresci com os meus sobrinhos, que foram os meus companheiros de infância. De repente, saí de casa e passei a ver os meus pais uma vez por mês e os meus irmãos e sobrinhos uma vez por trimestre. Foi marcante. Mas fiquei com a ideia de que o gosto pela escrita, pela leitura e pela reflexão se deve muito aos bons professores de português que tive no seminário. Não deixei, no entanto, de me divertir como se divertia qualquer criança à época. O normal interesse de todos os rapazes era jogar futebol. E havia essa monocultura no seminário, jogar futebol todos os dias e ouvir relatos na rádio ao domingo. Mais tarde, quando passei para um seminário em Mafra, até acabei por jogar futebol, como júnior, no clube local, o Mafrense. Fui uma criança bastante feliz, apesar do ambiente disciplinar do seminário. É que uma criança não precisa de grande coisa para ser feliz. Basta-lhe a camaradagem de amigos e poder correr em liberdade. Mais tarde, quando li o Manhã Submersa, do Vergílio Ferreira, revi-me, é verdade, naquela ambiência narrativa. Mas na leitura que hoje faço, à época, era todo o país que era assim, uma clausura e um espaço disciplinar, uma espécie de seminário, de quartel, de prisão e de hospital. Tenho boas recordações do seminário, apesar de vivermos intramuros, quase sem ligação ao exterior, e dos invernos rigorosos, com frieiras nas mãos e a quebrarmos o gelo no tanque, ainda de madrugada, para lavar a cara.
 
E o caminho dos livros vem daí…
Sim, o caminho dos livros, mas também o da intervenção cívica. Vem do seminário de Mafra, com dezasseis e dezassete anos, o interesse pela filosofia, que me permitiu desenvolver o gosto pela reflexão e pelo pensamento crítico. E vem dos tempos de estudante de teologia o combate anti-colonial, a denúncia da guerra e o interesse pelo movimento social e político que conduziu à democratização do país. Por essa altura, nas férias, converti muitas homilias do padre da Lixa, a minha terra, em panfletos com informação contra a guerra colonial, tendo-os depois distribuído, em Fátima, pelos peregrinos.
 
Como acaba a estudar em França?
Aconteceu na continuidade do meu percurso dentro das instituições da Igreja. Fiz o seminário menor em Felgueiras e o seminário maior em Mafra. Depois do 7º ano (hoje 11.º), estudei teologia, em Lisboa, no Instituto Superior de Estudos Teológicos (ISET). Estávamos no começo dos anos 70, do século passado e o ISET era dirigido por padres dominicanos, na maioria formados fora do país, no Canadá, na Alemanha, em Israel, em Roma, em França... Portadores do espírito do Concílio Vaticano II, o ensino destes frades teve então um impacto enorme dentro e fora da Igreja. Tive, no entanto, que acabar o curso de teologia na Universidade Católica, porque o ISET foi encerrado pelo Vaticano, a pedido da Conferência Episcopal Portuguesa. Paradoxalmente, este encerramento aconteceu já depois do 25 de abril. Mas o que é facto é que esta escola de teologia nunca havia merecido a confiança dos bispos portugueses, que a achavam contaminada pelo espírito revolucionário. Penso, aliás, que foi essa a razão que impediu frei Bento Domingues, talvez o maior teólogo português da contemporaneidade, de ensinar teologia na Universidade Católica, ele que havia pontificado no ISET. Uma vez fechado o ISET, fui para a Universidade Católica, em setembro de 1975, depois de um verão a lavar pratos, num hotel da Suíça. Por regra, fazia isso todos os verões, nas férias, ou lavava pratos ou fazia refeições frias, em hotéis da Suíça. Uma vez chegado à Católica, organizei uma lista para a Associação Académica com os meus antigos colegas do ISET e ganhei as eleições. Em novembro de 1977, já licenciado e com 24 anos, fui para França. Aí a minha vida mudou completamente. Ganhei uma bolsa do Governo francês e virei-me para a Sociologia, vindo a doutorar-me nessa área, em 1984.
 
A Revolução de Abril acaba por condicionar o seu percurso de vida.
Penso que a Revolução, que alterou o curso do país, alterou o curso da vida de toda a gente. No dia 25 de Abril de 1974, eu tinha 21 anos e era um estudante de teologia no ISET. Não fora a Revolução, nesse dia teria ouvido uma palestra sobre presos políticos, de um advogado, para mim então desconhecido, de nome Francisco Salgado Zenha. Porque já não houve aulas, a palestra foi cancelada. Na rádio ecoava então o apelo revolucionário do Movimento das Forças Armadas para que a população de Lisboa se mantivesse em casa. Eu vivia na Estrada da Luz. Mas fui a pé para a Baixa, sentir a Revolução. A partir desse dia nunca mais ninguém viveu do mesmo jeito.
 
 
Da Teologia à Sociologia
 
Academicamente também seguiu esse caminho vivenciado…
Sim. A ideia inicial para a minha tese de doutoramento em Sociologia ocorreu-me, com naturalidade, nos círculos intelectuais do catolicismo progressista, que eu frequentava antes do 25 de abril, e teve o seu impulso decisivo nos meus anos de estudante, no ISET. Foi aí que ganhei apego aos valores da liberdade, da democracia e da intervenção cívica. Muito ideologizado pelo contexto revolucionário dos anos que se seguiram ao 25 de abril, razoavelmente conhecedor dos escritos de Marx e Engels, aprofundei em Estrasburgo, a partir de 1977, na Universidade de Ciências Humanas, o conhecimento da obra do autor do Manifesto Comunista. Frequentei, então, o Seminário que De La Hougue regia sobre O Capital. Mas foi Roland Sublon que provocou em mim a revolução, ao dar-me a conhecer Michel Foucault. E se é um facto que pude manter o interesse e o entusiasmo pelo pensamento de Marx, o que verdadeiramente me fascinou foi a paixão pelo autor de Les Mots et les Choses, que nessa época se impunha com uma obra decisiva para a investigação em Ciências Sociais e Humanas.
 
Quando volta a Portugal começa um difícil caminho de afirmação?
Cheguei a Portugal, em finais de 1984, com uma tese de doutoramento em Sociologia sobre o salazarismo, num tempo em que talvez não houvesse, em Portugal, mais do que uma dúzia de doutores em Sociologia. Mas não pude seguir uma carreira académica no imediato. Dou alguns exemplos das minhas dificuldades. A Comissão Organizadora do Colóquio O Estado Novo. Das Origens ao Fim da Autarcia. 1926-1959 não viu, então, nenhum interesse em que fosse apresentada sequer uma síntese da tese que eu havia defendido. E, mais tarde, quando em 1990 publiquei O Olho de Deus no Discurso Salazarista, a sua receção pública, na imprensa e em revistas especializadas, não me foi muito favorável. Mesmo em trabalhos marcantes sobre o Estado Novo, o livro ou foi ignorado, ou então foi mal recebido. Estigmatizaram-no, sobretudo, alguns historiadores e cientistas políticos. Em julho de 1990, António Costa Pinto, fez-lhe uma recensão no semanário Expresso. Duvidava, todavia, que ainda fosse possível “vislumbrar o rosto de Salazar”, depois da “operação foucaultiana” a que os seus textos haviam sido submetidos. E Luís Reis Torgal referiu, em 1992, que esta obra era um trabalho de grande esquematização sociológica, demasiado encadeado pelos modelos teóricos de Foucault. De facto, é verdade, o Olho de Deus no Discurso Salazarista constituiu um objeto estranho para a maior parte dos historiadores. Mas houve investigadores de outras áreas que receberam bem o livro. Foi o caso, por exemplo, do semiólogo José Augusto Mourão. E, sobretudo, aconteceu com Francisco Videira Pires, à época professor de Sociologia da Universidade da Beira Interior. Videira Pires era um académico conhecido pela sua vasta cultura humanística, teológica, filosófica, literária, e tinha vivido à sombra do Estado Novo salazarista. Regressara a Portugal, depois de se ter exilado no Brasil a seguir ao 25 de Abril. Na recensão que fez de O Olho de Deus no Discurso Salazarista percebe-se o dilaceramento interior de um homem que fez uma vida dentro da ordem salazarista e que se comprometera com ela. Mas pela mão do jovem académico, que eu era então, tentou ler com outros olhos o tempo que vivera.
 
Como é que a Comunicação surge no seu percurso, sendo um sociólogo?
É um facto, eu sou um sociólogo clássico. Estudei e ensinei teoria sociológica. Depois de uma curta passagem pela Universidade Católica, em Lisboa, como professor, estive na criação das Ciências Sociais na UBI. Dirigi aí o Departamento de Ciências Sociais, ainda em fase de constituição, pois tinha então um único curso - o curso de Sociologia. Para dar maior amplitude ao departamento de Ciências Sociais, criei o curso de Comunicação Social, quando apenas havia dois cursos desta área no país, ambos em Lisboa. Entretanto, transferi-me para a Universidade do Minho. Vim para a Sociologia e fui mesmo diretor do curso de Sociologia das Organizações, então no segundo ano da sua existência. Mas muito depressa me direcionei para as Ciências da Comunicação, dando uma mão ao Prof. Aníbal Alves, que então lançava o curso de Comunicação Social. E ao fazê-lo, firmei um compromisso para a vida, porque foi nas Ciências da Comunicação que fiz a minha carreira académica, lecionando e investigando Semiótica e Teoria e Análise do Discurso, nos primeiros anos, e depois, Sociologia da Cultura e da Comunicação.
 
Existe relação entre a Sociologia e a Comunicação?
Sim, é óbvia essa relação, pois são ambas Ciências Sociais. São uma atividade de pensamento crítico, uma atividade que se exerce sobre a sociedade, um olhar reflexivo sobre os modos como interagimos uns com os outros e como esta atividade concorre para a construção da comunidade humana. Em Portugal, a sociologia desenvolveu-se primeiro, aliás, logo a seguir ao 25 de abril. E é verdade que foi preciso esperar por 1979 para termos o primeiro curso de Comunicação. Mas os quatro primeiros cursos de Comunicação desenvolveram-se em Faculdades de Ciências Sociais e Humanas e foram sociólogos os seus criadores. Foi assim na Universidade Nova de Lisboa, na Universidade Técnica, hoje Universidade de Lisboa (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas), na Universidade da Beira Interior (Departamento de Ciências Sociais) e na Universidade do Minho (Instituto de Ciências Sociais). Apenas mais tarde se desenvolveram projetos de ensino e investigação de Ciências da Comunicação em Faculdades de Letras: na Universidade de Lisboa, na Universidade de Coimbra e na Universidade do Porto. E a razão fundamental para que tal acontecesse deveu-se sobretudo a razões instrumentais, à procura de soluções criativas nas Faculdades de Letras para uma acentuada crise de captação de alunos. 
 
Em que momento é que a Comunicação dá um passo para os estudos lusófonos e iberoamericanos?
A ideia de que tinha sentido os países lusófonos traçarem uma estratégia comum de afirmação das Ciências da Comunicação no contexto global, surgiu logo no início. Ao elegermos a língua portuguesa como língua de cultura e pensamento, e em consequência, ao reconhecê-la como língua de conhecimento, estávamos a atribuir valor estratégico à construção da comunidade de investigação lusófona. O pensamento que orientou estrategicamente as Ciências da Comunicação em Portugal de aproximar as políticas da comunicação das políticas da língua e de pensar a Comunicação no contexto das narrativas, memórias e identidades transnacionais, traduzia, sem dúvida, a valorização do espaço geocultural lusófono no contexto global. É que ao falarmos de lusofonia, estamos a falar de uma diversidade de culturas e de uma diversidade de povos que falam português, uma língua que por ser de cultura, pensamento e conhecimento, concorre para a construção da comunidade lusófona, assim contrariando a visão de um mundo monocolor, um mundo globalizado, hegemonicamente falado em inglês. Este pensamento estratégico ganhou força com o desenvolvimento do movimento associativo no campo da Comunicação. Em 1998, fundámos a Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom). E logo nesse ano, criámos, no Brasil, a Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom), uma estrutura associativa que além de portugueses e brasileiros, integra, sobretudo, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos e galegos. Bastante mais tarde, em 2009, criámos a Confederação Iberoamericana das Associações Científicas e Académicas de Comunicação (Confibercom). Penso que a importância da Confibercom está em realizar a tarefa de dar oportunidades ao conhecimento, que se exprime na diversidade das culturas faladas em português e em espanhol, assim concorrendo para a construção de uma comunidade científica, policentrada e polifacetada, uma comunidade com sentido humano, que é sempre uma comunidade com o sentido do debate e da cooperação, no respeito pela diversidade e pela diferença entre as culturas. Com o processo da globalização sócio-económica a assinalar o tempo, penso que é necessário estudar as identidades, nacionais, regionais e locais, assim como as identidades transnacionais – sobretudo as identidades europeia, lusófona e iberoamericana.
 
Para onde vai hoje o pensamento de Moisés de Lemos Martins?
Na era do capitalismo especulativo, em que tudo o que mexe, bens, corpos e almas se monetariza e converte em mercadoria, a minha principal interrogação centra-se nas consequências para a cultura do facto de vivermos numa civilização do número. É que a atual civilização tecnológica, por muito empolgante que seja, exprime a condição de quem deixou de viver de acordo com o regime da analogia, ou seja, em conformidade com um fundamento. E sem um fundamento seguro, deixamos de ter território conhecido e identidade estável. Como em todas as épocas, temos que encontrar modo de conciliar segurança e liberdade. Mas quanto maior for a segurança, menor é a liberdade. E por outro lado, também temos que saber articular ordem e história. Ordem, para responder à exigência de viver em comunidade. História, para responder à interrogação sobre as possibilidades da ação humana.
 
Que importância atribui ao facto de a Universidade do Minho o reconhecer e distinguir com este prémio?
O meu primeiro sentimento é de gratidão. Faz-me muito feliz saber que o meu trabalho científico é apreciado pela minha própria Universidade, a ponto de o distinguir. Mas vejo nesta distinção um segundo motivo de alegria. Com esta distinção, a Universidade do Minho faz-nos saber que as Ciências Sociais e Humanas, e muito particularmente as Ciências da Comunicação e os Estudos Culturais, são parte inteira no convívio das ciências, assim como parte inteira no desenvolvimento coletivo. Na era da globalização da economia, pela potência da tecnologia, enche-me de orgulho que a minha Universidade se reveja na ideia do desenvolvimento harmonioso, da solidariedade humana e da coesão social, como o faz ao distinguir as Ciências da Comunicação e os Estudos Culturais.
 


Moisés, o cidadão...
 
Também viaja por lazer, para além da profissão?
Penso que tenho viajado demasiado, por razões profissionais. Em termos familiares, tenho viajado muito pouco. E numa leitura retrospetiva, entristece-me um tanto que assim tenha sido.
 
Há espaço nas viagens de trabalho para ficar com marcas dessas terras?
Sim, por exemplo uma terra ignota, no México, chamada Cholula, perto de Puebla. Gostei de ver as pirâmides funerárias dos povos pré-colombianos, no caso, os astecas. Ficou-me também na memória a aridez de Cabo Verde, no caso de São Miguel, o que me levou a supor que apenas razões estratégicas poderão ter estado no povoamento daquelas terras. E tenho muito presente, ainda, uma viagem recente ao Oriente, onde pude conhecer uma Índia que me era desconhecida. Essa Índia também desconhece por completo o papel que Portugal aí desempenhou séculos atrás. Falo de Hyderabad, uma cidade, metade hindu, metade muçulmana, que me surpreendeu pelo facto de misturar, de um modo obsceno, o cosmopolitismo e a alta tecnologia com a extrema pobreza de franjas alargadas da população, gente de olhar vazio, que nada espera da vida.
 
Gosta de uma boa conversa à mesa?
Sim. Não tenho nada a cultura do social, mas quem me conhece sabe que gosto muito de privar e conversar em família e com os amigos chegados. À mesa, aprecio pratos tradicionais portugueses, acompanhados com vinho verde, de preferência da minha terra, a Lixa.
 
Como se informa mais, na imprensa, TV, ou internet? 
Apenas ao fim de semana é que leio imprensa escrita - vários semanários e revistas. No dia a dia, leio jornais online, nacionais ou internacionais. Até no desporto. Raramente vejo noticiários na TV. Prefiro ver séries policiais. Ou então epopeias, do género Game of Thrones, que acho uma narrativa estupenda sobre as tonalidades, trágica, fragmentária, labiríntica e enigmática da condição humana. Mas ouço os noticiários da Antena 1, enquanto conduzo, pela manhã, no caminho para a Universidade, e ao fim do dia, quando regresso a casa. Informo-me politicamente, sobre os assuntos da semana, através da comédia e da sátira política, em que consiste o Governo Sombra. E vejo ainda a Quadratura de Círculo, gravado, para ouvir apenas as intervenções do Pacheco Pereira.
 
E desporto, ainda pratica?
Deixei de jogar futebol, quando tive uma entorse complicada. E parei com o ténis há quatro anos, quando parti um braço. Agora, de vez em quando, faço caminhadas e hidroterapias. É verdade que sonho em fazer umas boas passeatas a pé, mas reconheço que a minha vida ultimamente é demasiado sedentária.
 
O que lhe agrada mais e o que agrada menos em Portugal?
Não me agrada nada que o meu país seja de brandos costumes. O que eu gostaria é que no meu país houvesse uma sociedade civil muito mais exigente, sobretudo com a classe política e com os media. Desconsola-me que, de uma maneira geral, os media tenham passado para a órbitra do poder e que a classe política tenha descolado do país, tal uma casta, um outro mundo, que perdeu o sentido da comunidade nacional. Mas não trocaria Portugal por país nenhum. Agrada-me viver num país acolhedor, num país livre e de primaveras prolongadas. E então, se a tudo isso juntarmos a convivialidade portuguesa, acho que todas as comparações com outros países deixam de fazer sentido para mim.