Ex-aluno ajuda as eólicas do mundo a voar

19-02-2018 | Daniel Silva

Fotografia: Farol de Ideias

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Manuel Pedro Quintas durante os tempos vividos na UMinho

Manuel Pedro Quintas

Entre os finalistas de Engenharia de Produção

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Manuel Pedro Quintas

Nasceu há 53 anos na Póvoa de Varzim. Licenciou-se em 1987 em Engenharia de Produção - ramo Metalomecânica. É administrador da Tegopi, a empresa metalomecânica pioneira na construção de torres eólicas em Portugal e que se assume como líder nacional do setor.


Recorda-se do seu primeiro dia na Universidade do Minho?
Recordo bem o primeiro dia na Universidade. Éramos recebidos no Largo do Paço, onde nos entregavam o cartão de aluno (o meu com o nº 2173), a que se seguia uma pequena conversa com a Ana Maria e o dr. Armando Osório, dos Serviços de Ação Social. No dia seguinte eram as aulas, na rua D. Pedro V e, claro, o programa da receção aos novos alunos. Terá sido a primeira Receção ao Caloiro oficial.
 
Que principais recordações guarda desses tempos?
Muitas, e boas! Embora sendo um aluno regular, sempre estive muito ligado ao lado boémio da academia. Fui dos primeiros alunos a usar capa e batina, isto muito antes do Luís Novais introduzir o traje atual, quando presidiu a Associação Académica. Quando entrei para a Universidade não havia discotecas em Braga. Nesse ano apareceu o Chateaux, que era no próprio edifício da D. Pedro V, mais tarde o Mordillo e muito depois o Clube 84. Recordo com saudade os tempos em que fazíamos serenatas, depois de uma noite bem passada no Martinho da Sangria, no Largo de Santa Cruz, e quando surpreendíamos os caloiros com um cálice de moscatel na Casa das Bananas, bem em frente do Largo do Paço. A sede da Associação Académica, na rua D. Afonso Henriques, bem por baixo da pequeníssima residência de estudantes, era também ponto de encontro habitual. Depois o famoso Espelunca, no prédio da Universidade, e que funcionava de ponto de encontro durante o dia.
 
Durante esse período teve alguma passagem associativa, desportiva e/ou cultural na UMinho?
Formalmente apenas organizei um Baile de Gala, o meu último, no Hotel do Parque, no Bom Jesus, mas participei ativamente na organização de eventos - primeiro nas Semanas Académicas e, depois, nas Queimas das Fitas e na Receção ao Caloiro.
 

Inovação da UMinho encaminhou-o para Braga
 
Licenciou-se em Engenharia de Produção, no ramo da metalomecânica. O que motivou a escolha deste curso?
Seguir Engenharia foi sempre um sonho, provavelmente influenciado, desde pequeno, pelo meu pai. Tinha uma boa média de acesso e a Universidade do Porto seria a que estava mais perto de casa, pois sou da Póvoa de Varzim. Na realidade, o que me atraiu foi a novidade do curso. A Universidade do Minho soube inovar ao apresentar um curso de Engenharia de Produção. Hoje existem várias universidades com oferta de cursos de Engenharia Industrial, mas na altura a UMinho foi pioneira e isso agradou-me.

Trinta anos após ter finalizado o curso, mantém relações pessoais e/ou profissionais com algum dos colegas de academia?
Obviamente que sim. Conheci a minha mulher na universidade, a minha cunhada e o meu cunhado foram colegas e, entre os meus amigos de hoje, contam-se muitos colegas da academia. No plano profissional tenho três ou quatro colaboradores na Tegopi formados na UMinho, sendo que um deles foi mesmo colega de turma.
 
Acha que a academia o moldou para as questões profissionais?
Com toda a certeza. Tudo aquilo que aprendi foi-me extremamente útil ao longo da vida. Embora só tenham passado 30 anos, aqueles eram tempos muito diferentes. Quando entrei para a UMinho, os únicos computadores disponíveis eram os WAN, que funcionavam com cartões perfurados. Tive excelentes professores, autênticos mestres, cujos ensinamentos marcaram em definitivo a minha vida profissional. Recordo, por exemplo, as aulas dos professores Júlio Barreiros Martins e João de Deus Pinheiro como autênticas lições sabáticas.
 
Olhando agora para a sua empresa. Em 2004 a Quintas & Quintas assumiu os 100% do capital da Tegopi. Foi esse o derradeiro momento de viragem da empresa que agora lidera?
A Tegopi é uma empresa com mais de 70 anos de história e, ao longo de todo esse tempo, passaram por ela excelentes gestores e engenheiros. O grupo Quintas & Quintas entrou como sócio maioritário em 1991 e adquiriu a maioria do capital em 2004. Isso deu a oportunidade de a empresa orientar a sua atividade para a área das energias renováveis, nomeadamente a produção de torres eólicas. Os equipamentos de elevação, dos quais a Tegopi é uma produtora reconhecida no mercado nacional, tiveram um forte crescimento com a realização do Plano Nacional de Barragens.
 

A "Universidade da Soldadura"

Em que posição e qual é o foco da Tegopi no que respeita ao mercado em que opera?
É, antes de mais, uma metalomecânica pesada, altamente especializada em tecnologias de soldadura. Levamos muito a sério os desafios dos nossos clientes, não nos limitando a cumprir, antes tentando sempre superar-nos. Acreditamos que os nossos colaboradores são a garantia da nossa excelência. A formação e a segurança são uma natural e absoluta prioridade. Dizem mesmo que somos a “Universidade da Soldadura”, epíteto que nos orgulha por vermos nele reconhecidas a nossa experiência e qualidade. A Tegopi tem vindo a dar um contributo importante na área da produção de equipamentos para energias renováveis, onde Portugal é já uma referência mundial. Fomos pioneiros a nível mundial na construção de torres eólicas e somos o maior fabricante nacional deste produto. Esperamos continuar a crescer neste domínio, onde contamos com a confiança dos maiores produtores de aerogeradores a nível mundial. Temos também adquirido especial competência e capacidade de resposta na área de equipamentos de elevação, sendo reconhecidos como um parceiro nesta área por entidades nacionais e internacionais. Recentemente fomos qualificados pelo CERN [Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear] para fornecimento deste tipo de equipamentos.
 
A empresa vai aumentando a sua produção e, consequentemente, a exportação. Qual é o volume de negócios?
Varia muito de ano para ano, mas tem vindo sempre a mostrar uma tendência de crescimento consistente. No ano passado tivemos um volume de negócios de 35 milhões de euros, dos quais mais de 90% se destinou a exportação.
 
E de que forma concretizam a ligação às universidades para daí extrair conhecimento aplicável à investigação e inovação?
Sabemos bem que não há competitividade sem tecnologia inovadora. Temos trabalhado bastante para garantir a inovação em processos e em produtos. Temos participado nos projetos mobilizadores, em parceria com o Produtech - Polo das Tecnologias de Produção. Temos também desenvolvido vários projetos individuais, nomeadamente na procura de soluções para equipamentos de elevação próprios, com o Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (INEGI), do qual sou também administrador. Estamos a participar este ano, pela primeira vez, num programa de doutoramento em ambiente Industrial, com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e somos uma empresa muito aberta à comunidade académica. Da Universidade do Minho recebemos, pelo menos, uma visita anual do grupo do professor Marques de Pinho e estamos sempre abertos a proporcionar estágios profissionais. Com muita regularidade, os alunos que fazem estágio profissional connosco permanecem na casa depois de o terminarem. 
 
Qual a meta da empresa a médio prazo?
Continuar a crescer em ambos os segmentos de mercado até um volume de negócios de cerca de 50 milhões de euros.
 
Onde se vê daqui a dez anos?
Numa atividade menos operacional, mas com forte ligação ao meio empresarial e académico.

 

  Perfil
 
  Uma música. "Construção", de Chico Buarque de Holanda.
  Um livro. "Baudolino", de Umberto Eco.
  Um filme. "Lawrence da Arábia", de David Lean.
  Um desporto.Trekking, peregrinações.
  Um prato. Cozido à portuguesa.
  Um vício. Leitura e amigos.
  Uma coleção. Livros, muitos livros!
  Uma personalidade. Papa Francisco.
  Um momento. Cada dia… Quando o sol beija a terra!
  Uma viagem. Brasil.
  Um lugar. Rio de Janeiro.
  Um lema. Labor improbus omnia vincit (o trabalho árduo tudo vence).
  A UMinho. A minha casa!