Ficam no Natal e vivem as tradições portuguesas

21-12-2018 | Nuno Passos

Masayuki Yamada

Mariana Albuquerque

Abbas Al-Rjoub

Nadejda Machado (à direita), no Gabinete Mundo Russo da UMinho

Celso Simão

1 / 5

Há alunos, investigadores e profissionais da UMinho a milhares de quilómetros de casa, mas vão passar a consoada com famílias portuguesas, com amigos de outros países ou apenas aproveitar para relaxar




Natal é como o Dia dos Namorados no Japão

Masayuki Yamada

33 anos | Nagoya, JAPÃO

É licenciado em Estudos Brasileiros e mestre em Linguística pela Universidade de Sófia (Bulgária), onde foi investigador. Frequenta o 3º ano do doutoramento em Ciências da Linguagem – especialidade em Psicolinguística na UMinho. Quer contribuir para o ensino de Português no Japão e a aprendizagem de Português por alunos da Ásia.

Masa, como é conhecido, já passou um natal típico português, durante o intercâmbio na licenciatura, em 2006. “Na residência universitária em Aveiro só ficaram os estrangeiros. Fomos a uma igreja e o ambiente era diferente, no bom sentido. Depois não fiz nada de especial, como troca de prendas. Mas lembro-me que comi bacalhau cozido e adorei. Passei a associá-lo ao Natal e apetece-me sempre comê-lo nesta altura”, conta. No Japão, o Natal é celebrado “por influência ocidental”, mas “como um Dia dos Namorados”, os quais passeiam juntos, vão a bons restaurantes e trocam presentes. A família também reúne nesta data, mas não é obrigatório: “Quando morei em Tóquio, não fui a Nagoya de propósito”. Masa vai passar este Natal em Braga, com amigos estrangeiros e a adiantar a tese doutoral, que quer terminar este ano letivo. No dia 26 voa para uma quinzena no Japão. “No meu país, o Natal é para os namorados e o ano novo é sempre para a família – em Portugal é ao contrário”, frisa. Nos primeiros dias do ano visita-se a casa dos pais e avós, come-se mochi (bolinho de arroz), nori (com soja e algas) ou zouni (sopa) e, além disso, visita-se santuários (jinja) do xintoísmo, onde muitas pessoas tiram um papel da sorte (omikuji) para adivinhar o ano novo.
 

 

Uma consoada "como nos filmes"

Mariana Albuquerque

30 anos | Rio de Janeiro, BRASIL
 
É licenciada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e foi advogada na área de contratos da empresa de telecomunicações TIM Celular. Está no 1º ano do mestrado em Direito dos Negócios Europeu e Transnacional (LL.M.) na UMinho. 

Chegou em maio a Braga e está ansiosa para conhecer o Natal típico, na companhia dos pais e “na casa de amigos brasileiros que possuem família portuguesa – será uma mistura de tradições”. “Quero vivenciar como nos filmes: de frente para a lareira e vestindo um suéter natalino”, sorri. Talvez só falte a neve. No seu país também se enfeita as casas com luzinhas, monta-se árvores de Natal e presépios, reúne-se famílias, troca-se presentes e espera-se pelo “Papai Noel”. Mas o termómetro ronda os 35ºC e a comida da ceia só coincide no bacalhau e nas rabanadas, pois, sublinha, é comum haver peru assado, arroz com uvas passas (“assunto polémico!”), saladas, a inevitável farofa, o panetone e outras delícias fartas que variam consoante cada família; no almoço do dia 25 come-se o que sobrou da ceia, chamado de “enterro dos ossos”. “A magia da data é a mesma aqui e lá”, anui. Já na “virada do ano” deve estar com amigos em Lisboa, aproveitando para conhecer a capital. Como brasileira que é, nessa noite vai usar “roupas brancas e novas”. Para Mariana, a celebração do ano novo é a melhor época para ir ao Brasil. “É cheia de significado e tradições, inesquecível. O país inteiro se veste de branco, formando uma imensa corrente pela paz. Todos se reúnem na praia com muita música e fogos-de-artifício (Copacabana tem o maior réveillon do mundo!). Além disso, há superstições para o ano que inicia, como pular sete ondas e fazer sete pedidos, jogar flores no mar para ter proteção da rainha Iemanjá (influência africana), comer lentilhas para atrair fartura ou ainda comer uvas e romãs e guardar as sementes para atrair dinheiro”, elucida.
 
 

Festa grande na Palestina

Abbas AL-Rjoub
33 anos | Hebrom, PALESTINA

É mestre em Física Atómica/Molecular pela Universidade de Sussex (Reino Unido) e foi professor de Física na plataforma Palestine Education for Employment. Frequenta desde 2015, em Guimarães, o doutoramento em Física (MAP-Fis), que une as universidades do Minho, Aveiro e Porto, com uma tese sobre a absorção solar seletiva para aplicações de alta temperatura.

A sua terra natal é próximo de Belém, onde Jesus Cristo terá nascido. Aí, o Natal é celebrado “de forma especial e mais longa”. É que católicos romanos e protestantes celebram a 25 de dezembro, gregos, sírios e outros ortodoxos a 6 de janeiro e cristãos arménios a 18 de janeiro, na Igreja de Santa Catarina, junto à Basílica Ortodoxa da Natividade. As tradições natalícias em geral na Palestina “são similares” às da Europa e dos EUA, revela Abbas, bem como às que vivenciou no Reino Unido e em Portugal. Ainda assim, Belém é decorada dias antes do Natal com bandeiras e outros adornos, as ruas recebem luzinhas, há um mercado de Natal e, em todas as casas cristãs, pinta-se uma cruz nas portas e coloca-se presépios. No dia 24, acrescenta, a cidade fica lotada de pessoas vindas de várias cidades. Inicia-se então uma procissão anual, com cavaleiros e polícias em cavalos árabes, seguindo-se um homem num corcel preto a segurar uma cruz, os clérigos e os membros do governo. “A procissão cruza silenciosamente as portas e coloca-se uma imagem antiga do Menino na Igreja. Depois, vai por escadas sinuosas até uma gruta, onde uma estrela de prata marca o local do nascimento de Jesus”, detalha. Nos dias 24 e 25 também não se trabalha na Palestina. Abbas é muçulmano e por vezes assiste às festas cristãs. Porém, dois grandes eventos anuais da sua religião são após a peregrinação a Meca e após o Ramadão (mês de jejum), que varia no calendário e também é dia de feriado para muçulmanos e cristãos.
 

 

Réveillon é a grande celebração na Rússia

Nadejda Machado
Kalashnikov - Izhevsk, RÚSSIA
 
Leciona desde 1987 na UMinho, onde se doutorou em Ciências da Literatura, é professora do Departamento de Estudos Germanísticos e Eslavos do Instituto de Letras e Ciências Humanas, investigadora do Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM) e coordenadora do Gabinete Mundo Russo, tendo ainda sido a primeira a ensinar Russo e das pioneiras a lançar cursos livres de línguas na academia.
 
O casamento com um português resgatou-a para o Norte de Portugal em 1984. Nadia, como a chamam cá, considera que o seu Natal “é como viver em dois países em simultâneo”. Se a ceia ocidental é no dia 24, a consoada ortodoxa é a 6-7 de janeiro, seguindo o calendário juliano, sendo a mesa recheada com 12 pratos (representam os apóstolos de Jesus), como kutya, perohy, borsch, mel, sopa de cogumelos, repolho recheado e batatas, culminando um período de jejum. Os mais novos têm as prendas sob o pinheirinho, trazidas pelo Pai Natal, que nos contos russos chama-se “Avô do frio”, educa para a proteção da floresta e tem a neta ajudante Snegurochka, de tranças loiras longas e vestido azul e branco. Nesta época, descreve Nadia, os centros históricos ficam mais iluminados e com uma árvore gigante, como sucede na capital. Mas a “maior festa” anual na Rússia passou a ser o réveillon. O jantar exige a salada russa, chamada Olivier, nome do chef que a inventou em Moscovo. Minutos antes das 12 badaladas, o Presidente anuncia ao país votos de bom ano, uma tradição da União Soviética, e depois as pessoas brindam ao ano velho e trocam cumprimentos de felicidades, detalha Nadia. “Também se usa máscaras e roupas diferentes, pois o país não celebra o Carnaval, e a noite continua com várias festas, como nas discotecas. O ano novo traz ainda a ideia do mistério, do desconhecido, do perspetivar o futuro - há reflexões e brincadeiras sobre isso”, elenca, notando que no réveillon português as pessoas preferem centrar-se sobretudo nos momentos de convívio. A professora procura divulgar estas e outras celebrações eslavas ao longo do ano na comunidade académica, nomeadamente em Braga.
 


Aproveitar a quadra na praia

Celso Simão
41 anos | Maputo, MOÇAMBIQUE
 
É mestre em Psicologia Educacional pela Universidade Pedagógica de Moçambique, onde leciona no Departamento de Psicologia, e ainda doutor em Psicologia Aplicada pela UMinho, tendo realizado uma tese sobre a procrastinação na Matemática em adolescentes de Maputo. Quer agora desenhar programas para ajudar os alunos a reduzir aquele comportamento e a treiná-los em comportamentos autorregulatórios, além de continuar a investigação em pós-doutoramento na Escola de Psicologia da UMinho.

Celso já passou um Natal português em casa de uma família amiga e “foi fantástico, sobretudo pelo espírito acolhedor” e pela gastronomia “rica, cheia de iguarias”. Ficou ainda surpreendido pelos detalhes na ornamentação das cidades e aldeias e também pelo frio. “Em qualquer sítio sente-se e vive-se o espírito natalício e muitas lojas já têm promoções (comida e roupa), mas na minha terra os preços sobem”, explica. O Natal moçambicano é diferente, em pleno verão. Finta-se o calor com cerveja e as famílias juntam-se, preparando muita comida (beef, saladas, peixe, lulas, camarão, leitão), diz. Este ano, Celso passa o Natal na casa da mãe, juntando a sua família com as dos seus irmãos, e já separou algumas garrafas de Muralhas de Monção. “Herdamos o espírito de convívio do povo português!”, sorri. No réveillon veste-se roupa leve de cor branca (em vez do “agasalho pesado” no Minho) e muitas famílias moçambicanas vão a estâncias turísticas e à beira-mar para aproveitar o calor, “o que seria impossível” em Portugal.