CVR aposta forte na internacionalização

29-04-2016 | Pedro Costa

Projetos e áreas de investigação do CVR

Detalhes de tecnologias desenvolvidas pelo Centro para a Valorização de Resíduos

O projeto científico Ecoprolive visa a valorização dos resíduos do azeite e tem apoio comunitário

Cândida Vilarinho

Jorge Araújo

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Ecoprolive destaca-se entre mais de uma dezena de projetos I&DT do Centro para a Valorização de Resíduos.




O CVR - Centro para a Valorização de Resíduos, no campus de Azurém, Guimarães, é uma instituição privada sem fins lucrativos fundada em 2002, que presta serviços de investigação, análise científica e aplicação de soluções reais na área da valorização de resíduos. A UMinho, a TecMinho, a Associação Industrial do Minho e a Associação Portuguesa de Fundição são os seus associados constituintes, no entanto há mais 33 associados fundadores e 43 aderentes.
 
Independentemente da área da atividade industrial, o CVR tem as competências necessárias para apoiar projetos e iniciativas relacionadas com uma ampla gama de resíduos industriais. “Toda a nossa atividade visa contribuir para a eficiente e eficaz gestão e valorização de resíduos, diminuindo ou anulando o seu impacte ambiental” afirma Cândida Vilarinho, professora da UMinho nomeada presidente do conselho de administração do CVR. Este Centro desenvolveu em 14 anos de existência mais de uma centena de projetos de investigação e desenvolvimento tecnológico (I&DT) nacionais e internacionais, o que é “um número significativo”. Na prática, os serviços analíticos e de investigação prestados dirigem-se a entidades coletivas, todavia a atuação do CVR “beneficia a sociedade de um modo geral, quer ao garantir que as empresas cumprem os requisitos legais ambientais, quer ao desenvolver metodologias e tecnologias inovadoras que reduzam a produção dos resíduos gerados nas sociedades contemporâneas”, assegura a responsável.
 
Nas suas instalações de cerca de 2000 metros quadrados, além de serviços de análises laboratoriais e de consultoria, há um Departamento de I&DT que promove e implementa projetos de tratamento e valorização de resíduos. Na sua dependência funcionam laboratórios de tratamentos biológicos, hidrometalúrgicos, de incorporação em cerâmicos e de incorporação em materiais cimentícios. As áreas de investigação são as de incorporação de resíduos como materiais na construção civil; recuperação de metais e sais metálicos; processos de tratamento biológico de resíduos; processos de valorização energética de resíduos; recuperação de materiais a partir de subprodutos animais; produção de biocombustíveis. Há 13 colaboradores permanentes, entre técnicos e investigadores, com formação ao nível da biologia, biotecnologia, tecnologia do ambiente, engenharia de materiais, química, biológica e mecânica. Adicionalmente, o CVR colabora com duas dezenas de investigadores de universidades e centros tecnológicos.
 
A “internacionalização é o objetivo estratégico prioritário a seguir” no futuro próximo, revela Cândida Vilarinho, que para isso pretende "alargar as áreas de I&DT, além de consolidar as existentes”. Isso permite aumentar a participação internacional e incrementar a imagem da instituição além-fronteiras. O Centro definiu como vetor estratégico "a busca e intensificação de parcerias junto de empresas de distintos setores, de gestores de resíduos e de entidades e organismos governamentais e, ainda, o estabelecimento de protocolos com distintas instituições nacionais e estrangeiras”. Cândida Vilarinho assinala também que a componente nacional de investigação pretende ser também incrementada, “saindo da sua região”, e contando ainda com o alargamento dos serviços ao nível do país. “Vamos abordar a sociedade civil com outras dinâmicas - nomeadamente formação -, abrindo as portas do CVR aos cidadãos e às entidades”, frisa.
 
 
Explorar azeitona com 0% de resíduos
 
Genericamente, os projetos do CVR têm incidido na "valorização de resíduos inorgânicos oriundos da fundição, da metalomecânica, da cerâmica, entre outros, com vista à sua incorporação na fileira da construção civil”. Além disso, e porque estão na ordem do dia as questões da energia, tem trabalhado também “resíduos com potencial calorífico”, refere Jorge Araújo, diretor executivo do CVR. Nos projetos internacionais destaca-se o EcoProlive, inserido no Horizonte 2020 e envolendo nove entidades de quatro dos principais países europeus produtores de azeite - Portugal, Espanha, Itália e Grécia. O CVR é o único agente português neste consórcio (VÍDEO), que quer desenvolver um processo inovador ecoamigável para a exploração plena da azeitona e obtenção de produtos de valor acrescentado, "integrando-os em produtos originais simultaneamente mais saudáveis e verdes”.

“O processo proposto é muito diferente das abordagens comuns adotadas pela indústria do azeite, assim como das alternativas de valorização de resíduos existentes”, refere Jorge Araújo. Ou seja, o EcoProlive preconiza a abordagem "zero resíduos”, em que todos os produtos resultantes possuem valor comercial. As tecnologias aplicadas incluem, por exemplo, “o uso de pulsos elétricos sobre o ‘bolo’ das azeitonas, permitindo uma extração melhor do azeite, com menor produção de águas residuais”. Por outro lado, o bagaço de azeitona, constituído por restos de polpa, de caroço e cascas, é alvo de extração com fluídos supercríticos, de onde são retirados os óleos essenciais, os quais serão utilizados em alimentos, como o pão biológico. 
 


Outros projetos nacionais e internacionais
 
AGROGAS – Trabalha a metanização como meio para a diversificação dos recursos energéticos nos setores da agricultura, produção animal e agroindústria.
BIOMASUD – Desenvolve mecanismos para a sustentabilidade e valorização do mercado da biomassa sólida no espaço do SUDOE (sudoeste europeu).
EcoSur - Eco-eficiência, Inovação e Sustentabilidade de Recursos.
OvoValor II - Desenvolvimento de um processo integrado para obtenção de compostos de elevado valor acrescentado através da valorização dos resíduos gerados pela indústria de processamento de ovos.
OiLCA - Melhoria da competitividade e redução da pegada de carbono do setor do azeite, mediante a otimização da gestão de resíduos e implementação de uma ecoetiqueta.
PVC4GAS - Valorização energética e material de resíduos com PVC.
Valmetais - Desenvolvimento de processos para recuperação de metais não ferrosos a partir de lamas galvânicas. 
VALUE - Intercâmbio e transferência tecnológica sobre a valorização de resíduos da indústria de vegetais processados no espaço SUDOE.
PROVALUE - Aproveitamento do conhecimento, gerado no projeto VALUE, por parte do tecido empresarial agroalimentar do SUDOE, mediante a difusão dos estudos realizados no projeto.
 
No que respeita às principais parcerias do CVR, refira-se em território nacional a Sociedade Ponto Verde, a Faculdade de Engenharia do Porto, o Instituto de Soldadura e Qualidade, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, o Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros, a plataforma Fibrenamics, o Smart Waste Portugal e a Plataforma para a Construção Sustentável - Centrohabitat. Entre os principais clientes destacam-se o IKEA, a Siderurgia Nacional, a Infraestruturas de Portugal (anterior REFER), a Europa&C Kraft Viana, a Braval, a Resinorte, a Cimpor, a Secil, a Casais, a Bosch Portugal, o Grupo Amorim, a Sonae Indústria, a RAR - Refinarias de Açúcar Reunidas, a Continental Mabor, a PSA Peugeot Citroen Portugal, a Toyota Caetano Portugal, a Lipor e o Município de Guimarães.