Precisamos de envolver os jovens nos processos de decisão

03-04-2017 | Pedro Costa

Pedro Soares (à direita) nos Prémios Boas Práticas Erasmus+, na Reitoria da UMinho, em setembro de 2016

No Encontro Ibérico de Rádios Universitárias (segundo a partir da esquerda), iniciativa apoiada pelo Erasmus+ e realizada no Instituto de Ciências Sociais da UMinho, em novembro de 2016

Com a associação ProAtlântico, aquando da Erasmus+ Tour, mostrando os muitos voluntários portugueses que alargaram competências e conheceram a Europa e o mundo, em fevereiro de 2017

Numa cerimónia comemorativa dos 20 anos do Serviço Voluntariado Europeu (SVE), que atualmente está sob a tutela do Juventude em Ação do Programa Erasmus+ (2014-2020)

A discursar no salão medieval da Reitoria da UMinho, nos Prémios Boas Práticas Erasmus+ 2016

O Programa Erasmus+ em 2015 envolveu 678.000 pessoas, 69.000 organizações, 19.600 projetos e 2.1 mil milhões de euros

Mais de nove milhões de pessoas já usufruíram do programa Erasmus ao longo de 30 anos, dos quais quase metade foram estudantes do ensino superior (4.4 milhões)

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Mais de 650 mil pessoas de 70 mil entidades da Europa realizaram 20 mil projetos num ano pelo Erasmus+, diz o diretor da Agência Nacional Erasmus+ Juventude em Ação, Pedro Couto Soares.




Pedro Couto Soares é natural de Vila Verde, distrito de Braga, tendo-se licenciado em Biologia Aplicada na UMinho. Desde muito jovem demonstrou especial interesse pelas questões do associativismo, da juventude e da Europa, revelando um percurso importante nestas áreas, daí não ter sido surpresa a nomeação para diretor da Agência Nacional Erasmus+ Juventude em Ação, cargo que desempenha desde 2014. Na academia foi presidente de direção da Associação Académica da UMinho e representante dos estudantes em diversos órgãos, como o Conselho Geral e o Senado Académico da UMinho. Foi ainda representante do ensino universitário no conselho consultivo da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Assessorou ainda a direção do Conselho Nacional de Juventude e foi assessor parlamentar no Parlamento Europeu.
 
 
O Programa Erasmus foi lançado há 30 anos. Quais foram os resultados mais impactantes nestas três décadas de intercâmbio?
O Programa Erasmus é dos mais antigos programas de mobilidade de jovens na Europa. Imaginarmos a possibilidade de, em 1987, ir para outro país estudar e viver, conhecer outras realidades sociais, culturais, associativas, estudantis é bem diferente de o imaginarmos nos nossos dias. Mas tanto há 30 anos como agora é uma daquelas situações que muda a vida de quem teve essa oportunidade. Para além da dimensão pessoal, o programa contribui para a construção de uma Europa cada vez mais das pessoas e não dos países. Está provado que é possível construir laços e pontes entre os jovens de diferentes nacionalidades, onde as fronteiras ficam diluídas. Tudo isto porque há 60 anos os chefes de Estado assinaram o Tratado de Roma e possibilitaram, entre outras coisas, a livre circulação destes jovens na Europa. Conhecemos por isso hoje uma Europa sem fronteiras, multilinguística, multicultural, onde é mais fácil trabalhar e estudar no estrangeiro.
 
O que é que muda com o Erasmus+?
O Erasmus+, tal como os que o antecederam, procura também ser um programa onde não fica ninguém para trás, com um financiamento adicional para as pessoas que têm de enfrentar mais obstáculos, quer se trate de problemas mentais, físicos ou financeiros. Só em 2014 e 2015 mais de 35.000 estudantes de meios economicamente desfavorecidos participaram em intercâmbios no ensino superior e outras 12.0000 pessoas integraram projetos de mobilidade dos jovens. Com o Erasmus+ ficaram mais presentes nos jovens os valores da solidariedade, da tolerância e do respeito pelo próximo. Portugal não é exceção e, talvez também por isso, seja o país que proporcionalmente tenha mais jovens a manifestar a sua vontade em participar no Corpo Europeu de Solidariedade. É também o sinal de confiança no projeto europeu, para o qual todos contribuímos. Ao celebrar 30 anos de Erasmus, celebramos todo o caminho que se fez até ao Erasmus+. Já não são só os jovens estudantes que fazem mobilidade, são também jovens voluntários ao abrigo do Serviço Voluntário Europeu, são também professores, animadores de juventude e as próprias instituições de Ensino Superior que cooperam de forma estratégica em diversas redes europeias no desenvolvimento, inovação e conhecimento.
 
No caso de Portugal, foram mais os inputs ou os outputs deste percurso?
O Erasmus+ é um programa que cria pontes, liga pessoas e organizações, convidando-as a viver e partilhar o melhor de si. Em Portugal aconteceu o mesmo ao longo dos anos. Por isso, como nas pontes, o fluxo faz-se em dois sentidos. Portugal ficou muito mais rico, quer por ter a oportunidade de possibilitar a muitos milhares de jovens portugueses experiências internacionais, quer por permitir que milhares de organizações portuguesas acolhessem jovens estrangeiros em Portugal. Capacitou os jovens e as organizações com este exercício de partilha de talentos e, certamente, a sociedade ficou a ganhar com já mais do que uma geração de europeus a nascer e crescer dentro deste espírito. Para termos uma ideia, foram mais de 650 mil pessoas de quase 70 mil organizações um pouco por toda a Europa que, realizando perto de 20 mil projetos, deram vida ao Erasmus+. São números avassaladores e que dizem bem do interesse e da vitalidade deste Programa.
 
Pode dizer-se que o Erasmus foi catalisado pelos efeitos da globalização?
Obviamente que a facilidade/liberdade de circulação, a abertura dos mercados, a moeda única, o espaço Schengen e tudo o que Tratado de Roma tornou possível criou melhores condições para o sucesso do Erasmus+. Por outro lado, a própria mobilidade e os testemunhos de todos os que a realizam é também fundamental para que as mudanças aconteçam ao nível local. Por isso, diria que tudo isso influenciou o sucesso dos vários programas.
 


Dar voz aos jovens

Do seu ponto de vista, quais são as necessidades de adaptação mais atuais do programa?
Ao longo destes 30 anos, e segundo a Comissão Europeia, cerca de nove milhões de pessoas foram beneficiários do Erasmus+ ou dos programas que o antecederam. Todos eles tinham regras que foram evoluindo com o tempo, com as necessidades, com a evolução dos próprios organismos. Foi necessária maturidade e também experiência na gestão destas oportunidades, quer nas suas dimensões nacionais, quer na dimensão europeia. Este é um momento em que, por toda a Europa, se realiza a avaliação intermédia do Erasmus+. Acredito que o mais importante é dar voz aos jovens que dele beneficiam e perguntar-lhes o que acham que está bem, o que sentem que ainda falta e qual acham que pode ser o caminho a seguir.

Acredita na capacidade de intervenção dos jovens?
Acredito profundamente. Aliás, eu sou fruto dessa possibilidade de intervenção e da vontade de agarrar as oportunidades que me foram surgindo. E hoje, mais do que nunca, precisamos envolver com profundidade os nossos jovens nos processos de auscultação e decisão dos temas que lhes são próximos e que têm impacto na sua vida. Tenho a certeza do valor deste programa, da sua importância para a construção do projeto europeu e do papel decisivo que realiza ao permitir que todos os jovens, em qualquer dimensão da sua vida, encontrem no Erasmus+ um programa que lhes permite ter todas as oportunidades para poderem experimentar, crescer e viver a nossa Europa.