"Toda a ciência deve ser socialmente relevante"

18-11-2016 | Nuno Passos

Helena Sousa é professora catedrática do Departamento de Ciências da Comunicação do ICS-UMinho e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS)

A secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Maria Fernanda Rollo, marcou presença na cerimónia de comemoração dos 40 anos do ICS-UMinho, a 7 de novembro de 2016 (foto de Avelino Lima)

Helena Sousa a tomar posse para o segundo mandato, a 24 de abril de 2016, ladeada pelos vice-presidentes Emília Araújo, Teresa Ruão, José Meireles Batista e pelo reitor António M. Cunha

O Instituto de Ciências Sociais da UMinho tem polos nos campi de Gualtar, em Braga (na foto) e de Azurém, em Guimarães

Alunos, investigadores, professores e trabalhadores não docentes a assinalarem as quatro décadas do Instituto

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Entrevista à presidente do Instituto de Ciências Sociais, Helena Sousa, no âmbito do ciclo de conversas com responsáveis das 11 Escolas e Institutos da UMinho.




O ICS celebrou 40 anos a 8 de novembro. Quais são as principais marcas deste percurso?
É uma das escolas fundadoras da UMinho. Começou com um curso em Ciências Sociais e foi-se especializando. Hoje conta com 21 projetos de ensino (licenciatura, mestrado e doutoramento) e cinco centros de investigação classificados pela FCT com Excelente ou Muito Bom. É uma escola multidisciplinar, fortemente marcada por princípios humanistas, plural e democrata. O ICS tem uma longa tradição de articulação entre o ensino e a investigação e a sociedade civil. O compromisso com o desenvolvimento social, nas mais diversas vertentes, é uma marca muito forte. Estamos ao serviço… somos uma escola solidária, com vontade de contribuir generosamente para o bem comum.

Foi reconduzida este ano para um segundo mandato na presidência do ICS. Porque decidiu abraçar este desafio? 
Procurando fazer uma leitura do percurso feito pela equipa da presidência e do modo como o ICS, na sua globalidade, se projetava, entendi que fazia sentido recandidatar-me. Bem sei que o trabalho nunca se esgota e que a rotatividade nos cargos é desejável. Mas, conversando com a equipa, entendemos que havia dossiers importantes para a escola que queríamos ver resolvidos. E estávamos muito empenhadas na sua resolução. Felizmente, para além das vice-presidentes que me acompanhavam já no mandato anterior, as professoras Teresa Ruão e Emília Araújo, neste mandato contamos com o professor José Meireles. Havia causa e entusiasmo e, por isso, avançamos.

Quais são os principais objetivos e projetos que quer implementar?
Definimos um conjunto de prioridades nas quais temos vindo a trabalhar: a qualificação do ensino, o aprofundamento da internacionalização da investigação e da relação com a comunidade, a melhoria da organização interna do ICS, a afirmação externa das ciências sociais, as instalações... São várias frentes da maior importância. Estamos a trabalhar, mas ainda com grandes dificuldades, especialmente na área do rejuvenescimento dos recursos humanos e das instalações e infraestruturas.
 
A equipa docente e discente do ICS e a oferta formativa para os vários ciclos estão adaptadas às exigências da sociedade? Prevê-se novidades em termos de cursos?
A oferta formativa é um tema sempre em aberto porque exige vigilância e reflexão permanente. O ICS está atento à realidade e reavalia a sua oferta formativa de modo sistemático. Quanto a novos cursos conferentes de grau, este ano arrancou a licenciatura em Criminologia e Justiça Criminal, que conta com a colaboração da Escola de Direito, da Escola de Psicologia e do ICS, especialmente do Departamento em Sociologia. Está já aprovada pela A3ES [Agência para a Avaliação e Acreditação do Ensino Superior] e pela DGES [Direção-Geral de Ensino Superior] uma licenciatura em Proteção Civil e Gestão do Território, numa parceria entre o ICS e a Escola de Engenharia e que conta com a participação de mais cinco escolas da UMinho. Estamos agora a preparar um mestrado em Turismo, com a Universidade do Porto e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Há projetos capazes de responder às oportunidades de desenvolvimento e aos riscos sociais que a universidade deve enfrentar com determinação.

Os centros de investigação do ICS (CECS, CICS-UMinho, CEGOT-UMinho, Lab2PT, CRIA-UMinho) têm-se afirmado nesta área. A que se devem os resultados num contexto tão competitivo? Que projetos e parcerias destaca?
Cada Centro tem procurado o seu espaço, os seus pontos fortes e as suas articulações nacionais e internacionais. Hoje a ciência faz-se em rede e, por isso, se for feita uma análise cuidada, percebe-se que todos estes centros se cruzam dentro e fora da universidade e dentro e fora do quadro nacional. Toda a ciência social é contextual, é marcada pelo tempo e pelo espaço e deve ser socialmente relevante. Portanto, não podemos nem devemos ignorar as comunidades que nos estão mais próximas em termos geolinguísticos e culturais. Mas esse enfoque, que não pode nunca ser descurado, deve – acima de tudo – potenciar uma internacionalização progressivamente mais sólida e consistente.

Como é que o ICS pode auxiliar atuais e antigos alunos na progressão da carreira?
O apoio é dado a vários níveis. No quadro dos projetos de ensino, há estágios profissionais e pontes permanentes entre os atuais e os antigos alunos. É também prática envolver os alunos de todos os níveis de ensino e antigos estudantes em projetos de investigação. Mas, para além do esforço que é feito ao nível das subunidades orgânicas, há todo um trabalho que é realizado pelo Conselho Pedagógico que passa pela promoção do contacto entre entidades empregadoras, alunos atuais e antigos estudantes. Acolhemos também com frequência no ICS empresas que querem fazer ações de contacto e de head hunting dos nossos alunos. Hoje, as empresas mais exigentes percebem a importância das competências transversais e específicas dos alunos de ciências sociais. As novas profissões começam a desenhar-se a partir das competências colaborativas e da compreensão crítica das transformações sociais. Sem compreensão, não há adaptação à mudança.

De que forma este Instituto se pode afirmar no contexto de crescente internacionalização?
O ICS tem que se afirmar pela qualidade dos seus projetos de ensino e da sua investigação. Não há receitas únicas para a afirmação de uma escola. Cada projeto de ensino tem que encontrar os elementos diferenciadores e cada centro de investigação tem que fazer as suas apostas de curto, médio e longo prazo. No seu todo, o ICS potencia as capacidades de cada centro e departamento e projeta as ciências sociais nos espaços de informação e de debate nacionais e internacionais.
 
Como espera que seja o ICS em 2020, em termos da sua evolução e desenvolvimento?
Espero que, em 2020, tenhamos problemas novos e objetivos com mais ambição em termos de capacidade explicativa da realidade e em termos de impacto social. Espero que todos os impasses históricos do ICS estejam resolvidos (Centro Multimédia, novas instalações do Departamento de Geografia, espaços para o funcionamento adequado das subunidades orgânicas do ICS e espaço para associações de alunos...). Espero também que, nessa data, as licenciaturas em Criminologia e Justiça Criminal, em Proteção Civil e Gestão do Território e o mestrado em Turismo estejam em pleno funcionamento, tendo já feito a prova da sua atratividade e relevância. E espero, acima de tudo, que os docentes mais novos não sejam mais velhos do que o ICS. Há gerações que não têm tido qualquer oportunidade no ensino superior…
 
Quais são, para si, os principais desafios do ensino superior a nível nacional e internacional?
O principal desafio da universidade em Portugal e no mundo é o da compreensão do seu papel e do seu lugar. Se compreender, saberá agir. Ultimamente, temos assistido a uma deriva utilitária, cega e de curto prazo. A universidade, como grande instituição que é, não pode destruir a sua razão de ser: produzir conhecimento (fundamental e aplicado) e formar pessoas competentes na sua área e íntegras na relação com os outros. O desafio é perceber o que conta. É respeitar a memória dos que, antes de nós, contruíram uma universidade baseada em princípios humanistas e promover uma visão de futuro alicerçada na dignidade humana.
 


Nota biográfica
 
Helena Sousa licenciou-se na Escola Superior de Jornalismo do Porto e é mestre e doutorada em Política da Comunicação na City University em Londres. No ICS, é professora catedrática, membro da comissão diretiva do doutoramento em Ciências da Comunicação, membro da comissão científica do CECS e coordenadora do Grupo "Comunicação, Organizações e Dinâmicas Sociais". Foi vice-presidente do Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanas da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e é coordenadora da avaliação na área das Ciências da Comunicação na A3ES.

No plano internacional, é editora do European Journal of Communicationfull member do EuroMedia Research Group, especialista independente do Conselho da Europa para a área dos media e colaboradora do Observatório Europeu do Audiovisual. Helena Sousa foi chair e vice-chair da Secção de Economia Política da International Association for Media and Communication (IAMCR) entre 2004 e 2014 e é membro eleito do International Council desta associação. Já coordenou projetos de investigação nacionais e internacionais e orientou dezenas de teses de mestrado e doutoramento. Publicou cerca de 50 livros e capítulos de livros, dezenas de artigos científicos e proferiu comunicações nos cinco continentes.