Calçado by UMinho

31-05-2016 | Pedro Costa

Imagem promocional da Xperimental Shoes, das gémeas Célia e Ana Silva

Zélia Maia com dois modelos do seu projeto Volutas

Uma manequim com modelos Volutas, num cenário requintado

A Wolf & Son tem uma coleção de sapatos, sapatilhas e botas para homens jovens e adultos; por exemplo, para pai e filho

Modelos da Dromedaris International, onde trabalha a designer Vera Arandas Neto

Uma proposta de Nelson Oliveira, em contexto à beira-mar

O pormenor dos materiais, acabamentos e estética num par assinado por Nelson Oliveira

Uma proposta de calçado biodegradável, pelo Centro para a Valorização de Resíduos da UMinho

Modelos Cascade e Highway da ICC Lavoro

Nuno Silva criou um acelerador de processamento de imagem digital, ideal para os designers na criação de calçado envolvendo materiais complexos

O assistente virtual Topic Shoe desenvolvido pelo Centro de Computação Gráfica, no campus de Azurém

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A ciência gerada contribui para o relançamento da indústria do calçado.




Outrora um importante suporte empresarial do país, nomeadamente no Norte do país, o setor do calçado está a viver uma fase de renovação, envolvendo conceitos como a inovação e o design. Portugal tem uma indústria de calçado considerada de alta qualidade, onde algumas marcas internacionais de referência produzem os seus modelos. Nos últimos anos, cresceu também o número de marcas e projetos próprios, com o contributo de centros de design e centros tecnológicos, elevando a qualidade dos sapatos portugueses. Se é verdade que esta indústria está concentrada a Norte, também é justo considerar-se que a nova vaga vanguardista tem na UMinho um importante contributo científico, como demonstra esta reportagem.
 

Xperimental Shoes

A Xperimental nasceu no Porto, em setembro de 2012, criada pelas gémeas Célia e Ana Silva, licenciadas em Design e Marketing de Moda pela UMinho e em Design de Produto pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo, respetivamente. A empresa resultou de uma fusão entre duas áreas complementares, a moda e a comunicação, para uma produção de calçado que combina qualidade com as mais recentes tendências de moda. Inicialmente, a Xperimental apresentou-se como irreverente e vanguardista, com o objetivo assumido de “chocar”. No entanto, com o tempo a marca torna-se mais urbana, coerente e global no seu trabalho, sem perder a sua identidade.

No ano passado, as gémeas Ana e Célia conseguiram cativar a parceria de dois investidores no “Shark Tank Portugal”, transmitido na SIC, obtendo um financiamento 80 mil euros, alienando 35% da sua empresa. Graças a isso, a Xperimental Shoes possui o seu próprio showroom, em Leça do Balio, Matosinhos, após a fase inicial de os produtos serem apenas comercializados em lojas multimarca e na loja online. A marca entretanto internacionalizou-se, vendendo para vários países europeus. Entre as principais distinções, está uma referência na Vogue inglesa em 2013, quando venceu a categoria de Novos Designers da feira internacional Who's Next, em Paris, para além de algumas participações regulares no Moda Lisboa e no Portugal Fashion. A Xperimental pretende continuar a inovar e experimentar no mercado, respeitando os princípios primordiais de conforto, estética e qualidade.
 

Volutas

Zélia Maia, autora do projeto "Volutas" e criadora da nova linha de calçado com tacão entalhado à mão, propõe “calçar as mulheres de todo o mundo, com alma portuguesa”. A designer criou uma coleção inovadora, através da qual se tornou finalista do IdeaLab 2015, da TecMinho. É mestre em Design e Marketing da UMinho, uma vez que "queria aprofundar os conhecimentos em marketing e em materiais, sobretudo os têxteis”. 

A Volutas é uma marca que se anuncia orgulhosamente como uma referência que representa o fado, "uma das mais intensas tradições portuguesas". É uma revolucionária linha de calçado, com tacão de madeira entalhada em espiral e gáspea fabricada em tecidos funcionais, que pretende assim representar as raízes lusas. Com produção artesanal, este tipo de sapato perpetua artes antigas, como a escultura de madeira e os bordados. “A inovação está no tacão, inspirado na guitarra portuguesa”, declara a criadora. Acrescenta ainda “trabalhei numa empresa de instrumentos musicais e a guitarra portuguesa foi das peças mais complexas que desenhei e a que mais me marcou”, numa entrevista que concedeu à TSF.

Os modelos de salto alto são adequados para passadeiras vermelhas e ocasiões especiais. Um par ronda os 800 euros, sendo dirigido ao mercado alto e médio-alto. A primeira coleção, de lançamento da marca, com o nome da autora Zélia Maia, tem seis modelos diferentes. A internacionalização é outro dos objetivos da criadora, que tem recebido reações positivas em feiras e eventos internacionais, sobretudo do mercado japonês, escandinavo e de alguns países do Médio Oriente que, "valorizam os produtos exclusivos e diferentes do habitual".
 

ICC Lavoro

Em colaboração com o Departamento de Engenharia Mecânica da UMinho, a empresa vimaranense ICC Lavoro desenvolveu uma biqueira de aço de terceira geração. Contando com apoios comunitários do COMPETE, foi concebida a biqueira Safety Slim Shoe (S3), que incorpora aço desenvolvido originalmente para a indústria automóvel e aeronáutica. O calçado de proteção e segurança enquadra-se na categoria CED - Calçado de Elevado Desempenho, que se caracteriza pelas características técnicas superiores ao calçado corrente. O nível e complexidade dos requisitos tem classes diferenciadas, nas quais o nível de proteção e segurança é o mais exigente, sujeito a um abrangente conjunto de diretivas e normas de desempenho.

Este tipo de calçado é usado para proteger contra lesões provocadas pela queda, choque e deslizamento de objetos pesados, contra cortes por objetos cortantes, no contacto com ambientes agressivos (como temperaturas elevadas, campos elétricos e produtos químicos) ou, ainda, perante ambientes adversos como pisos escorregadios. A área exige um alto nível de desenvolvimento tecnológico, com recurso a tecnologias e ciências de topo. 

A ICC Lavoro é líder em Portugal no calçado de segurança – um nicho que vale 2% das vendas do setor - e uma das maiores da Europa deste segmento. De Guimarães onde saem todas as semanas vários milhares de pares, sobretudo para o estrangeiro - exporta 90% da sua produção -, fornecendo setores como a eletrónica, a construção civil, a agricultura ou o setor automóvel, entres outros, que exigem características técnicas específicas. Entre os clientes estão a Coca Cola, a Mercedes, a IBM ou a Ryanair.
 

Outras referências

A bracarense Joana Mendes licenciou-se em Design e Marketing de Moda na UMinho e, em 2013, tornou-se designer da Wolf & Son. Esta marca fundada em Felgueiras, no contexto de forte tradição da indústria do calçado, produz uma arrojada coleção de sapatos, sapatilhas e botas para homens jovens e adultos. A designer Vera Arandas Neto também esteve no mesmo curso da academia minhota. Colabora com a suíça Dromedaris International, que tem uma importante sucursal em Portugal, o seu principal centro de desenvolvimento tecnológico e onde beneficia de uma rápida disponibilidade de materiais, fábricas com experiência e tempos de entrega curtos. 

Nelson Oliveira é um jovem designer português com formação em Design e Marketing de Moda pela UMinho. O currículo inclui ainda a especialização em Design e Modelação de Calçado, a participação num grupo de investigação de produtos inovadores na área têxtil da UMinho (FMRG) e alguns estágios em empresas de referência nacional e internacional. O designer foi eleito "Hot New Talent 2013" pela associação APICCAPS e pela Academia de Design de Calçado CFPIC, participando com o seu trabalho numa exposição fotográfica do Portugal Fashion. Com a sua coleção Primavera/Verão 2015 recebeu o prémio GAPI Jovem Talento, em Düsseldorf, Alemanha, atribuído por entidades de topo no setor.

No campus de Azurém, a UMinho continua a produzir ciência com serve para inovar esta indústria. Nos últimos anos, desenvolveu-se por exemplo tecnologias para produzir calçado biodegradável, ou de propriedades antifúngicas e antibacterianas, numa colaboração com o Centro para a Valorização de Resíduos (CVR), cuja preocupação, para além da boa resistência e aderência, é a incorporação de resíduos valorizados.

O Centro de Computação Gráfica concebeu também o assistente virtual Topic Shoe, que dá a conhecer o portfólio das empresas e interage com os utilizadores de forma a responder às suas solicitações. Foi essencialmente preparado para fornecer informações sobre modelos em catálogo, aconselhamento na parametrização das cores e comparação de modelos, bem como o registo de opiniões. No âmbito das aplicações informáticas, destaque ainda para Nuno Silva, que durante o mestrado de Engenharia Informática criou um acelerador de processamento de imagem digital, ideal para designers durante a criação de calçado, e que lhe valeu o Prémio José Luís Encarnação.