A 1ª Semana Académica foi há 35 anos

31-05-2017 | Nuno Passos

O primeiro dia do programa incluiu uma sessão solene, um debate e as serenatas (jornal "O Comércio de Janeiro", 03-05-1982)

O humorista Herman José trouxe o seu personagem e cantor Tony Silva aos palcos do Theatro Circo, em maio de 1982

A necessidade de projetar novas instalações para a UMinho foi vincada pelo reitor Lúcio Craveiro da Silva na sessão de abertura da I Semana Académica (jornal "Diário do Minho", 04-05-1982)

O deputado centrista Armando de Oliveira foi ao Parlamento apelar para mais atenção do Governo à UMinho, que em seis anos passou de 228 para mais de 1500 alunos, e elogiou a I Semana Académica (jornal "O Primeiro de Janeiro", 15-05-1982)

O melodrama musical "Capas Negras", com Amália Rodrigues e Artur Agostinho no elenco, foi um dos filmes exibidos

Cartaz da peça "Longe da Cidade", com texto de Wenzel, encenação de Correia Alves e música de João Lóio, que a companhia de teatro Seiva Trupe levou ao antigo Cinema São Geraldo

O cortejo alegórico juntou 19 carros alegóricos e foi considerado um êxito (jornal "O Comércio do Porto", 19-05-1982)

O festival da canção foi promovido na Faculdade de Filosofia pelos seus estudantes, que nos três anos anteriores tinham organizado as festas universitárias da cidade (jornal "Diário do Minho", 05-05-1982)

Cacilda Moura foi a presidente da AAUM que lançou a I Semana Académica. Hoje é professora e investigadora do Departamento/Centro de Física da Escola de Ciências da UMinho (foto: SRI)

O Presidente da República, Ramalho Eanes, com o reitor Lúcio Craveiro da Silva (ao centro), nos III Colóquios de Relações Internacionais da UMinho, a 26 de maio de 1982, dias após a I Semana Académica (foto do jornal "O Primeiro de Janeiro")

A AAUM também criou a Semana de Receção ao Caloiro em 1981/82. A sua segunda edição foi de 8 a 11 de novembro de 1982 (fonte: Biblioteca Publica de Braga)

Cem anos antes, houve um brinde às damas bracarenses no Porto, evocando o 1º de Dezembro de 1640, no qual os alunos de Braga terão sido os primeiros a saudar o Rei e ainda celebram aquela data (imagem do livro "Tradições Académicas de Braga")

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Humor de Herman José, teatro da Seiva Trupe, ciclo de cinema, festival da canção, cortejo, exposição, debates, jogo de futebol e bailes integraram o ambicioso programa.




A primeira Semana Académica da Universidade do Minho decorreu de 3 a 19 de maio de 1982, em Braga. O ambicioso programa de nove dias úteis foi promovido pela Associação Académica (AAUM), em conjunto com a congénere da Faculdade de Filosofia da Católica de Braga, e gerou bastante sucesso. O seu impacto chegou à Assembleia da República, pelo deputado Armando de Oliveira: "Esta iniciativa mostrou a importância que a Universidade do Minho tem para todo o povo do distrito". O evento, orçado em “mil contos”, visou "contribuir para um maior companheirismo e intercâmbio cultural e humano entre as universidades e a comunidade”, segundo os jornais da época.

O primeiro dia da Semana Académica incluiu uma sessão solene na Reitoria, na presença dos autarcas de Braga e Guimarães e de deputados parlamentares, entre outros. "Somos uma universidade com uma mentalidade nova. A tradição não é um voltar-se para o passado, mas um olhar em frente de um projeto de futuro”, disse a presidente da AAUM, Cacilda Moura, hoje professora de Física na UMinho. Já o reitor Lúcio Craveiro da Silva aludiu que estas festas vieram “alegrar um ano de estudo e investigação com um ar de juventude”. Depois, focou a necessidade de se criar instalações definitivas na UMinho, pois as provisórias estavam “a rebentar pelas costuras” e, também, para se poder abrir mais cursos. À sessão seguiu-se o debate “O engenheiro pós-formado na indústria privada”, com o vice-reitor João de Deus Pinheiro, bem como Renato Morgado, da Efacec, e Sérgio Miguel, da Mabor (ambos são hoje professores catedráticos da UMinho). À noite houve serenatas no largo da Sé, por um grupo de “cantares e guitarradas” de Coimbra.

Nos dias seguintes, o Theatro Circo acolheu o espetáculo de humor de Herman José, com o seu personagem Tony Silva, o Cinema São Geraldo foi palco do Festival da Canção com os 15 intérpretes apurados e o auditório da Gulbenkian recebeu a peça de teatro “Longe da cidade”, do grupo Seiva Trupe, além dos filmes “Capas Negras” e “O Caçador”. O cardápio incluiu também uma exposição de filatelia e uma palestra sobre socorrismo, no salão medieval da Reitoria. O último dia foi dedicado a um jogo de futebol amigável no campo da Ponte, entre uma seleção de estudantes da UMinho e outra da Faculdade de Filosofia da Católica de Braga, que depois rumariam para o vizinho pavilhão municipal de exposições, para o ambiente romântico do baile de encerramento, repetindo o baile do dia 11.
 

Cortejo com duas dezenas de carros alegóricos

A tarde desse dia 11, terça-feira, seria o “momento alto” da Semana Académica, com o cortejo. Na verdade, o mau tempo obrigou a mudá-lo para dia 17. O desfile, igualmente em dia de chuva, juntou 13 carros alegóricos representando os cursos da UMinho, a par dos quatro da Faculdade de Filosofia e os representativos da Câmara Municipal, Associação Industrial do Minho e Associação Comercial de Braga. Cada qual continha dísticos alusivos e aparato sobre a realidade social e política. O trajeto de três horas teve início e fim no parque municipal de exposições, passando por artérias como a Avenida da Liberdade, Rua 25 de Abril, Avenida 31 de Janeiro e Largo São João do Souto. Na Avenida Central ficou a tribuna das entidades oficiais, tendo sido convidados o próprio primeiro-ministro, Francisco Pinto Balsemão, o ministro da Educação e das Universidades, Vítor Crespo, e o diretor do Gabinete de Apoio às Atividades Culturais Desportivas Universitárias, Trovão do Rosário, segundo o jornal "O Primeiro de Janeiro".
 
A Semana Académica soube ainda afirmar-se na agenda mediática, apesar de ser simultânea à Queima das Fitas de Coimbra (14 a 20 de maio), à 23ª Conferência dos Reitores da Europa (incluiu a visita dos participantes à UMinho, em Braga e Guimarães), ao centenário do nascimento de Alberto Feio (a quem se deve a instalação definitiva da Biblioteca da Pública de Braga) e antecipando a vinda do Presidente da República, Ramalho Eanes, aos III Colóquios de Relações Internacionais da UMinho.
 
Só em 1989 as festas académicas da UMinho passariam a designar-se Enterro da Gata, no mandato de Luís Novais na AAUM, recuperando o evento criado cem anos antes pelos alunos do Liceu de Braga e que teve várias interrupções no século XX. A UMinho passou a ser ainda a primeira universidade do país com um traje diferente do de Coimbra, inspirado nos azulejos oitocentistas na escadaria da Reitoria e num manuscrito do arcebispo sobre os alunos dos antigos Estudos Gerais. Em 1990 juntou-se para as festas uma barraca de circo alugada pela AAUM, que todas as noites era aberta e com um cartaz diferente. As provas automóveis, o arraial no “Santoinho” e a garraiada em Viana do Castelo já fizeram parte da tradição, que agora é assinalada com a terça-feira académica, o velório e testamento da gata, as serenatas, a imposição de insígnias, a missa de finalistas, o cortejo e os concertos em sete noites consecutivas junto ao estádio municipal.