Ex-aluno da UMinho ajuda Sulawesi a sorrir depois da tragédia

21-12-2018 | Daniel Vieira da Silva

Entrega de bens essenciais decorreu em cinco campos populacionais

Dany Oliveira ajudou no apoio ao nível de higiene e médico

Missão "Ajudar Sulawesi" levou a bandeira portuguesa ao apoio à população fustigada pelo terramoto na Indonésia

Parte da cidade de Palu ficou submersa

População de Palu evidenciou a gratidão pelo gesto altruísta

Cenário de devastação comoveu o alumnus da UMinho

Campanha conseguiu ajudar uma parcela da população de Sulawesi

Dany Oliveira voltou à Universidade do Minho para conceder esta entrevista

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Dany Oliveira lançou uma campanha de crowdfunding para ajudar vítimas do terramoto e do tsunami na ilha de Sulawesi, na Indonésia.

Licenciado em Ciências da Comunicação desde 2013, o bracarense Dany Manuel Fernandes Oliveira escolheu a vertente de jornalismo para aprofundar durante a sua formação na área. A entrada para o mercado laboral abriu-lhe horizontes e sentiu a necessidade de se voltar para Marketing e Estratégia, tendo concluído a respetiva pós-graduação na Escola de Economia e Gestão. Trabalhou num jornal, colaborou com a Associação Académica, lançou uma start-up, passou por duas empresas nacionais e agora é consultor de comunicação no Banco Mundial. Tem 27 anos, mas é o nosso convidado nesta edição pela sua “carreira solidária”. Lançou a campanha de crowdfunding "Ajudar Sulawesi", que apoiou 500 pessoas.


Universidade do Minho porquê?
A questão geográfica pesou, mas o curso de Ciências da Comunicação já era conceituado. A qualidade dos docentes e todas essas referências pesaram na minha decisão de ingressar na UMinho. As boas referências fizeram-me também seguir para o Marketing.
 
Porquê essa passagem?
A parte de experimentar, de estar no mercado deu-nos insights importantes. O facto de estar a construir uma start-up no seio da UMinho, com a ajuda do Liftoff, também ajudou. Cedo percebi que, mais do que comunicação, a vertente do marketing era importante também, daí essa escolha.
 
Certamente que as aulas e a aprendizagem na UMinho foram importantes, mas viveu a universidade de forma intensa. Que vivências recorda desses tempos?
A UMinho foi uma etapa muito rica. Tentei aproveitar ao máximo o que esta tinha para oferecer. É lógico que as aulas, o curso e os colegas de curso estão bem presentes, mas tenho excelentes memórias da AAUM, onde fui colaborador no Departamento de Comunicação; muitas memórias dos vários eventos em que estive ligado, fossem eles da área educativa, recreativa, desportiva, social. Ainda assim, não me posso esquecer dos excelentes professores que tivemos e é natural que isso nos tenha moldado, uma vez que nos ajudou a pensar, a aprender a aprender.
 
Esse moldagem transformou o Dany Oliveira que em 2010 entrou na UMinho?
Certamente! Não é alguém que saiu preparado para o mercado de trabalho, mas é alguém com ideia do que o mercado precisa e com a noção que este conhecimento é essencial para a formação pessoal.
 
Desde o momento que abandonou as cadeiras da sala de aula, qual foi o seu percurso?
Tive oportunidade de começar, desde cedo, a colaborar no Correio do Minho, também com o ComUM e depois tive a oportunidade de começar uma start-up com vários colegas. Lançamos uma agência de marketing desportivo, onde o objetivo era ajudar os atletas a ter uma maior visibilidade mediática. Seguimos com esse projeto durante um ano e meio, até percebermos que a realidade era complicada e não estávamos tão preparados como devíamos. Tive então uma proposta para assumir a gestão de marketing da JOM, uma marca de mobiliário. Estive a gerir um milhão de euros afetos ao marketing numa cadeia com 22 lojas em Portugal. Foi um grande desafio durante quatro meses! Nessa altura surgiu outra oportunidade ligada à Ativo Kidsonde estive cerca de ano e meio. Após isso, com cinco anos de experiência e 25 anos de idade, senti que precisava de um estímulo internacional, apesar de ver as coisas a funcionarem bem em Portugal. Foi aí que me candidatei ao programa de estágios InovContacto, no sentido de abraçar uma experiência internacional. Fiquei nos 350 selecionados dentre os 3000 candidatos e fui um sortudo por ir parar a Washington para trabalhar no Banco Mundial, a segunda maior organização internacional do mundo com foco no combate à pobreza. Meses depois, convidaram-me a ficar na instituição. Numa primeira fase fiquei em Washington, a sede onde trabalham cerca de 20 mil pessoas, e nos últimos quatro meses trabalho em Banguecoque.
 
Foi nessa altura que percebeu uma realidade muito díspar, num povo que acabou por visitar numa missão de voluntariado em Sulawesi, a quarta maior ilha da Indonésia?
Cheguei a 2 de agosto a Sulawesi, uma das 17 mil ilhas da Indonésia, e por lá fiquei durante quatro semanas, na cidade de Belopa. O nosso foco era gerar um impacto ao nível da educação ambiental e do ensino de inglês. No dia em que cheguei não tinha dinheiro, o meu cartão bancário não funcionava e nem malas tinha comigo, uma vez que tinham sido desviadas para Jacarta. Aí, senti um grande e genuíno apoio das gentes locais. Quando regressei a Banguecoque, passadas três semanas, aconteceu a tragédia: um sismo de 7.7 na escala de Ritcher, seguido de um tsunami, atingiu aquela zona. Nos dois primeiros dias já havia mais de 500 mortos e cedo percebemos a dimensão da situação. Procurei em Portugal algum apoio internacional a Sulawesi, mas como não havia resolvi lançar uma campanha de crowdfunding que conseguisse recolher essencialmente os bens básicos de apoio à população. Essa campanha durou quase dois meses e reunimos 2000 euros, fruto do apoio de família e amigos e, depois, junto de todos os que se quiseram juntar à causa.



(Equipa de voluntários a caminho de Palu)


Como se procedeu à entrega?
Quisemos fazê-lo em bens. Tive ajuda do Banco Mundial, que me proporcionou uma viagem até ao local, para colocar em prática esta campanha. Percebemos, quando chegamos ao local, que havia necessidades ao nível de educação e higiene e resolvemos também intervir nessas áreas.
 
Quando chegou mais propriamente a Palu, uma das zonas mais devastadas?
Cheguei a 3 de dezembro a Belopa e quando viajei para Palu encontrei um cenário para o qual não estava preparado. O impacto, apesar dos vídeos e imagens que já me tinham enviado, é completamente diferente. Aquilo que vi à minha frente, os cheiros, tudo o que sentimos no momento, é uma realidade muito mais dura e cruel, mesmo dois meses após a tragédia. Só aí percebi a magnitude e o desastre que ali tinha acontecido.
 
Isso deu-lhe ainda mais força para ajudar?
Sem dúvida! Costumo viajar, mas desta vez, e estando com uma equipa totalmente voluntária, também assumi essa missão de apoio. Tinha que ter esse espírito de ajuda. Ouvimos histórias muito cruéis. Pessoas que perderam tudo, viram os seus familiares a desaparecerem, as suas casas a serem destruídas... Foi aí que percebi melhor que esta ajuda era mesmo necessária.
 
O que sentiu por parte da população local, sabendo que vocês chegaram nessa missão de apoio?
A receção foi sempre incrível. No primeiro mês existiu alguma ajuda internacional no local, mas no momento em que estivemos apenas havia cerca de 20 estrangeiros a prestar apoio. No entanto, quero destacar a capacidade de resiliência deste povo, que, recordo, tem pessoas que perderam tudo aquilo que tinham.
 
Consegue quantificar as pessoas que conseguiram ajudar?
Andamos dois dias a fazer distribuições nos campos populacionais, em parceria com uma associação local que ajudava a sinalizar as zonas mais necessitadas. Distribuímos quase 400 quilos de comida, 400 litros de água, quatro caixas de medicamentos essenciais, facilitamos o acesso a cuidados de higiene para bebés e crianças e ajudamos na vertente da educação. Era importante dar-lhes essas condições e conseguimos, por exemplo, construir uma escola temporária, levando cerca de 110 kits com material escolar. Acreditamos que impactamos mais de 400 pessoas nos cinco campos populacionais que ajudamos. O nosso foco tinha a preocupação de ajudar por um período mais longo do que aquele em que estivemos presentes. Acredito que demos abrangência a um apoio muito específico.


 2125€ recolhidos
 8 voluntários envolvidos
 7000 refeições providenciadas
 350 quilos de alimentos recolhidos
 380 litros de água mineral
 80 litros de leite para bebé
 20 kits de medicação
110 kits escolares
    1 escola temporária construída para 24 estudantes


E daqui para a frente?
Apesar do esforço que tivemos, sabemos que nunca será suficiente. São cerca de 50 mil pessoas a precisar de apoio naquela zona do mundo e continuamos em contacto com as pessoas de alguns campos. O foco passa agora por ajudar as pessoas a sair da pobreza e a construírem uma vida melhor.
 
Sente-se orgulhoso e concretizado pelo que fez?
A parte social nunca estará concluída. Há sempre necessidades diferentes, é um trabalho sem fim. O importante é começar e quero continuar a ajudar.
 
É ambicioso no que à sua carreira diz respeito. Que metas tem?
Acredito que o mais importante é crescermos todos os dias e tentarmos trabalhar no nosso próprio desenvolvimento. O lugar ou a instituição onde trabalharei é complicado de afirmar. Penso que caberá ao futuro dizer onde estaremos mais confortáveis. Ainda assim, sinto que será sempre num contexto internacional, inserido numa lógica de ajuda ao próximo.
 
E a UMinho? Quando ouve falar na sua universidade, o que lhe vem à cabeça?
Apesar de estar fora do país, a UMinho é algo que procuro, uma vez que considero importante estarmos ligados à casa que nos formou. É com muito agrado que vejo esta universidade como instituição de referência. Não tenho dúvidas que o continuará a ser no futuro.
 
Apesar de uma carreira ainda curta, já possui diversos graus de experiência. Consegue deixar algum conselho aos estudantes que frequentam a UMinho?
Aproveitar tudo o que a UMinho tem para oferecer. Muitas vezes pensamos que vamos apenas para nos formarmos, mas a UMinho tem mesmo muito para oferecer. Não nos podemos limitar ao nosso próprio curso e é essencial que possa existir uma interação noutras iniciativas, sejam elas da AAUM, das associações de estudantes dos cursos, da Reitoria da UMinho e das suas Escolas e Institutos, dos Alumni UMinho... Tudo isso é fundamental. Não saíremos totalmente preparados da UMinho, mas será certamente um motor e um ponto de partida para a nossa formação pessoal e profissional.

 

  Notas pessoais

  Uma música. "Fly me to the moon", de Frank Sinatra.
  Um livro. "A queda", de Albert Camus.
  Um filme. "Os condenados de Shawshank", de Frank Darabont.
  Um desporto. Futebol, pois claro!
  Um prato. Arroz de pato.
  Um vício. Queijo e vinho tinto.
  Uma coleção. Experiências.
  Uma personalidade. James Bond.
  Um momento. Mergulho com tubarões em Wakatobi, Indonésia.
  Uma viagem. Cuba, em 2018.
  Um lugar. Capo di Feno, Ajaccio, Córsega.
  Um lema. "Procura o desconforto!"
  A UMinho. Referência.