Património da UNESCO depende do turismo sustentável

29-04-2017 | Nuno Passos

Pormenor da capa do ebook, coordenado por Cristina Moreira (UMinho), Cláudia Henriques (Universidade do Algarve) e Pedro César (Universidade de Caxias do Sul), editado pelo CICS.Nova.UMinho e com apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Cristina Moreira (segunda, à direita) na apresentação da II Conferência Internacional "Turismo & História", que originou o livro

Intervenção na conferência de José Lopes Cordeiro, investigador da UMinho que tem - com Maria Cristina Moreira - um capítulo no livro, tal como Cadima Ribeiro, Paula Remoaldo e Laurentina Vareiro, abordando os centros históricos do Porto e Guimarães

Praça Tiradentes, parte do legado histórico e cultural da cidade mineira de Ouro Preto, no Brasil, também referida no livro (foto: Shutterstock)

A zona de Couros, que inclui o campus homónimo da UMinho, está na Lista Indicativa da UNESCO, podendo vir a alargar a área do centro histórico de Guimarães classificada como Património Mundial

O cante alentejano, Património Imaterial desde 2014, é alvo de dois capítulos na publicação, como veículo de atração turística

O impacto turístico da cozinha mexicana tradicional é explicado por dois investigadores da Universidade Autónoma do México

O último capítulo é dedicado à capacidade de atração turística de bibliotecas e arquivos históricos

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Livro “Tourism & History: World Heritage Case Studies of Ibero-American Space” coorganizado pela professora Maria Cristina Moreira e prefaciado pela embaixadora da Comissão Nacional da UNESCO.




A chave para valorizar e manter a identidade do património referenciado pela UNESCO é o turismo sustentável, envolvendo desde residentes, instituições, políticos, agências e visitantes, afirma Maria Cristina Moreira, do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.Nova.UMinho). A investigadora reconhece que a cultura e o turismo conflituaram durante décadas, mas hoje estão próximos e podem contribuir mutuamente para proteger e promover o património.
 
O passo decisivo é “dar a conhecer” à sociedade e aos agentes a importância da preservação. Maria Cristina Moreira contribui para tal com o novo ebook Tourism & History: World Heritage Case Studies of Ibero-American Space, em coautoria, que traz em 585 páginas 27 casos da zona ibero-americana com selo UNESCO, provenientes das suas listas de Património Mundial, Imaterial e Memória do Mundo, Tentative List, Reservas da Biosfera e Cidades Criativas. O prefácio é da própria embaixadora da Comissão Nacional da UNESCO em Portugal, Ana Martinho, um sinal claro do interesse pela valorização sustentável em vez da turistificação dos espaços e fenómenos culturais. A edição é do CICS.Nova.UMinho, em parceria com o Centro de Investigação sobre Espaço e Organizações, na sequência da II Conferência Internacional “Turismo & História”, realizado nas universidades do Algarve e Caxias do Sul (Brasil). A obra tem acesso livre, é bilingue (português e inglês) e surge em pleno Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento.
 
“No passado, o uso turístico retirou identidade em alguns centros históricos mundiais, mas hoje há uma consciência para conservar o património ligado ao turismo, segundo um conjunto de elementos específicos do lugar, em que o habitante tem especial importância nessa dinâmica”, contextualiza Maria Cristina Moreira, que é igualmente professora da Escola de Economia e Gestão da UMinho. O ebook foca a identidade comum do espaço ibero-americano em termos históricos, culturais e socioeconómicos, aprofundando-a nas linhas territorial e patrimonial com testemunhos de meia centena de investigadores de vários países.
 
De Portugal são abordados os centros históricos do Porto e Guimarães, o Alto Douro Vinhateiro, o mosteiro de Alcobaça, a fortaleza de Sagres, o jardim botânico de Coimbra, o Bom Jesus de Braga, a dieta algarvia e mediterrânica, o fado de Lisboa e o cante alentejano. O país tem 15 locais Património Mundial (mais 22 propostos) e outros 25 de influência lusa em quatro continentes, em especial no Brasil, como os centros históricos de Diamantina, Salvador da Bahia, Ouro Preto, Olinda e São Luís do Maranhão ou as missões jesuítas guaranis, todos eles referidos no ebook. Mas também se pode ler, a título de exemplo, sobre as milongas de Buenos Aires, a cozinha tradicional mexicana ou a cidade de Trinidad, em Cuba.
 
A embaixadora Ana Martinho destaca que o “Programa UNESCO Património Mundial e Turismo Sustentável” identifica o turismo como uma força positiva que contribui para preservar os sítios classificados e mitigar eventuais ameaças, incidindo no diálogo e na cooperação para a gestão do turismo e dos bens naturais e construídos. Maria Cristina Moreira anui que a relação entre o turismo e a história tem vindo a fortalecer-se: “Potencia o património tangível e intangível no encontro com o ‘outro’ e sua cultura” e constitui-se como memorável na experiência turística, propiciando conhecimento, desfrute e diálogo intercultural”. A investigadora, doutorada em Ciências Económicas e Empresariais - ramo Economia Aplicada pela Universidade de Navarra (Espanha), defende que este projeto científico transnacional possa ter continuidade.