A Casa de Sarmento está "mais forte e autónoma"

31-01-2019 | Nuno Passos

Assinatura do protocolo de criação da Casa de Sarmento, em 2017, com Carlos Bernardo, presidente da comissão instaladora, o reitor António Cunha, o autarca Domingos Bragança e o presidente da SMS, Paulo Vieira de Castro (foto: Joaquim Fernandes)

Antero Ferreira é diretor da Casa de Sarmento, membro da direção da SMS, vice-presidente da Associação de Demografia Histórica e membro do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (CITCEM)

Panorâmica da Casa de Sarmento (foto: Helena Compadre)

Detalhe da fachada do edifício (foto: Helena Compadre)

Logótipo da Casa de Sarmento - Centro de Estudos do Património (CS.CEP)

Apresentação do site e de atividades da Casa de Sarmento, em 2003, no campus de Azurém, com Carlos Bernardo, a vereadora Francisca Abreu, o reitor António Guimarães Rodrigues e o presidente da SMS, Santos Simões

O ministro Matos Fernandes, na assinatura do protocolo entre a Casa de Sarmento e a Agência Portuguesa do Ambiente, em 2017, com Pimenta Machado (atual vice-presidente da APE), Domingos Bragança e Paulo Vieira de Castro (foto: Francisco Assis)

Pormenor da exposição 'Memórias e Património da Bacia do Ave', inaugurada em novembro de 2017 na Casa de Sarmento (foto: Francisco Assis)

Antero Ferreira e Célia Oliveira, da Casa de Sarmento, a apresentar uma comunicação durante as 'Jornadas de População e Saúde - A Gripe Espanhola de 1918', promovidas em outubro de 2018, na SMS

O presidente da Cruz Vermelha, Francisco George, no encerramento das 'Jornadas de População e Saúde - A Gripe Espanhola de 1918', promovidas em outubro de 2018, na SMS

Laboratório de Digitalização - digitalização de periódicos do século XIX

A UMinho publicou em 2004 a edição facsimilada da primeira edição d'Os Lusíadas', pertencente à Sociedade Martins Sarmento

A SMS republicou, em 2009, o livro de bolso 'Sherlock Holmes no Porto', com dois dois contos de Donan Coyle, pseudónimo do vimaranense João de Meira (1881-1913)

Francisco Martins Sarmento (1833-1899) foi um respeitado arqueólogo, escritor, poeta e colaborador de revistas e jornais científicos; na cidade-berço tem o nome associado a uma escola secundária, a uma sociedade cultural e à casa onde faleceu

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Entrevista a Antero Ferreira e Carlos Bernardo, da direção da Casa de Sarmento, no âmbito do ciclo de conversas com os responsáveis das unidades diferenciadas da UMinho.




Como surgiu a Casa de Sarmento?
A Casa de Sarmento, uma iniciativa conjunta da Universidade do Minho (UMinho), da Sociedade Martins Sarmento (SMS) e da Câmara Municipal de Guimarães (CMG), teve uma primeira existência em 2002, tendo sido a primeira unidade cultural da Universidade sedeada em Guimarães. Foi extinta em 2008, na sequência da participação da Universidade na Fundação Martins Sarmento, que visava garantir a sustentabilidade científica e financeira da SMS, tendo a UMinho sido seu membro fundador e decidido integrar nela a Casa de Sarmento. Em 2016, face ao fim do projeto da Fundação Martins Sarmento, a UMinho, a SMS e a CMG decidiram retomar a iniciativa, agora no formato de uma unidade diferenciada.

Quais são os seus principais objetivos?
Os principais objetivos da Casa de Sarmento mantêm-se desde 2002. Em primeiro lugar, fortalecer a ligação entre a Universidade e Guimarães, por via da promoção da cooperação cultural com a comunidade vimaranense. Em segundo lugar, apoiar o desenvolvimento da missão científica e cultural da SMS, nomeadamente no tratamento, catalogação, digitalização e divulgação do seu acervo bibliográfico, documental e museológico e também na sua valorização, através do envolvimento em projetos de investigação, por exemplo, no âmbito de cursos de mestrado e de doutoramento. Um outro objetivo é a criação de um Repositório Genealógico Nacional [RGN], uma base de dados central que reúne a informação dos registos paroquiais de batizados, casamentos e óbitos, organizados sistematicamente a partir da segunda metade do século XVI. Para além dos objetivos científicos, o RGN permite ainda responder ao interesse de qualquer cidadão que pretenda conhecer as suas origens.
 
Como descreveria o espaço e espólio desta instituição, para quem ainda não o visitou?
A Casa de Sarmento está instalada no primeiro piso de um palacete vimaranense, situado no Largo Martins Sarmento, que pertenceu ao ilustre arqueólogo Francisco Martins Sarmento. Está, neste momento, a ser desenvolvido um projeto de arquitetura para reabilitar a totalidade do edifício e permitir a construção das suas instalações definitivas. A Casa de Sarmento conta com duas salas de trabalho, um laboratório de digitalização e um espaço de arquivo. O laboratório de digitalização está equipado com um digitalizador I2S Openbook, capaz de digitalizar documentos com dimensões A2, uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento do projeto. O espaço de arquivo acolhe também importantes arquivos externos, que estão a ser tratados e catalogados, designadamente o arquivo da Casa do Costeado e o espólio da Bacia Hidrográfica do Ave e do Cávado, pertencente à Agência Portuguesa do Ambiente.
 
Que equipa tem?
Atualmente, a equipa da Casa de Sarmento é composta por quatro pessoas: o diretor, dois técnicos superiores (Informática e História) e uma funcionária administrativa. Conta ainda, ao abrigo do protocolo estabelecido com a Agência Portuguesa do Ambiente, com uma técnica superior com formação em arquivística.
 
Que balanço faz do percurso desta unidade até ao momento? 
Embora tenha sido formalmente criada em 2017, só iniciou realmente a sua atividade em maio de 2018, o que corresponde a pouco mais de um semestre. Neste período, focou-se, sobretudo, em criar as condições para cumprir os seus principais objetivos, isto é, a continuação do processo de digitalização das coleções da SMS e o desenvolvimento de uma página web que facilite ao público a consulta dessas coleções.
 
Que eventos destaca?
O principal evento promovido em 2018 foi o encontro científico “A Gripe Espanhola de 1918”, em outubro, em que foram apresentadas as mais recentes investigações sobre esta pandemia que dizimou mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo e que deixou também marcas indeléveis no nosso país.
 
Como avalia a recetividade do público?
A principal missão da Casa de Sarmento é facilitar o acesso público, através da Internet, a conteúdos culturais de difícil acesso ou acesso limitado. Podemos avaliar a recetividade do público através do anterior site, que continua ativo e que, apesar de utilizar tecnologia hoje já desatualizada, tem permanecido uma importante referência neste domínio.
 
Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
O principal projeto é o desenvolvimento da página web, que foi e continuará a ser a principal “montra” da atividade desta unidade. Neste momento já se encontra em fase de teste e espera-se que seja divulgada publicamente no segundo trimestre deste ano. Estão também a ser promovidos contactos com diversos municípios do Baixo e Alto Minho, no sentido de alargar a cobertura do RGN aos seus registos de batizados, casamentos e óbitos específicos. Com o mesmo objetivo foi já estabelecido um protocolo com a Misericórdia das Velas, da ilha de S. Jorge, nos Açores. Outro grande projeto, para o qual será necessário um financiamento especial que se espera venha a ser conseguido por subscrição pública, é o restauro e divulgação da Planta de Guimarães. Esta planta do século XVI, a primeira representação que se conhece da cidade, faz atualmente parte do espólio da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com a qual estão a ser estabelecidos contatos.
 
Em que medida projetos como o da Casa de Sarmento contribuem para a missão da Universidade?
A UMinho tem uma importante presença nos seus dois polos principais, Braga e Guimarães, e não tinha, até 2002, nenhuma unidade cultural sedeada nesta cidade, embora tivesse várias sedeadas em Braga. Assim, a criação da Casa de Sarmento veio minimizar esse desequilíbrio e repor alguma justiça no investimento cultural da Universidade. Por outro lado, veio reforçar a articulação da UMinho com uma das principais instituições culturais de Guimarães, a SMS, com a qual, até então, existindo embora inúmeros contactos, não havia uma relação formal. Permitiu também fortalecer a ligação com a CMG, um objetivo estratégico desde o início da presença da Universidade em Guimarães.
 
Quer deixar alguma mensagem final?
A Casa de Sarmento parte para esta sua “segunda vida” mais forte, mais autónoma e, apesar das atuais limitações, mais bem equipada, humana e materialmente. Tem na sua génese um importantíssimo espólio cultural cuja preservação e divulgação é um imperativo de bem público. Por tudo isso, não pode deixar de ser bem sucedida.