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Estudar na UMinho para ajudar a reconstruir a Síria
30-06-2018 | Pedro Costa
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Samer Hamati tem 36 anos e é de Lataquia, Síria. Os conflitos do seu país levaram-no a apostar num doutoramento em Portugal - a oportunidade de uma vida, com o sonho de poder voltar à sua pátria.
Considera os portugueses acolhedores, mas (ainda) não se consegue integrar na língua de Camões. Apesar disso, apaixonou-se pelo Algarve e ficou fã incondicional do bacalhau com natas. Gosta de campismo e de caminhadas para relaxar no intervalo das exigências do
doutoramento em Economia
, que está a desenvolver com médias de excelência no Núcleo de Investigação em Políticas Económicas (
NIPE
) da
Escola de Economia e Gestão
da UMinho, numa parceria com a Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra
. Estuda o desenvolvimento económico de países em conflito e tem também conseguido participar em escolas de verão científicas no Luxemburgo, Espanha e Itália. É licenciado e mestre em Economia pela
Universidade de Tishreen
, na Síria, onde depois trabalhou no Fundo Nacional para o Desenvolvimento Integrado da Comunidade Rural, na Comissão de Mercados Financeiros e Valores Mobiliários, no Centro Nacional de Políticas Agrícolas, no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e no Instituto Romeno de Ação para a Paz, Formação e Investigação.
Como decidiu vir estudar para Portugal?
Portugal não estava na minha lista de países para onde ir. Tudo começou em 2012, um ano depois de começar o conflito na Síria. Deixei o meu emprego em Damasco e permanecer no país não era uma boa escolha, devido às duras situações económicas e à falta de segurança. A minha situação financeira forçou-me a procurar uma bolsa de doutoramento, pois entretanto a libra da Síria tinha caído 600% até meados de 2013. Candidatei-me a diferentes universidades, mas em vão. No entanto, um dia de maio encontrei na minha caixa de correio um email a informar que eu tinha sido aceite para ser parcialmente financiado num doutoramento na Universidade do Minho, em Braga. Fui saber mais sobre a cidade, que eu não conhecia, e descobri que é no Norte do país. Graças ao futebol também sei um pouco mais sobre Portugal. É um país com o qual a Síria não tinha relações diplomáticas, por isso foi muito difícil conseguir um visto português.
Como foi a integração?
Cheguei em 6 de setembro de 2013 e o meu doutoramento começava no mesmo dia. Foi um grande desafio. Eu quase não entendia nada, já que tenho uma lacuna na língua, pois não passei pela Matemática Económica e tive medo de não ter sucesso no primeiro ano. Mas estudei muito e usei referências diferentes. Toda a gente me apoiou e, finalmente, consegui passar. Além disso, consegui ser o melhor aluno e obtive uma bolsa de mérito académico.
O que foi mais difícil?
O processo de integração não é fácil em Portugal e, embora as pessoas sejam acolhedoras, não tenho muitos amigos portugueses. Sinto sempre que sou um estranho quando estou em grupo, nomeadamente com o
iPUM
ou no grupo de dança. Provavelmente, é devido às dificuldades que tenho com a língua portuguesa, pois cometi o erro de não a aprender. Isso prejudica a integração. Por outro lado, desde que sou doutorando praticamente não tenho tempo livre para conhecer novas pessoas.
Que faz no (pouco) tempo livre?
Gosto de visitar novos lugares em Portugal quando tenho dias de folga. Fiz um périplo de duas semanas pelo Algarve e estou apaixonado pela região, pelo ambiente e pelas paisagens.
O que mais o agrada no ensino português?
Estou a gostar muito de estudar na UMinho e de aprender cada vez mais. Os professores comportam-se de uma forma que me faz sentir num ambiente familiar.
Como é o seu dia a dia?
Começo o dia a beber um chá num dos bares da universidade, depois vou até ao gabinete, onde estudo durante um bom par de horas. No caso de precisar de um livro, posso pedir emprestado por seis meses, o que é algo importante e facilita muito.
Defesa da tese para breve
Que outras coisas destaca?
Estou à vontade para ir aos gabinetes dos professores se tiver alguma dúvida, pois todos são amigáveis e estão prontos para ajudar. Também gosto é ir ao ginásio à noite para me livrar da energia negativa acumulada durante o dia. Em resumo, temos aqui excelentes instalações e ótimas condições para os estudantes.
O que pensa fazer após terminar o doutoramento?
Estou a terminar os últimos artigos científicos e depois vou apresentar a minha tese, o que deve acontecer até ao final do verão. Os meus orientadores são os professores Francisco Veiga e Miguel Portela.
Em que incide a tese?
Estou a investigar o crescimento económico em países de conflito pós-civil desde que decidi que vou voltar para casa e trabalhar na reconstrução da minha terra natal. Nada como estar em casa! Você pode amar a sua mãe não porque é a melhor mulher do mundo, mas simplesmente porque é a sua mãe - e o lar é a mesma coisa. Neste trabalho de investigação estou a verificar que conclusões podem ser aplicadas na Síria, no pós-conflito.
Viveu momentos marcantes no seu percurso fora da Síria?
Sim, claro, durante o doutoramento tenho tido oportunidade de participar em muitas escolas de verão, workshops, conferências e sessões de
brainstorming
. Fui o único doutorando árabe que aceitou participar numa escola de verão da
Trento School of Economics
, em Itália, em junho de 2016. Um dos oradores foi Josef Stiglitz, vencedor de um Prémio Nobel.
Qual o seu segredo para obter tão bons resultados?
Há duas coisas importantes. A primeira é estudar muito e ser paciente, não desistir. A segunda é arranjar tempo para relaxar quando estou sob stress. Acima de tudo, é muito importante ser pró-ativo e não esperar que as oportunidades surjam por si. É necessário procurá-las e tentar agarrá-las. Fazendo isso, muitas portas abrir-se-ão.
Esse conselho serve para aqueles que estão a chegar...
O meu melhor conselho para os recém-chegados é que não tenham medo do fracasso. Para provar o sucesso, devem entender o fracasso. Preparem-se para os piores cenários, com eventuais planos B e C.
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Nasceu "no dia das mentiras de 1969”, em França, mas sente-se “português até ao tutano”. Vive em Moreira de Cónegos e trabalha no Departamento de Eletrónica Industrial da Escola de Engenharia desde 1994. É hoje um dos técnicos distinguidos com a medalha de 30 anos em funções públicas, no 51º aniversário da UMinho.
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