Centro de Química vive a hora dos desafios e das oportunidades

18-02-2019 | Nuno Passos | Fotos: CQUM

A equipa do Centro de Química da UMinho (Carlos Jorge Silva é o segundo da 1ª fila)

O CQ situa-se no edifício da Escola de Ciências da UMinho, no campus de Gualtar, em Braga

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Entrevista com Carlos Jorge Silva, diretor do Centro de Química, iniciando o ciclo de conversas com responsáveis dos centros de investigação da UMinho.




Centro de Química (CQ) surgiu em 1976. Com que objetivo?
A primeira unidade de investigação da UMinho, criada em 1976, o Centro de Química Pura e Aplicada (CQPA), agregava investigadores das áreas da química, física e engenharia, e estava organizado com três linhas: Síntese Orgânica, Física Molecular e Tecnologia Química. Os laboratórios, no campus da Avenida João XXI, em Braga, funcionaram entre 1978 e 1993 com a criação do CQPA, financiado pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT). Um pequeno grupo de investigadores, na altura recém-doutorados em Inglaterra das áreas da Química, da Física e da Engenharia Química, colocaram em marcha infraestruturas e equipamento que permitiram iniciar na UMinho a árdua tarefa de investigar.
 
O que recordam dos primeiros tempos?
Em 1991, a JNICT lançou o “Programa Ciência”, atribuindo financiamento aos centros e institutos de investigação do país, que permitiram a aquisição de equipamento de grande porte, fundamental para uma investigação independente e de qualidade. Os investigadores da Química, Biologia e Engenharia Biológica criaram o Instituto de Biotecnologia e Química Fina (IBQF), que desenvolveu atividades entre 1994 e 2000. O Centro de Química tal como hoje o conhecemos surgiu com o virar do século, aprovado e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). A transferência para o edifício da Escola de Ciências, no campus de Gualtar, em 1994, representou um enorme salto qualitativo e quantitativo na nossa investigação.
 
Como descreveria o espaço e as infraestruturas do CQ, para quem ainda não o visitou?
As instalações, recentemente renovadas, ocupam uma área total de cerca de 3000m2, incluindo laboratórios de investigação, gabinetes, auditório, biblioteca e sala de reuniões e armazéns. Existe equipamento de análise de médio e grande porte, como um espetrómetro de ressonância magnética nuclear (integrado na Rede Nacional de RMN) e sistemas avançados de análise cromatográfica. Estes equipamentos são utilizados por investigadores e alunos do CQ e da UMinho e também por entidades exteriores.
 
Que equipa tem?
A equipa de investigadores é construída por 24 docentes do Departamento de Química (DQ) e três investigadores doutorados contratados. A atividade de investigação está alicerçada nos atuais 24 alunos de doutoramento e nas dezenas alunos de mestrado. Estes projetos desenvolvem-se sob a orientação de docentes e investigadores do DQ e algumas colaborações com docentes e investigadores de outros centros de investigação da UMinho e de entidades externas. O CQ conta ainda com uma técnica superior dedicada à operação do equipamento de RMN e bolseiros associados a projetos financiados pela FCT. Assiste-se, em simultâneo, à redução do número de docentes, por via de aposentação, e ao aumento do número de investigadores doutorados contratados no âmbito do Concurso de Estímulo do Emprego Científico e de projetos de investigação financiados.
 
Que balanço faz do percurso desta unidade até ao momento? 
O CQ registou entre 1995 e 2013 um crescimento da sua produtividade e dos recursos humanos, tendo atingido o nível de Excelência, conforme a classificação da FCT. Os resultados da avaliação do CQ em 2013 traduziram uma correção da sua classificação, o que provocou uma súbita e pronunciada redução do orçamento. Esta contrariedade provocou uma forte perda de dinamismo resultante da diminuição dos recursos humanos e financeiros. O empenho dos investigadores possibilitou amortecer os impactos e gradualmente inverteu-se essa tendência. No ano de 2017, os seus investigadores assumiram a coordenação de um projeto de investigação financiado pelo programa INTERREG (Res2VaLHUM), com o orçamento de dois milhões de euros. O CQ participa também na Rede Nacional de Ressonância Magnética Nuclear (sob a designação PINFRA). Desde 2018, os investigadores do CQ coordenam ou participam em cerca de uma dezena de projetos de investigação financiados pela FCT, que se vão prolongar até 2021. Não se pode deixar de relevar a extrema importância do financiamento pela FCT através dos Programas Estruturais (UID/QUI/00686) desde 2013.
 
Que eventos destaca?
Ao longo da sua existência, o CQ envolveu-se na organização de eventos científicos dirigidos à comunidade científica na área da química. O primeiro evento, o 1º Encontro Nacional sobre a Origem da Vida (ENOVAR-83), ocorreu em 1983, reunindo cerca de 400 cientistas e investigadores de todo o mundo. No 23º Simpósio Europeu de Péptidos, em 1994, participaram cerca de 1000 participantes de 36 países. A estes eventos acresceu-se a organização de encontros anuais da Sociedade Portuguesa de Química (SPQ): o 8º Encontro (1985); o 16º Encontro (1998) e o 22º Encontro (2011), nos 100 anos da Química em Portugal. Também houve encontros das várias divisões da SPQ, como o 1º Encontro Nacional da Química Orgânica (1995), o 5º Encontro Nacional da Divisão de Ensino e Divulgação da Química (2007) e 8º Encontro Internacional do Grupo Português de Carbohidratos (2009). No âmbito da Sociedade Portuguesa de Eletroquímica foi organizado o 9º Encontro Nacional (1997) e o 20º Encontro Nacional (2015). Desde 2010 têm ocorrido, com periodicidade bienal, o Encontro em Técnicas de Caracterização e Análise Química e o Simpósio em Química Medicinal.
 
Como avalia a recetividade do público?
Os nossos docentes/investigadores participam em projetos de divulgação que transcendem o CQ ou até a academia. As atividades são destinadas aos alunos dos 2º e 3º ciclos e do secundário e também ao restante público. Destacam-se as Olimpíadas da Química, a Semana Aberta, o QSI - Química Sob Investigação, a Ciência Viva nas Férias e a Noite Europeia dos Investigadores, que ocorrem anualmente. Atividades como o Vamos Kimikar ocorrem frequentemente ao longo do ano, acolhendo alunos do secundário e proporcionando uma visita aos laboratórios de investigação e conversas com investigadores. Neste momento, cartazes itinerantes das exposições Chemistry Wold Chemistry Anywhere, sobre tópicos de Química, são expostos nas escolas do país. Os docentes do CQ também se deslocam frequentemente às escolas, para apresentarem palestras e dinamizarem ações de divulgação. A interação com as empresas decorreu no âmbito do projeto iSci e permitiu estabelecer parcerias com empresas da região, como por exemplo a Bosch e a Fibromade.
 
Quais são os principais projetos para os próximos tempos?
Em reação às contrariedades sentidas em 2013, o CQ promoveu a reorientação das dinâmicas de investigação e a afetação dos recursos humanos. Redefiniram-se duas áreas de investigação - a Síntese de Moléculas Bioativas e o Desenvolvimento de Materiais Funcionais -, cuja intervenção foi estruturada em três tópicos: Química Sustentável: Novos Métodos e Materiais; Química Biomolecular Aplicada; e Heterociclos para os Desafios Societários. A crescente interação com o tecido industrial permitiu valorizar o capital humano, orientando a investigação para os desafios da tecnologia. Impõe-se um plano estratégico para modernizar e expandir o equipamento disponível, que suporte a formação avançada e a infraestrutura pedagógica. Conjugando os recursos financeiros aportados pelos projetos de investigação e o reforço das competências e o know-how dos recursos humanos, espera-se responder a esses desafios.
 
Em que medida projetos como o CQ contribuem para a missão da Universidade?
Os nossos investigadores colaboram com parceiros nacionais e internacionais, na interface da química em áreas da biologia e medicina, física, ciência dos materiais e nanotecnologia. Os projetos de investigação com a indústria têm alavancado a transferência de conhecimento e contribuem para a captação de financiamentos, o enriquecimento em capital humano e a aquisição de novas competências. O CQ dá apoio à formação graduada e pós-graduada, com a inclusão de alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento nas equipas de investigação e nos seus projetos em curso. Disto beneficiam os projetos de ensino do Departamento de Química, nomeadamente as licenciaturas em Química e em Bioquímica, os mestrados em Técnicas de Caracterização e Análise Química, em Química Medicinal e em Bioquímica Aplicada, o doutoramento em Química Aplicada e o programa doutoral em Química.
 
Quer deixar alguma mensagem final?
Esta é hora dos desafios e das oportunidades! Acredita-se que o programa de Contratos de Estímulo ao Emprego Científico, desenvolvido sob iniciativa da FCT, contribuirá para a renovação e o reforço dos recursos humanos. Faltam reunir as condições para se renovar e reforçar as infraestruturas essenciais à investigação e melhorar a gestão do CQ. Espera-se que nos próximos três anos o Centro de Química se torne mais jovem, mais dinâmico e com uma maior contribuição para o potencial de I&D da Universidade do Minho.