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A UMinho é a "Segunda Dama" de Sérgio Machado dos Santos
17-02-2014 | Pedro Costa
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Entrevista ao reitor que esteve mais tempo à frente dos destinos da academia.
Nasceu no Rio de Janeiro, no Brasil, mas veio aos 2 anos para Bornes, localidade transmontana próxima de Pedras Salgadas. Sérgio Machado dos Santos fez aí a quarta classe e o ensino secundário no Liceu Fernão de Magalhães, em Chaves. Mudou-se para o Porto, para o seu curso de Engenharia Eletrotécnica, que terminou com 18 valores. Fez o mestrado e doutoramento no University of Manchester Institute of Science and Technology e agregação em Ciências de Computação na UMinho. Ainda aluno de liceu deu explicações de matemática. Na universidade, após os primeiros anos recebeu um convite para ser assistente extraordinário do Departamento de Física.
Quando acabou o curso no Porto, trabalhou um ano na Efacec, num projeto de investigação aplicada, e seguiu mais tarde para dar aulas na Universidade de Lourenço Marques, em Moçambique. É autor de uma imensas publicações científicas, bem como de dois livros publicados por uma editora inglesa e diversos livros em português sobre políticas de ensino superior. Tem integrado comissões, conselhos e organismos de tutela ao mais alto nível em Portugal e no estrangeiro. Foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã Cruz da Ordem de Instrução Pública (1995) e a Grã Cruz da Ordem do Infante (2002). É doutor honoris causa pela UNIVALI, no Brasil, e pela Universidade de Macau.
O seu papel na UMinho é marcante, pois desempenhou diversos cargos, desde a participação na comissão instaladora em 1978 até à liderança da Reitoria de 1985 a 1998. Presidiu também ao Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) desde 1991 até 1998, tendo sido o primeiro eleito deste conselho, e à Confederação dos Conselhos de Reitores da União Europeia de 1999 a 2001. Aos 69, anos é membro executivo da administração da A3ES - Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior.
Como foi a sua chegada à liderança dos destinos da academia?
Foi algo que esteve presente no meu percurso desde muito cedo. Entrei na UMinho em inícios de 1975, o meu número mecanográfico é o 12. Em 1976, o professor Carlos Lloyd Braga convidou-me a presidir ao Conselho Científico, que era na altura um órgão inovador, cargo que ocupei até 1982. Em 1978 passei a integrar a comissão instaladora. Entretanto, o professor Lloyd Braga foi para o Algarve e o professor Lúcio Craveiro da Silva foi eleito (o primeiro reitor eleito em Portugal), convidando-me para vice-reitor. Mantive-me no cargo com o professor João de Deus Pinheiro e, sendo o vice mais antigo da sua equipa, foi naturalmente que assumi a sua substituição. Pode dizer-se que estive sempre próximo dos processos de liderança e decisão na UMinho, logo o meu percurso acaba por ser muito natural.
Pode dizer-se que tem um conjunto de mandatos que foram atípicos?
Eu assumi a liderança da reitoria a 17 de fevereiro de 1985, em plena cerimónia do Dia da Universidade. João de Deus Pinheiro tinha tomado posse como reitor três meses antes, mas foi convidado para o Governo e eu fui convidado pelo próprio, enquanto ministro da Educação, para o substituir. Assumi o cargo por nomeação até 1987, altura em que a UMinho foi autorizada a proceder a nova eleição, onde acabei por ser eleito para um mandato de três anos. A Lei da Autonomia, de 1988, passou a prever a eleição através da Assembleia da Universidade, para mandatos de quatro anos, sendo então reeleito mais duas vezes. Acabei, portanto, por fazer três mandatos por eleição – um pré-autonomia e dois pós-autonomia -, para além do primeiro mandato por nomeação, num total de 13 anos e 5 meses na função.
Os seus mandatos foram também marcados pelo crescimento, nomeadamente infraestrutural...
Exatamente, diria que foi um crescimento acelerado. Ao nível de alunos tivemos anos de 30% de crescimento, o que nos levava a ter que reprogramar constantemente as instalações para os anos seguintes. A UMinho esteve 11 anos em instalações provisórias, pelo que na altura o grande dossiê era o das instalações definitivas e havia mesmo um gabinete para este fim - houve pessoas que fizeram um trabalho extraordinário de planeamento, como Barreiros Martins, Carlos Bernardo, José Vieira, e outros que vieram a seguir. Quando chegaram os dinheiros comunitários, como o PRODEP, a Universidade estava bem preparada com esses dossiês e teve a possibilidade de conseguir excelentes índices de concretização de investimento. Sem dúvida, dois grandes momentos do desenvolvimento foram o lançamento da primeira pedra do campus de Azurém, em 1985, acontecendo o mesmo no ano seguinte em Gualtar…
Foram os grandes marcos dos seus mandatos?
Em termos de visibilidade para o exterior talvez, mas em termos de essência o “dossiê dos dossiês” foi o desenvolvimento bipolar da Universidade do Minho. A bipolarização foi determinada pelo Conselho de Ministros, sem que a UMinho fosse ouvida, ainda no reitorado do professor Lloyd Braga, e de uma forma impraticável porque em Guimarães não havia cursos de raiz. A presença em Guimarães surgiu em 1976/77 e dez anos depois tinha um número reduzido de alunos, que viajavam em grande parte de autocarro entre Braga e Guimarães, alguns professores também, regressando ao fim do dia, o que tornava a vida do polo absolutamente artificial. Esse foi o dossiê mais difícil, quando propus ao Senado que Guimarães, para existir como verdadeiro polo universitário, tinha que ter cursos de raiz.
Qual foi a reação?
A bipolarização era mal aceite dentro da UMinho e gerava paixões no exterior, com os Municípios a defenderem as suas terras. Foi necessário um trabalho bastante difícil de persuasão junto aos municípios de Braga e Guimarães para demonstrar que uma política de funcionamento de cursos de raiz implementada de forma faseada em ambos os polos poderia trazer benefícios para a Universidade e para as duas cidades. Foi nessa fase que, por exemplo, se perspetivou a futura criação do curso de Arquitetura em Guimarães, criando sinergias com a Engenharia Civil e a Geografia e Planeamento, num todo coerente, perspetivando, por outro lado, a criação do curso de Medicina em Braga, pela ligação forte a setores da Escola de Ciências, em especial à Biologia. Foi um duro e longo processo que acabou por dar à UMinho a possibilidade de se consolidar com uma grande capacidade de intervenção local e regional, garantindo a sobrevivência dos dois polos.
A bipolarização acabou por ser estratégica para a UMinho.
Não era essa a posição da comissão instaladora, foi uma decisão política do Governo. A comissão instaladora defendia o conceito de campus único, localizado nas Taipas, entre Braga e Guimarães onde agora se desenvolve um polo de desenvolvimento tecnológico. Braga não concordava com a solução das Taipas, Guimarães não abria mão de ter a universidade no concelho. Foi nesse clima de divergência política que a decisão foi tomada. Inicialmente, numa instituição que ainda não tinha massa crítica, essa situação criou bastantes dificuldades de desenvolvimento, Guimarães esteve anos sem ultrapassar as duas centenas de alunos, não adquiria dimensão. As coisas mudaram graças à referida política aprovada pelo Senado e que foi possível concretizar. Apesar de a bipolarização não ter estado no planeamento inicial, sendo imposta pelo Governo, com a legitimidade política que lhe assistia, sempre defendi que nos competia implementar essa deliberação da forma que melhor se adequasse às realidades locais e penso que, com dificuldade e após anos algo conturbados, conseguimos fazê-lo com sucesso…
Desta forma, a UMinho acaba por marcar as dinâmicas de uma região e não só de uma cidade…
Sim, mas mais do que isso marca o próprio país. A UMinho lançou áreas pioneiras. Por exemplo, o primeiro curso de Informática de raiz em Portugal, a Engenharia Têxtil, a Metalomecânica ligeira, as Relações Internacionais, a Engenharia de Produção são áreas fundamentais que não existiam no país. De resto, a UMinho definiu bem o planeamento da sua oferta educativa, não quis repetir o que existia e entrar em concorrência direta com as demais instituições, mas definiu o seu perfil muito próprio em áreas de futuro, que estavam a desenvolver-se na Europa e no mundo, começando por ter logo aqui o ponto de partida para as suas âncoras de internacionalização.
"Quando acabei quatro mandatos é que percebi a loucura em que tinha estado metido"
Com o seu percurso pode dizer-se que pertence àquele restrito grupo de pessoas que conhece bem o código genético desta universidade?
Sim. Aliás, ao olhar retrospetivamente os 40 anos da Universidade do Minho, é incontornável a referência à forma como ela nasceu. A UMinho apareceu no âmbito da "reforma Veiga Simão" e como uma universidade genuinamente nova. Veio introduzir aspetos de grande inovação no ensino superior em Portugal, um deles foi haver uma visão estratégica claramente assumida por todos, definida pelo grande estratega que foi o professor Carlos Lloyd Braga, num conceito de universidade que tinha como pilar fundamental a investigação. Para o posicionamento da UMinho na questão da classificação das universidades que hoje em dia se discute foi fundamental assumir essa centralidade da investigação. Depois, o professor Barbosa Romero, com o seu modelo inovador da organização institucional e novas abordagens ao ensino da Engenharia, o professor Lúcio Craveiro da Silva, responsável pelo desenvolvimento das humanidades e relações internacionais, para além da sua ligação à vertente cultural, o professor Pinto Machado, com o seu projeto muito específico no ensino da Medicina e como pessoa com uma grande visão humanista... Todos foram planeadores natos, extraordinários, que definiram um rumo para a universidade num período tão difícil, aquele que se vivia no país em 1974 e 1975. Eu tive a felicidade de estar perto e viver esses momentos e evoluir pessoalmente através dessa vivência.
Em 1998 acabou o seu percurso reitoral. E depois?
Quando acabei o quarto mandato, ao fim de mais de 13 anos, é que percebi a loucura em que tinha estado metido. Eu não tinha vida familiar. Numa homenagem que então me fizeram tive oportunidade de reconhecer que a Universidade tinha sido a minha “Segunda Dama”, porque passava muito mais tempo ao serviço da UMinho do que em casa. Entretanto, era óbvio que já não podia voltar ao meu domínio científico, pois tudo tinha mudado na área da Informática, mas por outro lado tinha uma experiência em gestão universitária e políticas de ensino superior, com um bom relacionamento ao nível europeu, que poderia ser útil, até porque continuei integrado na Confederação dos Conselhos de Reitores da União Europeia, onde era na altura Vice-presidente e vim a presidir no ano seguinte. Isso permitiu-me continuar a aprofundar a interação internacional que se tinha intensificado quando presidi ao CRUP. Na UMinho estive ligado à Fundação Carlos Lloyd Braga, a que presidi nos anos iniciais por convite do reitor, na qual tive oportunidade de desenvolver um número significativo de estudos sobre o ensino superior que ainda hoje se encontram disponíveis na página da Fundação…
E entretanto surge a Escola de Ciências da Saúde…
Sim, em 1999, ao fim de 25 anos de insistência, a UMinho viu aprovado o seu projeto do curso de Medicina. Tenho bem presente a conversa que tive com o professor Chainho Pereira, que atravessou o Largo do Paço indo à Fundação Carlos Lloyd de Braga convidar-me para presidir à comissão instaladora. A minha primeira reação foi rir-me, dizendo-lhe que deveria estava louco, com a minha formação em Engenharia como poderia eu dirigir uma escola tão específica. No entanto, após conversarmos percebi que, para além da dimensão científica do projeto, cuja coordenação estava à partida garantida por pessoas de alta craveira como os professores Pinto Machado e Cecília Leão, havia um contrato-programa com um volume vultuoso de financiamento para negociar com o Governo, que seria o primeiro no país, e uma dimensão de planeamento muito forte, onde a minha experiência poderia ser útil. Acabei por aceitar o desafio, que perdurou até à saída dos primeiros graduados do curso em 2007. Paralelamente, tive o privilégio de poder acompanhar por dentro o desenvolvimento inicial do Processo de Bolonha, tendo participado na preparação das reuniões ministeriais de Bolonha e de Praga, integrando o
Bologna Follow-up Group
em representação da Confederação dos Conselhos de Reitores. Por essa razão fui solicitado para fazer inúmeras conferências sobre o tema e as suas implicações para o sistema nacional de ensino superior. Estive também ligado ao anterior sistema da avaliação do ensino superior, tendo integrado o CNAVES, por designação ministerial, durante todo o período de vigência desse órgão, e continuo agora a trabalhar em
full time
na área da garantia da qualidade na A3ES.
Portanto, aposentado mas não retirado…
Exatamente, estou aposentado mas ainda não tive oportunidade de me aperceber disso. Aposentei-me em 2003, num impulso motivado por alterações súbitas que começavam a ser introduzidas no regime de aposentação, sem ponderar bem as possíveis implicações. Mas felizmente continuei a ser solicitado e mantive-me ativo até hoje, agrada-me particularmente estar em constante contacto com as instituições e os estudantes.
40 anos depois a UMinho é, ainda assim, a sua universidade?
Sem dúvida, continuo a considerar que a UMinho é a menina dos meus olhos, de que me orgulho. Apraz-me, em particular, registar que a aposta inicialmente feita na formação de recursos humanos, designadamente a política seguida durante muitos anos de ter em equiparação a bolseiro, para preparação de doutoramento, um terço do pessoal docente de carreira não doutorado, num esforço tremendo de sobrecarga para todos. E também a aposta no apoio à investigação, a UMinho defendeu sempre o princípio do direito e dever de os docentes fazerem investigação, o que deu os seus frutos, colocando esta academia inquestionavelmente no rol das
Research Universities
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HISTÓRICO
AGENDA
CLIPPING
Opinião
Sobre o aniversário da Universidade, novos projetos e a cor do futuro…
Teresa Ruão
A história da Universidade do Minho continuará a ser escrita por todos nós.
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UM de nós
“Parece que estou a fazer puzzles todos os dias”
Carlos Torres
Nasceu "no dia das mentiras de 1969”, em França, mas sente-se “português até ao tutano”. Vive em Moreira de Cónegos e trabalha no Departamento de Eletrónica Industrial da Escola de Engenharia desde 1994. É hoje um dos técnicos distinguidos com a medalha de 30 anos em funções públicas, no 51º aniversário da UMinho.
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Formação e emprego
Educador/a de Infância
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