Lloyd Braga tinha “uma energia fantástica”
Esteve ligado às reuniões iniciais da fundação da UMinho. O que recorda desses tempos?
Participei em algumas reuniões, mas as minhas relações eram sobretudo com o ministro Veiga Simão. Marcou-me a grande dedicação que os fundadores manifestaram em querer arrancar com uma instituição complexa, num tempo de escassez de meios, e definindo uma vocação muito ligada ao desenvolvimento da região, revelando muita inteligência e determinação. Todavia, veio logo a seguir o 25 de Abril de 1974 e a UMinho – tal como as universidades de Aveiro, Évora e Nova de Lisboa – acabou por beneficiar da colaboração de muitos académicos recém-formados nas melhores universidades da Europa e dos EUA, que voltaram a Portugal cheios de energia, após terem integrado (e ajudado a fundar) as universidades de Luanda (Angola) e Lourenço Marques (Moçambique). Nunca será demais enaltecer o seu papel pioneiro.
Que opinião tem sobre o primeiro reitor da UMinho, Carlos Lloyd Braga, a quem sucedeu em 1978 como ministro da Educação e Investigação Científica, estreando-se num Governo?
Tinha uma energia fantástica. Conheci-o no arranque da UMinho, quando eu coordenava o gabinete técnico da Comissão de Planeamento da Região do Norte. Falávamos sobretudo do perfil de cursos mais ajustado para esta academia. Não havia dúvidas em relação às engenharias, mas ele queria aproveitar todas as oportunidades que se ofereciam para alargar os horizontes, como é o caso das Relações Internacionais.
Foi o primeiro curso do género do país, liderado pelo professor Lúcio Craveiro da Silva...
...que foi reitor e também conheci. Era um curso voltado para as empresas e o comércio externo, porque entendia-se que as exportações teriam que ser fomentadas com competência profissional. Recordo-me também da área de Arqueologia, à qual o professor Lloyd Braga dava uma atenção particular, baseado nas escavações e descobertas do património romano de Bracara Augusta. Mais tarde, em 1978, visitei o seu gabinete em Lisboa, na véspera de eu tomar posse como ministro. Foi uma troca de impressões muito franca, fiquei grato pela sua abertura, pôs-me ao corrente dos principais problemas e prioridades. Reencontrei-o anos depois, era ele reitor da Universidade do Algarve e eu ministro do Planeamento com responsabilidades na Ciência. Nas visitas que fiz, marcou-me a forma determinada como ia dotando a sua nova “casa”, como o laboratório de investigação sobre temas de aquacultura situado na ria Formosa. O professor Lloyd Braga era um realizador nato, com uma inteligência invulgar, uma determinação inquebrantável e uma energia que não se esquece. Procurava imediatamente a forma de alcançar os seus propósitos – e isso foi determinante para a UMinho no seu arranque.
Certamente também se cruzou na sua vida profissional com outros reitores da UMinho.
Sim, sim. Por exemplo, João de Deus Pinheiro é um velho amigo e Sérgio Machado dos Santos foi até meu aluno – e muito bom aluno! [sorriso] De facto, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas que estiveram nos destinos da UMinho.
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