“A UMinho tornou-se indispensável para o sucesso da região”

30-06-2017 | Nuno Passos

Luís Valente de Oliveira (foto: Miguel Nogueira/CM Porto)

Luís Valente de Oliveira (ao centro) com professores, trabalhadores não docentes e estudantes que formam a equipa do Conselho Geral da UMinho (foto: Nuno Gonçalves)

A intervir na tomada de posse, a 5 de junho de 2017, no salão nobre da Reitoria da UMinho (foto: Nuno Gonçalves)

A intervir na tomada de posse, a 5 de junho de 2017, no salão nobre da Reitoria da UMinho (foto: Nuno Gonçalves)

Luís Valente de Oliveira (foto: Miguel Nogueira/CM Porto)

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Entrevista ao novo presidente do Conselho Geral, Luís Valente de Oliveira.




Luís Francisco Valente de Oliveira nasceu em 1937 em São João da Madeira. É doutorado e professor catedrático em Engenharia Civil pela Universidade do Porto, sendo ainda diplomado em Planeamento e Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Estudos Sociais de Haia (Holanda) e em Planeamento de Transportes pelo Imperial College de Londres (Reino Unido), além de doutor honoris causa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. É, desde 5 de junho, presidente do Conselho Geral da UMinho, substituindo Álvaro Laborinho Lúcio no cargo.
 
Pelo PSD, foi ministro da Educação e Investigação Científica (1978-79), do Planeamento e da Administração do Território (1985-95) e Obras Públicas, Transportes e Habitação (2002-03). O seu currículo inclui também funções de coordenação em instituições como a Autoestradas do Mar, o Conselho das Ordens de Mérito Civil, o gabinete técnico da Comissão de Planeamento Regional do Norte, a Comissão de Coordenação da Região Norte, o conselho de fundadores da Casa da Música, a Associação Empresarial de Portugal e o Conselho Geral da Escola de Gestão do Porto, além de cargos na administração da Parque Expo, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Fundação de Serralves, Fundação AEP e Mota-Engil. Foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, da Ordem da Instrução Pública, da Ordem Militar de Cristo, da Ordem da Sra. da Conceição de Vila Viçosa, da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul do Brasil, da Ordem de Honra da Grécia, além de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra de França. 



Porque decidiu aceitar o desafio de presidir o Conselho Geral da UMinho?
Fui convidado e aceitei. Achei que não deveria furtar-me a levar para este novo cargo a experiência adquirida nas muitas funções que ocupei em 56 anos de serviço público.
 
Que opinião tem desta academia, nascida há 43 anos?
A UMinho teve que lutar para se afirmar, conseguindo colocar-se numa posição excecional, em particular no campo da engenharia e nas ligações com o tecido produtivo. Muito se espera da dinâmica já adquirida e das redes nacionais e internacionais em que a UMinho está inserida.
 
O que pretende valorizar nestes quatro anos de mandato?
O que mais importa, como referi na tomada de posse, é a valorização das pessoas e do conhecimento, adquirido pela via do estudo e, especialmente, pelo que resulta da investigação científica desenvolvida pela instituição.
 
Defende que o tempo reclama inovação. A sociedade atual e os diversos níveis de exigência permitem tempo para isso?
O tempo atual decorre em ambiente de inovação permanente. Quem não a praticar ficará inexoravelmente para trás. Tudo se passará em clima de grande exigência aqui e em todo o mundo. Quem não o entender, não compreendeu ainda como é renhida a corrida em que todos, por esse mundo fora, estão envolvidos.
 
Os desafios dos estudantes são mais difíceis do que os que encontrou há 60 anos?
São naturalmente mais difíceis, porque a concorrência é muito maior. Mas, por outro lado, tudo é mais ágil, no sentido em que os meios a que têm acesso são incomparavelmente melhores. Basta ver a facilidade no acesso à informação e a inserção em redes internacionais para marcar a diferença, nomeadamente em relação ao que havia no meu tempo de estudante. Neste âmbito, quero destacar com muita ênfase a rede Erasmus e o que ela permitiu em 30 anos, nomeadamente no alargamento de horizontes e nos contactos que ficam para toda a vida. Esse programa é seguramente um dos maiores sucessos da União Europeia.
 
De que forma a UMinho se poderá afirmar no contexto regional, nacional e internacional?
Atribuo muita importância à afirmação da Universidade nas múltiplas redes a que tem acesso e onde pode fazer valer as suas capacidades científicas e tecnológicas. Hoje, o mundo “alargou-se” muito e a UMinho tem a sorte de se localizar numa zona dominada pela indústria e por uma malha de pequenas e médias empresas muito inovadoras. A modernização experimentada nos últimos 20 anos pelos setores do calçado e do têxtil são exemplares. A reconversão de algumas grandes unidades muito dependentes da inovação tecnológica permite antever uma associação frutuosa entre a universidade e as empresas e instituições.
 
Como espera que seja a relação do Conselho Geral com o futuro Reitor? E com o Conselho de Curadores?
Tudo indica que as relações irão ser boas, porque as pessoas colocarão os interesses da Universidade acima de tudo, procurando que esta desempenhe o seu papel na relação com os estudantes, a região, o país e o mundo.
 
Quer deixar alguma mensagem à academia?
A UMinho conseguiu destacar-se em menos de 50 anos porque soube definir uma vocação clara, estabelecendo ligações internacionais de cooperação com muitos centros de saber e com empresas de vanguarda. Os seus diplomados estão a corresponder às grandes expectativas que sobre eles havia. Basta falar com empresários e responsáveis de instituições da área envolvente para nos apercebermos das relações de confiança mútua estabelecida entre aqueles e a Universidade, que se tornou-se indispensável para o seu sucesso. Faço naturalmente votos para que a UMinho continue a valorizar os jovens, na sua preparação para se tornarem parte ativa no desenvolvimento do país e do mundo, e a valorizar os novos conhecimentos (que se vão descobrindo), numa atividade que há muito atravessou fronteiras e que se foi afirmando sempre entre os seus pares.
 
 

Lloyd Braga tinha “uma energia fantástica”
 
Esteve ligado às reuniões iniciais da fundação da UMinho. O que recorda desses tempos?
Participei em algumas reuniões, mas as minhas relações eram sobretudo com o ministro Veiga Simão. Marcou-me a grande dedicação que os fundadores manifestaram em querer arrancar com uma instituição complexa, num tempo de escassez de meios, e definindo uma vocação muito ligada ao desenvolvimento da região, revelando muita inteligência e determinação. Todavia, veio logo a seguir o 25 de Abril de 1974 e a UMinho – tal como as universidades de Aveiro, Évora e Nova de Lisboa – acabou por beneficiar da colaboração de muitos académicos recém-formados nas melhores universidades da Europa e dos EUA, que voltaram a Portugal cheios de energia, após terem integrado (e ajudado a fundar) as universidades de Luanda (Angola) e Lourenço Marques (Moçambique). Nunca será demais enaltecer o seu papel pioneiro.
 
Que opinião tem sobre o primeiro reitor da UMinho, Carlos Lloyd Braga, a quem sucedeu em 1978 como ministro da Educação e Investigação Científica, estreando-se num Governo?
Tinha uma energia fantástica. Conheci-o no arranque da UMinho, quando eu coordenava o gabinete técnico da Comissão de Planeamento da Região do Norte. Falávamos sobretudo do perfil de cursos mais ajustado para esta academia. Não havia dúvidas em relação às engenharias, mas ele queria aproveitar todas as oportunidades que se ofereciam para alargar os horizontes, como é o caso das Relações Internacionais.
 
Foi o primeiro curso do género do país, liderado pelo professor Lúcio Craveiro da Silva...
...que foi reitor e também conheci. Era um curso voltado para as empresas e o comércio externo, porque entendia-se que as exportações teriam que ser fomentadas com competência profissional. Recordo-me também da área de Arqueologia, à qual o professor Lloyd Braga dava uma atenção particular, baseado nas escavações e descobertas do património romano de Bracara Augusta. Mais tarde, em 1978, visitei o seu gabinete em Lisboa, na véspera de eu tomar posse como ministro. Foi uma troca de impressões muito franca, fiquei grato pela sua abertura, pôs-me ao corrente dos principais problemas e prioridades. Reencontrei-o anos depois, era ele reitor da Universidade do Algarve e eu ministro do Planeamento com responsabilidades na Ciência. Nas visitas que fiz, marcou-me a forma determinada como ia dotando a sua nova “casa”, como o laboratório de investigação sobre temas de aquacultura situado na ria Formosa. O professor Lloyd Braga era um realizador nato, com uma inteligência invulgar, uma determinação inquebrantável e uma energia que não se esquece. Procurava imediatamente a forma de alcançar os seus propósitos – e isso foi determinante para a UMinho no seu arranque.
 
Certamente também se cruzou na sua vida profissional com outros reitores da UMinho.
Sim, sim. Por exemplo, João de Deus Pinheiro é um velho amigo e Sérgio Machado dos Santos foi até meu aluno – e muito bom aluno! [sorriso] De facto, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas que estiveram nos destinos da UMinho.