“O Instituto Confúcio pode e deve funcionar como uma janela para a China”

27-11-2018 | Nuno Passos

Visita do Embaixador da China ao ICUM, em março de 2018

Diretor português do Instituto Confúcio da UMinho, António Lázaro é também professor de História do Instituto de Ciências Sociais da UMinho e investigador do Lab2PT - Laboratório de Paisagens, Património e Território (foto: Nuno Gonçalves)

A Escola de Verão do ICUM inclui uma ida à China e a visita a locais como a Universidade de Nankai

Momento de uma edição do exame HSK, no campus de Gualtar

Alunos a aprender mandarim na EB 2/3 Frei Caetano Brandão, em outubro de 2016 (foto: CM Braga)

A 6ª edição do Concurso de Língua Chinesa para Alunos das Escolas Secundárias, coorganizada em julho de 2013 com a Embaixada da China, teve alunos do ICUM nos quatro primeiros classificados

Henrique Pinto fez a melhor classificação de Portugal no maior concurso de chinês, ficando com o prémio 'Outstanding Elegant Demeanor' e a um ponto da finalíssima, em agosto de 2017, em Changsha, sul da China

Apresentação do livro "Os pássaros também se sentam", em outubro de 2018, na BLCS

Oficina de caligrafia chinesa para crianças, em janeiro de 2018, na BLCS

Workshop de pintura chinesa, em dezembro de 2017, na BLCS

Pormenor do festival das lanternas, em março de 2018, no Museu Nogueira da Silva

A dança do leão a celebrar o ano novo chinês, em fevereiro de 2016, no shopping Braga Parque

Ano Novo Chinês assinalado em fevereiro de 2015, em Caminha

Momento da iniciativa "Aveleda ao Encontro da Cultura Chinesa", em junho de 2013, em Penafiel

Concerto do Coro da Universidade de Nankai no 1º Festival de Outono, em outubro de 2010, no salão medieval da UMinho

Grupo de Folclore de Estudantes da Universidade Normal do Nordeste da China, em janeiro de 2010, no salão medieval da UMinho

Dança do leque, no restaurante Panorâmico da UMinho

Sessão de taijiquan junto ao ICUM, em Gualtar

Artes marciais, no shopping Braga Parque

Xadrez chinês, numa sala do campus de Gualtar

Recorte de papel, na celebração do Dia dos Institutos Confúcio, no hall do Complexo Pedagógico II

Ilustração chinesa destacada numa mostra de livros, na BLCS

Ritual do chá no ICUM, por Bárbara Araújo

Pormenor do biombo chinês na sede do ICUM

Confúcio (551-479 a.C.) foi um pensador chinês cuja filosofia focava a moralidade pessoal e governamental, as ações corretas nas relações sociais, a justiça e a sinceridade

O Instituto Confúcio da UMinho foi distinguido várias vezes pelos seus projetos e pela dinâmica

Acílio Rocha, vice-reitor da UMinho e presidente do ICUM, com o Prémio de Excelência como um dos 20 melhores Institutos Confúcio do mundo, a 9 de dezembro de 2008, no Grande Palácio do Povo, em Pequim, China

Cumprimentos do adido cultural da Embaixada da China, Lv Desheng, e do reitor da UMinho, António Guimarães Rodrigues, na inauguração das instalações definitivas do ICUM, em julho de 2006

A inauguração contou ainda com a presença do representante da administração da Fundação Oriente, João Ramos e, da parte da UMinho, com o vice-reitor Acílio Rocha e a diretora do ICUM, Sun Lam

O vice-ministro da Educação da China, Zhang Xinsheng, e o vice-diretor do Hanban, Zhao Guocheng, visitaram a UMinho em setembro de 2005

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Entrevista ao diretor do Instituto Confúcio da UMinho, António Lázaro, abrindo o ciclo de conversas com os responsáveis das unidades diferenciadas da UMinho.




O Instituto Confúcio da UMinho (ICUM) surgiu em setembro de 2005. Com que objetivo?
Em 2005 foi assinado um acordo de intenções entre a UMinho e o Hanban, gabinete para a difusão da língua e cultura chinesas, um organismo vinculado ao Ministério da Educação da República Popular da China. O ICUM foi, efetivamente, estabelecido apenas um ano depois, a 16 de outubro de 2006. Foi o primeiro Instituto Confúcio criado no espaço lusófono e, salvo erro, o 32º ou 33º a nível mundial. Hoje, decorridos mais de dez anos, existem mais de 500 Institutos Confúcio espalhados pelo mundo, dos quais quatro em Portugal: Minho, Lisboa, Aveiro e Coimbra. No seio da UMinho, constitui o que se designa uma unidade diferenciada, resultando de uma parceria entre a Universidade e uma entidade que lhe é exterior, a República Popular da China. Os seus objetivos, conforme os respetivos estatutos o dizem, contemplam a difusão da língua e cultura chineses, a promoção do intercâmbio cultural e científico entre Portugal e a China e, enfim, o apoio ao desenvolvimento dos estudos chineses na UMinho, designadamente à oferta formativa do Departamento de Estudos Asiáticos [DEA, do Instituto de Letras e Ciências Humanas, ILCH], à frente do qual está a professora Sun Lam, aliás, a anterior e primeira diretora do ICUM.
 
Desse ponto de vista, têm sido lançados vários projetos.
Exatamente! Ao dar satisfação à sua missão, o ICUM presta, desde logo, um empenhado apoio à oferta formativa do DEA e, por outro lado, promove, no campus de Gualtar, dois cursos livres, um de Chinês Turístico e Comercial, a funcionar ao sábado, um de Língua e Cultura Chinesas, a funcionar à segunda e quarta-feira, em qualquer um dos casos com vários níveis, e, ainda num outro plano, aulas de wushu kung-fu, com a colaboração da Jing-She - Escola de Wushu Kung-Fu de Famalicão, as quais decorrem no Pavilhão Desportivo de Gualtar, à segunda e quarta-feira. Além disso, ainda no plano do ensino, o ICUM sustenta, também há largos anos, o projeto de ensino de Chinês nas escolas, designadamente em escolas públicas e privadas do ensino básico e secundário. Aliás, este constitui, sem sombra de dúvida, um dos projetos a que temos dado mais atenção, o que é evidente se olharmos para a dimensão que já atingiu. Neste momento, inclui já 16 escolas, numa área que se estende por Braga, Guimarães, Famalicão, Lousada e Porto, cobrindo um universo de cerca de 500 alunos e um variado número de níveis de formação. Finalmente, também no ensino, convirá assinalar que o ICUM não só foi pioneiro como continua a assegurar, de forma regular, em articulação com as autoridades chinesas, os exames oficiais de proficiência de língua chinesa, HSK e HSKK, tarefa cuja importância é notória e que ultrapassou já as fronteiras nacionais, tendo passado a incluir candidatos oriundos da Galiza. Por outro lado, indo ao encontro da dimensão anterior e ultrapassando-a, o ICUM tem promovido um conjunto de ações, nas quais se incluem conferências, workshops e exposições, em colaboração com o ILCH, o Instituto de Ciências Sociais, a Escola de Arquitetura e a Escola de Economia e Gestão da UMinho, nos campi de Gualtar e de Azurém, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS), no Museu Nogueira da Silva e na Galeria da Estação, em Braga, com o apoio da Câmara Municipal de Braga, na Biblioteca Raúl Brandão, em Guimarães e noutras localidades do Norte do país. Em qualquer caso, se a organização de grande parte dos eventos culturais é dirigida ao público universitário, a opção por promovê-los fora do espaço da UMinho assenta na intenção de os fazer chegar ao público em geral.
 
Como descreveria o espaço e espólio do ICUM, para quem ainda não o visitou?
Está instalado no coração do campus de Gualtar, no espaço onde outrora esteve a Biblioteca Salgado Zenha e, por outro lado, utiliza ainda um gabinete e uma sala, cedidos pelo ILCH, no âmbito da colaboração com essa unidade orgânica. O espaço em causa, a remodelar em breve, ocupa uma posição central e é confortável, estando naturalmente aberto ao público. É, acima de tudo, um local de trabalho e de encontro de todos aqueles que colaboram com o Instituto. Em todo o caso, convirá assinalar, mais do que o espaço que ocupa, o ICUM é, sobretudo, uma equipa e os projetos que desenvolve. 
 
Que equipa tem?
Neste momento, a equipa é constituída por quase duas dezenas de pessoas: um diretor nacional [António Lázaro], um diretor chinês [Li Chunjiang], a coordenadora do projeto de ensino nas escolas [Emília Dias], a secretária [Bárbara Araújo], cinco professoras e três estagiárias, enviadas pelo Hanban, algumas dos quais provenientes da universidade parceira, a Universidade de Nankai (China) e ainda vários colaboradores, designadamente mestres, mestrandos ou licenciados na área dos Estudos Chineses, na sua totalidade recrutados entre os atuais ou antigos alunos da UMinho.
 
Que balanço faz do percurso do ICUM até ao momento?
Creio que o balanço é claramente positivo! Ao longo dos últimos anos cresceu significativamente o número de alunos, tanto ao nível dos cursos livres como das escolas do ensino básico e secundário. A qualidade do ensino ministrado melhorou substancialmente, fruto de um esforço que incluiu um investimento na formação dos professores, através de ações que recorreram ao seu corpo docente, à colaboração de docentes do Instituto de Educação ou do Scotland’s National Centre for Languages e, finalmente, promovendo a participação dos ditos professores em ações organizadas por outros Institutos Confúcio, nomeadamente os das universidades de Lisboa e de Aveiro. Para além disso, creio que é notório que o número de iniciativas desenvolvidas no plano cultural, nomeadamente conferências, exposições, espetáculos e workshops, organizados com a colaboração e apoio de outras entidades, também cresceu e diversificou-se, levando a um interesse cada vez maior pela língua e cultura chinesas. Enfim, creio que também valerá a pena assinalar, como expressão do esforço desenvolvido pelo ICUM, partilhado com o DEA, a boa prestação de todos os alunos do ensino básico e secundário e universitários em sucessivas edições do Chinese Bridge. Neste concurso de proficiência de mandarim, organizado pela embaixada da República Popular da China em Lisboa e pelo Hanban. com o apoio de diversos Institutos Confúcio, os alunos enquadrados pelo ICUM, como por exemplo Samuel Gomes, Henrique Pinto e Bárbara Araújo, destacaram-se tanto no plano nacional como internacional.
 
Que eventos destaca deste percurso?
Essa é uma pergunta à qual não é fácil responder. Em todo o caso, dos eventos que o ICUM promoveu, no que toca às conferências poderei destacar um ciclo sobre o património de origem chinesa em Portugal, outro sobre os grandes vultos da cultura e da história da China e, finalmente, um em torno da economia e do lugar da China nos nossos dias. No que concerne às exposições, duas produzidas pelo ICUM, com a colaboração do Museu Nogueira da Silva, nomeadamente em torno da obra dos fotógrafos Manuel Correia e José Cristóvam Dias e outra, preparada pelo Hanban, sobre livros infantis ilustrados de autores chineses, que decorreu recentemente na BLCS. Finalmente, embora já tenha tido lugar há algum tempo, a colaboração do ICUM na instalação da Biblioteca Fernão Mendes Pinto, biblioteca especializada na área dos estudos orientais, na dependência dos Serviços de Documentação da UMinho, em Gualtar, nomeadamente através de uma importante doação de livros e, por outro lado, da apresentação de uma exposição sobre o patrono da biblioteca, com o apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.
 
Como avalia a recetividade do público?
Creio que o público tem vindo a revelar um interesse cada vez maior pelas iniciativas promovidas pelo ICUM, expresso no aumento do número de alunos e na crescente adesão às iniciativas culturais, o qual também resulta, naturalmente, da perceção do lugar que a China ocupa nos dias de hoje.  

 

Aumentar a presença no Porto e em Guimarães
 
Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
Para além dos projetos em curso, que se pretendem aprofundar, existem outros que irão merecer a nossa especial atenção nos próximos tempos, designadamente os seguintes: a criação de uma Confucius Classroom no Colégio Luso-Internacional do Porto, processo cuja candidatura já foi apresentada às autoridades chinesas e que, esperemos, possa concretizar-se na sua inauguração durante o próximo ano, condição necessária para apoiar o ensino de mandarim que o ICUM oferece na área metropolitana do Porto; a criação de uma extensão do ICUM em Guimarães, solução incontornável que decorre daquilo que faz parte da essência da UMinho, a sua distribuição por dois polos, e que vai ao encontro da intenção de alargar, de forma expressiva, a atividade do ICUM a Guimarães; e, por fim, o estabelecimento de uma relação mais próxima com a comunidade chinesa residente no Norte do país, o que passa, entre outras coisas, por contactos mais frequentes com a Liga dos Chineses em Portugal. Para além disso, o ICUM continuará a dar um apoio empenhado ao projeto-piloto do Ministério da Educação em torno do ensino de mandarim em várias escolas do ensino secundário, nomeadamente na área de intervenção do ICUM - a Escola Secundária Carlos Amarante, em Braga e a Escola Secundária Augusta Gomes, em Matosinhos. Refira-se, a este propósito, que do balanço final do projeto poderá resultar o alargamento do ensino de mandarim ao sistema nacional de ensino. Finalmente, tratando-se de iniciativas muito concretas, não posso deixar de mencionar que o ICUM prevê para muito breve a inauguração de uma exposição de bronzes chineses no Museu D. Diogo de Sousa, com o apoio deste, tal como, no decurso do próximo ano, uma exposição de instrumentos musicais chineses, em espaço a definir.
 
Em que medida projetos como o do ICUM contribuem para a missão da Universidade?
A presidência do conselho de direção do ICUM cabe, conforme dizem os seus estatutos, ao reitor da UMinho, o que, desde logo, exprime o reconhecimento tácito da importância que a Universidade lhe atribuiu. Esta unidade, compreendendo um papel que se desenvolve no plano científico, da educação e da cultura, cumpre, desse ponto de vista, uma missão da Universidade. Mais ainda, ao desenvolver a sua atividade, privilegiando o diálogo com a comunidade envolvente, vai também ao encontro de um outro papel que a Universidade reivindica. Finalmente, se a sua existência se compreende como espaço de diálogo e de cooperação internacional, o ICUM não pode, igualmente, deixar de cumprir uma outra missão essencial da mesma, aquela que é indissociável da universalidade.  
 
Quer deixar alguma mensagem final?
Muito embora seja uma evidência, acho que vale sempre a pena lembrar que o mundo é mudança e que no mundo de hoje a China ocupa, indiscutivelmente, um lugar central. Nesse mundo, o Instituto Confúcio pode e deve funcionar como uma janela para a China.
 


Legenda da primeira foto
- fila da frente: Zhou Gaoyu, da Divisão da Educação da Embaixada da China em Portugal; António Lázaro, diretor português do ICUM; Rui Vieira de Castro, reitor da UMinho e presidente do ICUM; Cai Run, embaixador da China em Portugal; e Li Chunjiang, diretor chinês do ICUM;
- fila de trás: Xu Mingming, estagiária do ICUM; Zhoug Lingyu, professora de Chinês no projeto-piloto do Ministério da Educação; Henrique Pinto, colaborador do ICUM e professor de chinês no Colégio Luso-Internacional do Porto; Emília Dias, coordenadora do Projeto Ensino de Chinês nas Escolas; Bárbara Araújo, secretária do ICUM; Peng Bing, estagiária do ICUM; Shi Wangxinlei, professora do ICUM; e Liu Jie, docente do DEA-ILCH e colaborador do ICUM.