“Faço muitas coisas no meu dia-a-dia e gosto dessa diversidade”

31-05-2017 | Paula Mesquita

Começou a trabalhar na UMinho, no Laboratório de Metalurgia, há 27 anos. A sua primeira tarefa foi a mudança do Laboratório do Palácio de Vila Flor para o recém-criado campus de Azurém, em Guimarães (na foto, em 1993)

Gosta de fotografia desde 1999, quando comprou de uma máquina fotográfica, no âmbito da licenciatura em Geografia e Planeamento, que concluiu em 2006

Por opção, e para explorar um pouco mais a área da fotografia, começou a retratar eventos informais do Departamento de Engenharia Mecânica da UMinho

Leonor Lapa (em baixo, no meio) entre colegas, no Laboratório de Metalurgia, em 1995

É também regente das hortas do campus de Gualtar, em Braga, projeto para o qual entrou em 2011

Leonor Lapa (em baixo, no meio) num almoço-convívio com colegas do Departamento de Engenharia Mecânica e do Centro para a Valorização de Resíduos, em 2015

Na entrada do Laboratório de Metalurgia da Escola de Engenharia da UMinho, que tão bem conhece

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Leonor Lapa Carneiro

Nasceu em Barcelos há 50 anos. Aos 3 anos foi viver para Lisboa e, depois, alternou entre a capital e o Porto, até 1986, quando casou e fixou-se em Braga. Veio para o Laboratório de Metalurgia da UMinho em 1990 e nunca mais o largou. Esta Casa trouxe-lhe conhecimento, desafios, vontade de estudar e até outras formas de dedicação, como as hortas dos campi.



Quando veio para a Universidade do Minho?
Em 1990, através de um programa de Ocupação de Tempos Livres (OTL) do Instituto da Juventude. Fui para a zona de escavações arqueológicas ao pé do Museu D. Diogo de Sousa, mas não gostei. Só lá estive um dia! Mudei-me para o Laboratório de Metalurgia, do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), que estava no Palácio de Vila Flor, em Guimarães.
 
Que tarefas lhe estavam destinadas?
Colaborei na mudança das instalações do Laboratório para o campus de Azurém, onde ainda trabalho. [sorriso] Fui muito bem recebida por professores e funcionários. Alguns continuam a ser meus colegas de trabalho! Ainda no Palácio de Vila Flor, comecei a intervir em experiências laboratoriais na área da Metalurgia Química: dissolução de metais em diferentes meios, recuperação eletrolítica, entre outras. Este viria a ser o primeiro tema desenvolvido na vertente de investigação no Laboratório de Metalurgia.
 
Como foi o seu percurso desde então pela UMinho?
No início do ano letivo de 1990/91, quando o programa de OTL estava a acabar, fui convidada para ficar como tarefeira naquele Laboratório e, em 1997, fiquei também a colaborar no Laboratório de Análises Químicas, da TecMinho. No ano seguinte, fui abrangida pelo Decreto-Lei 81/A e entrei, como técnica auxiliar de laboratório, nos quadros da UMinho. Desde então, fui progredindo na carreira. No passado mês de abril, ingressei na carreira de técnico superior, através do programa de mobilidade, que requeri em outubro. Cheguei a colaborar com o Laboratório de Análises Químicas do Centro para a Valorização de Resíduos [CVR], que foi criado nas instalações onde trabalho.
 
Quais são as suas funções atualmente?
Exerço funções técnicas ligadas aos projetos de investigação e aos doutoramentos; dou apoio às aulas lecionadas no laboratório, colaboro com o referido Laboratório da TecMinho, na prestação de serviços laboratoriais à industria e executo todas as tarefas de manutenção do laboratório, nomeadamente a aquisição de materiais e equipamentos. No âmbito das técnicas analíticas, tenho vindo a desenvolver competências em espectrofotometria de absorção atómica e espectrometria de fluorescência de raios-X.
 
Também aplica no seu trabalho os conhecimentos que tem na área da fotografia.
É verdade! O interesse pela fotografia veio em 1999, quando comprei uma máquina fotográfica, no âmbito curricular da licenciatura em Geografia e Planeamento, e desde então não a larguei. Por opção, e para explorar um pouco mais essa área, comecei a fotografar eventos informais do DEM.  Passei a utilizar também a fotografia para registar e acompanhar os ensaios e as amostras com que trabalho, seja para relatórios internos, seja para relatórios de análises para o exterior, para identificação e acompanhamento dos trabalhos a decorrer. Em 2015, a direção do DEM nomeou-me para coordenar a imagem da unidade, nomeadamente na gestão dos portais eletrónicos e da página do Facebook. Como tenho algum gosto e interesse pela fotografia, utilizo o meu material para fazer o registo dos eventos mais relevantes no DEM, na Escola de Engenharia ou noutros locais da UMinho, sempre com o intuito de divulgar e promover a nossa Universidade. Por exemplo, recentemente fotografei a 7ª edição da Start Point, para disponibilizar nos portais que giro.
 
Durante o seu percurso profissional decidiu voltar aos estudos.
Em 1996 decidi concluir o 12º ano e propus-me a exame, que me permitiria também candidatar-me ao ensino superior. Como não tinha as provas de ingresso exigidas para a licenciatura em Química, ingressei em Geografia e Planeamento, na espectativa de mudar, no final do 1º ano. Mas já não o consegui fazer porque me apaixonei pela diversidade, abrangência e sentido prático do curso. As áreas de estudo da licenciatura (o ambiente, a climatologia, a geomorfologia, os ecossistemas, as sociedades e o pensamento, e muitas outras) fascinaram-me. Fui privilegiando a área do Ambiente, pois estava diretamente ligada ao trabalho e à investigação em que colaboro no meu serviço. Licenciei-me em 2006!
 
Viu o campus de Azurém nascer e receber as primeiras pessoas. Passados 27 anos, como vê esse crescimento?
Como quase tudo, esse crescimento tem aspetos positivos e negativos. Na altura, nem sequer havia computadores. Só mais tarde é que se instalou um Macintosh para utilização por todo o Departamento. O trabalho era praticamente manual. Tínhamos perceção clara do funcionamento dos equipamentos e dos métodos de trabalho, mas era tudo muito moroso. Passava-se mais tempo nas bibliotecas, consultávamos as Páginas Amarelas e esperava-se dias por fotocópias! [sorriso] As turmas das aulas práticas tinham menos de uma dúzia de alunos e os docentes e funcionários eram um grupo muito menor. Todos nos conhecíamos. Hoje, há colegas que trabalham na mesma Escola e não se conhecem. Eu conheço os alunos quando frequentam as aulas práticas. Quero com isto dizer que o crescimento traduziu-se num afastamento entre as pessoas, mas ganhou-se imenso em meios, na tecnologia, na diversidade, permitindo que a UMinho seja hoje uma instituição de referência e ocupe uma posição de topo no ensino e na investigação.
 
Qual foi o momento que mais a marcou ao longo do seu percurso profissional?
Houve vários, pois todos contribuíram para que eu pudesse fazer o meu percurso profissional, mas salientaria dois: o ingresso no quadro de pessoal da UMinho, pois não estava à espera que acontecesse, tendo em conta os moldes em que se deu, e, recentemente, a consolidação do processo de mobilidade e a mudança de carreira, também completamente inesperada.
 
O que é que gosta mais de fazer no seu trabalho?
Executar análises e fotografar! [sorriso] Mas faço muitas coisas no meu dia-a-dia e gosto dessa diversidade de tarefas. Fico satisfeita quando um projeto, uma tarefa ou uma ideia, em que estejam envolvidos os meus colegas, companheiros e amigos de trabalho, chegam a bom porto e têm resultados de sucesso.
 
Também é regente das hortas do campus de Gualtar. Como se proporcionou?
Entrei no projeto UMinho in-transition logo em 2011. O eng. Luís Botelho dinamizou este movimento internacional na nossa universidade e interessei-me de imediato, numa visão de sustentabilidade da economia, da sociedade, do consumo de melhores alimentos. O começo foi difícil: não tínhamos fornecimento de água e o nosso conhecimento de agricultura era quase inexistente. A terra era muito fraca, tivemos que introduzir matéria orgânica e só ao fim de três anos é que ficou cultivável. Não desisti! Mesmo com muitas dores nas costas, acabei por me apaixonar pela terra. Estas dificuldades causaram sucessivas desistências por parte das pessoas envolvidas e a comunidade de cultivadores pediu-me para tomar a rédea; foi assim que me tornei regente. Tento zelar para que o regulamento seja cumprido, para que as hortas tenham um aspeto visual agradável e faço a divulgação do projeto. Temos uma página que é mantida pelos colegas cultivadores japoneses. Esta iniciativa permitiu-me adquirir uma perceção da realidade que não conhecia. Por exemplo, a importância das diferentes estações do ano e a sua influência no cultivo dos espaços, as condições meteorológicas, as horas de sol e a biodiversidade ao longo do ano.
 
 

  Mais sobre Leonor Lapa
 
  Um livro. A Montanha Mágica, de Thomas Mann.
  Um filme. A vida de Brian, dos Monty Phyton.
  Uma música. La Folia, de Jordi Savall.
  Uma figura. Agostinho da Silva.
  Um passatempo. O óbvio: fotografia!
  Uma viagem. Selva amazónica.
  Um prato. Papas de sarrabulho.
  Um momento. Ser mãe.
  Um vício. Tabaco.
  Um defeito. Modéstia.
  Um sonho. Dedicar-me a 100% à fotografia!
  Um lema. "Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti".
  A UMinho. A melhor universidade!