Portugueses com mais de 50 anos que vivem sós tendem a fumar mais

24-01-2017 | Nuno Passos

Esta população tende a ter maiores níveis de saúde física em países como Áustria, Bélgica e Suíça (foto: Getty Images)

Muitos idosos portugueses beneficiam da presença dos cônjuges e de familiares (foto: iStock)

O estudo foi apresentado no Congresso Português de Demografia por Fátima Barbosa. A investigadora do CECS é licenciada em Educação, mestre em Sociologia da Saúde e doutorada em Sociologia - ramo Envelhecimento, sempre pela UMinho

Alice Delerue Matos, coordenadora nacional do SHARE e uma referência na sociologia do envelhecimento, é professora do Departamento de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da UMinho e investigadora do CECS

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Estudo europeu de Alice Matos, Fátima Barbosa, Cristina Barbosa e Katiusce Perufo, do CECS, apela para políticas que incentivem estilos de vida saudáveis naquelas populações.




O estudo, inserido no projeto “SHARE - Survey of Health, Aging, and Retirement in Europe”, apresentado no Congresso Português de Demografia, em Lisboa, revelou que que os portugueses com 50 e mais anos que vivem sós têm maior probabilidade de fumar, tal como se verificou em mais oito países europeus. O trabalho realizado no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da UMinho verificou ainda que Portugal apresenta a menor proporção (15%), entre os 16 países europeus analisados, de pessoas com mais de 50 anos a viverem sós. As investigadoras Alice Matos, Fátima Barbosa, Cristina Barbosa e Katiusce Perufo alertam para a importância dos decisores promoverem políticas que incentivem estilos de vida saudáveis naquelas populações.
 
É no Sul da Europa onde as pessoas com mais idade vivem menos sós. Portugal (15% de indivíduos de 50 e mais anos a viverem sós) é seguido pela Espanha (18%) e Itália (20%), mas a Polónia (17%) também se aproxima deste padrão. No outro extremo estão a Suécia (40%), Dinamarca, Alemanha, Holanda e Áustria (aproximadamente 30%). Estas diferenças têm causas económicas e culturais. Quando há perda de autonomia e os apoios institucionais são insuficientes ou têm um custo elevado, como acontece nos países do Sul da Europa, as famílias tendem a assegurar a totalidade ou parte dos cuidados aos mais velhos, partilhando muitas vezes a própria residência. Já nos países do Norte do continente, os rendimentos mais elevados e os serviços de apoio domiciliário existentes permitem que as gerações mantenham maior independência, explicam as autoras do estudo.
 
A pesquisa procurou associar a vida solitária depois dos 50 anos com vários indicadores de saúde, mas não foi encontrado um padrão linear. Por exemplo, esta população tende a ter maiores níveis de saúde física na Áustria, Bélgica e Suíça, a consumir menos álcool na Estónia, França, Holanda e Hungria, a ter menos sintomas depressivos na Dinamarca mas tende a fumar mais na Alemanha, Áustria, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal e Suíça. A manter-se a tendência de crescimento das famílias unipessoais compostas por alguém com 50 e mais anos, como projetado pelo Instituto Nacional de Estatística em 2012, é importante que sejam implementadas políticas de promoção da autonomia e independência dos indivíduos, dando especial atenção àqueles que residem sós em idades avançadas.